Fiagros têm pilares sólidos para crescer em 2025, diz especialista

Jeff Patzlaff, Planejador Financeiro e Especialista em Investimentos / Foto: Divulgação

Que o Brasil é um país historicamente dependente do agronegócio, não é uma novidade para o mercado financeiro, que também se apoia no setor quando outros segmentos não estão tão favoráveis. Por isso, este ano, um dos ativos que vem despontando como uma opção ainda mais viável e segura aos investidores são os Fiagros (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais)..

Somente em janeiro de 2025, a captação desses ativos alcançou R$ 1 bilhão, segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), após registrar o crescimento de R$ 33 bilhões em dois anos, de acordo com dados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). 

Enquanto os ativos de maior risco, como as ações da Bolsa brasileira, sofrem com o momento extremamente volátil ao redor do mundo, na esteira da guerra comercial entre os EUA e a China, os Fiagros têm alguns pilares para se manter de pé em meio à tempestade. 

Alguns desses pilares seriam, conforme explicou Jeff Patzlaff, planejador financeiro f. especialista em investimentos, são: a resiliência do agronegócio brasileiro, a Selic (taxa básica de juros) elevada e a diversificação que esses ativos oferecem.

“Muitos investidores estão buscando alternativas fora do eixo tradicional dos fundos imobiliários urbanos ou de crédito bancário, e o setor agro se apresenta como uma oportunidade de exposição a ativos de base real, vinculados à produção, logística e comercialização de alimentos, fibras e energia”, disse o especialista em entrevista ao BPMoney.

Enquanto a guerra comercial se mantiver entre China e EUA, e se mais Barreiras protecionistas forem impostas no território norte-americano, Patzlaff alertou que os Fiagros tendem a sofrer com as prováveis perdas do agronegócio no comércio e os efeitos disso nos ativos ligados mais diretamente ao setor, como os CRAs (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), nos quais essa classe de fundos investem.

“Gestores de Fiagros devem adotar uma abordagem ativa e criteriosa na seleção dos ativos, focando principalmente em diversificação, análise de crédito robusta e monitoramento contínuo da carteira”, recomendou o especialista.

O planejador financeiro, que em seus 20 anos de experiência no mercado acumulou certificados como o CEA, CPA-20, SUSEP, e atuou em instituições como o Banco Santander e Itaú Unibanco no suporte aos clientes de alta renda, relatou ao BPMoney que as expectativas para os Fiagros este ano são positivas, com tendência de avanço.

“Em comparação com outros tipos de fundos, os Fiagros devem continuar atraindo fluxo de capital por oferecer rendimentos mensais recorrentes, muitos deles acima da média dos fundos imobiliários tradicionais, especialmente aqueles com carteira de CRAs indexados ao CDI”, afirmou.

Confira a entrevista na íntegra

O que tem motivado os investidores a apostarem tanto nos Fiagros, mesmo com um cenário global mais volátil?

Em primeiro lugar, o agronegócio brasileiro tem se consolidado como um dos setores mais resilientes da economia nacional, representando cerca de 23,2% do PIB em 2024, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP). 

Esse desempenho sólido dá segurança aos investidores quanto à geração de receita dos Fiagros, que aplicam em ativos ligados às cadeias agroindustriais, como CRAs [Certificados de Recebíveis do Agronegócio], imóveis rurais e empresas do setor. 

Além disso, o aumento da Selic nos últimos anos contribuiu para tornar os fundos com lastro em ativos de renda fixa mais atrativos, principalmente aqueles com distribuição periódica de rendimentos isentos de Imposto de Renda para pessoas físicas, como é o caso dos Fiagros. 

Outro fator relevante é o apelo da diversificação geográfica e setorial. Muitos investidores estão buscando alternativas fora do eixo tradicional dos fundos imobiliários urbanos ou de crédito bancário, e o setor agro se apresenta como uma oportunidade de exposição a ativos de base real, vinculados à produção, logística e comercialização de alimentos, fibras e energia.

O setor do agro brasileiro depende muito das exportações, considerando um ambiente mais protecionista com Donald Trump, como isso pode impactar os ativos do agronegócio e, consequentemente, os Fiagros?

O aumento do protecionismo e a imposição de barreiras comerciais podem afetar significativamente as exportações do agronegócio brasileiro, que têm papel fundamental na balança comercial do país. 

