Cantora israelense disputa a final da competição de música pop em meio a manifestações pró-palestinos. Organizadores são criticados por manter país no evento apesar de ofensiva militar em Gaza.A fase decisiva da competição de música pop Festival Eurovisão da Canção ( Eurovision Song Contest, ESC) acirrou, pelo segundo ano seguido, protestos contra a participação de Israel no evento. Nesta quinta-feira (15/05), a cantora israelense Yuval Raphael, de 24 anos, recebeu votos suficientes do público e vai disputar a final do concurso, que acontece no próximo sábado, com a canção New Day Will Rise.
Sobrevivente do ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, a cantora é cotada por casas de apostas como favorita para vencer a disputa, que tem enorme apelo no continente europeu. No passado, a competição já alavancou nomes como Céline Dion, ABBA e, mais recentemente, a banda italiana Maneskin.
Na edição de 2024, atingiu 160 milhões de telespectadores e foi distribuída para quase 40 países. Por ser membro da União Europeia de Radiodifusão (EBU), Israel compete no Eurovisão há mais de 50 anos e venceu quatro vezes.
Na noite de quarta-feira, cerca de 200 pessoas, muitas delas envoltas em bandeiras palestinas, protestaram no centro da cidade suíça de Basileia, que sedia o evento, exigindo o fim da ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza e a expulsão do país da competição. No dia seguinte, manifestantes tentaram interromper um ensaio de Raphael com cartazes, apitos e gritos de ordem. Vídeos que circularam nas redes sociais mostram uma grande bandeira palestina sendo estendida no meio da multidão.
Segundo a emissora suíça SRG SSR, “a equipe de segurança foi capaz de identificar rapidamente os envolvidos e escoltá-los para fora do salão”. Apesar dos protestos, a apresentação que levou a cantora israelense à final da competição transcorreu sem interrupções.
Rússia banida desde 2022
Mais de 70 ex-participantes do concurso e artistas também endossaram os apelos para a exclusão de Israel do evento, que funciona como uma competição de música entre países e tem o slogan “unidos pela música”. Entre eles, o cantor suíço Nemo, que levou a competição para a Suíça ao vencê-la no ano passado, disse ao jornal HuffPost UK que “as ações de Israel estão fundamentalmente em desacordo com os valores que o Eurovisão afirma defender: paz, unidade e respeito pelos direitos humanos”.
Os manifestantes criticam a manutenção de Israel no evento em contraposição à expulsão da Rússia, que foi banida do Eurovisão em 2022 após a invasão da Ucrânia. Naquele ano, a banda ucraniana Kalush Orchestra venceu o concurso.
“Deveria ser uma ocasião feliz o fato de o Eurovisão estar finalmente na Suíça, mas não é”, disse Lea Kobler, de Zurique. “Como podemos excluir a Rússia por direito, mas ainda estamos dando as boas-vindas a Israel?”
Algumas emissoras nacionais que financiam o Eurovisão, como as da Espanha, Irlanda e Islândia, também pediram uma discussão mais aprofundada sobre a participação dos israelenses no concurso.
Os protestos deste ano, porém, reúnem menos adeptos do que no ano passado, quando grandes multidões tomaram as ruas de Malmo, na Suécia, pedindo a retirada de Israel da competição. O evento aconteceu sob forte aparato de segurança para evitar a interrupção do concurso. Na ocasião, a concorrente israelense Eden Golan foi vaiada nas apresentações ao vivo.
Organizadores defendem participação de Israel
Para evitar incidentes semelhantes neste ano, a União Europeia de Radiodifusão (EBU) exigiu que artistas, membros de delegações oficiais e jornalistas assinassem um código de conduta para garantir uma interação respeitosa. Um dos pontos centrais desse código é a proibição de qualquer declaração política.
“O Eurovision respeita a liberdade de expressão como um direito fundamental. Os participantes mantêm seu direito à liberdade de expressão fora da competição”, afirma o documento.
Em resposta às críticas, a EBU também ressaltou que Israel é representada pela emissora pública KAN, não pelo governo israelense. A organizadora afirmou que “está comprometida com um ambiente neutro, seguro, inclusivo e respeitoso”.
Sobre a comparação do caso israelense ao russo, o diretor do Eurovision, Martin Green, defendeu que não é função da EBU comparar conflitos. Segundo ele, as emissoras russas foram excluídas por não conformidade com os princípios das emissoras públicas.
A emissora israelense KAN queixou-se à polícia suíça sobre um suposto gesto de ameaça feito a Raphael por um manifestante pró-palestino durante o desfile de abertura do Eurovisão no último domingo. Já o ministro alemão da Cultura, Wolfram Weimer, disse ao parlamento que “os pedidos de boicote, as ameaças e também os ataques verbais à cantora israelense, que só sobreviveu ao assassinato em massa do Hamas porque se escondeu sob cadáveres, são um escândalo intolerável”.
Uma manifestação em apoio a Raphael e contra o antissemitismo também foi realizada no centro da Basileia na quinta-feira. À BBC, a cantora disse não se importar com possíveis manifestações contrárias. “Estamos aqui para cantar e eu vou cantar com todo o meu coração para todos”, disse ela.
O ataque terrorista realizado por integrantes do grupo palestino Hamas em 7 de outubro de 2023 deixaram 1.200 mortos em Israel, e cerca de 250 foram feitos reféns em Gaza. Mais de 52.800 pessoas em Gaza foram mortas na ofensiva de retaliação de Israel, de acordo com o Ministério da Saúde do território, controlado pelo Hamas.
gq/cn (AP, AFP, ots)
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