Humanização de pets: até que ponto é saudável?

Humanização de pets - Pexels

A relação entre humanos e animais de estimação nunca foi tão próxima. Em um país que já ultrapassa a marca de 167 milhões de pets, o carinho pelos bichinhos se transformou em estilo de vida e em um mercado que movimenta bilhões no Brasil. Mas até que ponto essa proximidade é saudável? A “humanização” dos animais de estimação, prática cada vez mais comum, pode trazer consequências negativas tanto para os pets quanto para seus tutores.

O número de animais de estimação no Brasil é expressivo. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), o país ocupa a terceira posição mundial em população de pets e também em faturamento no setor — ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China.

De acordo com o estudo, em 2024, população pet no Brasil já alcançava a marca de 167,6 milhões de animais. O número já era alto pré-pandemia, entretanto, com o isolamento social imposto pelo período, cresceu ainda mais. De acordo com dados coletados pela União Internacional Protetora dos Animais, só no primeiro trimestre de 2020, a adoção de animais cresceu 400%. Para a organização, o isolamento social trouxe uma sensação de solidão coletiva, e algumas pessoas encontraram conforto na adoção de um animal, justificando o aumento no índice nacional. 

Afeto faz bem, mas com equilíbrio

O vínculo entre humanos e pets pode ser altamente benéfico. A psicóloga Lorrani Leite explica que, em uma sociedade marcada pelo individualismo e por núcleos familiares cada vez menores, os animais desempenham um papel emocional importante. “A companhia de um animal auxilia no alívio de ansiedade e estresse e no aumento dos hormônios do humor. Além disso, os animais são uma boa influência para que o tutor pratique exercícios físicos, já que parte de sua rotina costuma incluir caminhadas diárias, de pelo menos 30 minutos.”

Entretanto, quando esse vínculo se transforma em dependência emocional excessiva ou quando os animais são tratados como seres humanos, surgem os problemas. Esse fenômeno, conhecido como “humanização” dos pets, pode impactar negativamente o bem-estar dos animais — e também de seus tutores.

Mercado bilionário

Esse tipo de relação impulsiona o setor pet no Brasil. Segundo dados da Abinpet e do Instituto Pet Brasil, o faturamento em 2023 chegou a R$ 68 bilhões. O país tem mais de 285 mil empresas voltadas para o segmento, incluindo clínicas veterinárias, hotéis para animais, creches, serviços de dog walker, terapias alternativas, planos de saúde, e uma variedade crescente de acessórios e alimentos personalizados.

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Humanização de pets
(Foto: Pexels)

‘Humanização’ pode causar problemas comportamentais

A “humanização” é o ato de atribuir características humanas aos animais, como tratá-los como “bebês”, vestir roupas, levar a eventos sociais e mimá-los com acessórios em excesso. Segundo a veterinária comportamentalista Laura Paes Leme, embora esse cuidado possa ser positivo ao incentivar uma atenção maior à saúde dos animais, os excessos têm provocado um aumento de transtornos comportamentais.

“Os principais problemas que temos observado são ansiedade de separação, agressividade por posse, dificuldade de socialização e até distúrbios alimentares”, explica. Ela ainda alerta que a “humanização” pode também afetar os tutores. “Muitos desenvolvem dependência emocional, o que dificulta a imposição de limites e pode levar ao consumo compulsivo de produtos desnecessários ou até prejudiciais ao pet”, analisa.

Laura explica quais os erros mais comuns cometidos pelos tutores, principalmente entre os mais jovens. “Tratar os animais como ‘bebês humanos’, não colocar regras e limites, socialização inadequada, priorizar estética a saúde, não suprir as necessidades básicas da espécie, alimentação inadequada, falta de estímulo físico e mental, além de excesso de mimo e dependência emocional, são os principais.”

Ainda conforme explica, para além do tratamento na vida privada, os animais também têm tido “funções sociais”, incluindo a presença em eventos pet friendly e a exposição na internet, como perfis em redes sociais. “Os pets podem perceber essa movimentação, principalmente a participação nos eventos pet friendly e excesso de acessórios. Alguns cães são mais tolerantes e outros ficam extremamente estressados e desconfortáveis, é importante estar sempre atento aos sinais que seu pet dá sobre seu bem-estar nas diversas situações”, alerta Laura.

Por outro lado, parte da nova geração, na avaliação da veterinária, tem sido muito cuidadosa e atenta em relação à saúde dos bichinhos. “A maior preocupação com a saúde dos pets é o que seria o benefício dessa “humanização”. Os tutores acabam realizando visitas ao veterinário com maior frequência, mantendo a vacinação e controle de endo e ectoparasitas em dia. Mas o mais importante é lembrar que a saúde mental dos pets também importa e a melhor forma de mantê-la saudável é respeitar as necessidades da espécie.”

*Estagiária sob a supervisão da editora Carolina Leonel 

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