O Brasil é líder global na exportação de produtos como soja, milho, carne bovina e açúcar, e depende de mercados externos para manter a lucratividade e escala de produção. 

Caso as tarifas se mantenham, os produtores podem enfrentar redução de receitas, aumento dos estoques internos e queda nos preços dos produtos, esse cenário pode impactar diretamente os ativos ligados ao setor, especialmente os títulos de crédito como CRAs que compõem grande parte das carteiras dos Fiagros, elevando o risco de inadimplência ou renegociação. 

No curto prazo, o impacto pode ser mitigado por contratos já firmados e por novos mercados compradores, como China, Oriente Médio e países da Ásia, mas no médio e longo prazo, uma mudança significativa no comércio internacional exigirá uma readequação da cadeia produtiva.

Quais estratégias os gestores desses fundos devem adotar para se preparar para um possível cenário de choques externos e crises de demanda?

Gestores de Fiagros devem adotar uma abordagem ativa e criteriosa na seleção dos ativos, focando principalmente em diversificação, análise de crédito robusta e monitoramento contínuo da carteira. 

A diversificação geográfica e setorial para evitar concentração excessiva em uma única região, cultura ou cadeia produtiva, buscando equilíbrio entre diferentes segmentos do agronegócio é fundamental bem como a avaliação rigorosa da saúde financeira dos emissores, aplicando critérios conservadores para aprovação de crédito, privilegiando empresas com histórico sólido e boa governança. 

Uma saída é fazer hedge cambial e de preços. Em fundos expostos a exportações, mecanismos de proteção podem ser utilizados para mitigar variações de câmbio ou commodities. Manter uma parte da carteira com prazos mais curtos e ativos de maior liquidez para enfrentar momentos de estresse de mercado também é uma boa saída. 

O uso de garantias reais é recomendado nesse cenário, as operações lastreadas em imóveis rurais, máquinas ou recebíveis com garantias sólidas oferecem maior segurança em caso de inadimplência.

Além disso, visando o momento positivo vivido no agronegócio, qual a tendência dos Fiagros em comparação com outros fundos no decorrer do ano?

A tendência para os Fiagros em 2025 é de crescimento, impulsionado pela combinação de fundamentos sólidos do setor agro e pela busca dos investidores por rendimentos atrativos e isenção fiscal. 

Em comparação com outros tipos de fundos, os Fiagros devem continuar atraindo fluxo de capital por oferecer rendimentos mensais recorrentes, muitos deles acima da média dos fundos imobiliários tradicionais, especialmente aqueles com carteira de CRAs indexados ao CDI [Certificado de Depósito Interbancário]. 

Além de exposição ao agronegócio sem a necessidade de operar diretamente commodities ou ações do setor, oferecendo uma alternativa mais simples e acessível, valorização patrimonial em alguns casos, principalmente para Fiagros com imóveis rurais produtivos ou bem localizados. 

Apesar das vantagens, é importante lembrar que os Fiagros ainda são uma classe relativamente nova (criada em 2021), e que o histórico de performance é limitado, então, o acompanhamento próximo da gestão e dos ativos investidos continua essencial.

Recentemente, a CVM publicou um ofício ampliando a proteção aos investidores na distribuição de rendimentos do Fiagros. Como isso tem sido recebido e quais efeitos pode ter no segmento?

O Ofício reforça a necessidade de que os Fiagros observem critérios prudenciais na distribuição de rendimentos, especialmente quanto ao lucro contábil e caixa disponível, essa medida tem como objetivo evitar práticas que possam induzir o investidor ao erro, como a distribuição de rendimentos fictícios ou antecipações não sustentadas financeiramente. 

A recepção do mercado foi, em geral, positiva, pois a medida aumenta a transparência e confiança dos investidores, contribuindo para a maturidade do setor, gestores e administradores agora precisam adotar controles ainda mais rigorosos sobre a apuração de resultados e provisionamento, o que pode levar a uma maior padronização e profissionalização dos fundos. 

Os efeitos esperados incluem, maior credibilidade dos rendimentos distribuídos, redução de práticas abusivas ou agressivas na divulgação de retornos, e o incentivo à adoção de boas práticas contábeis e de governança.

Para o investidor que ainda está em dúvida sobre aplicar nesses fundos, quais pontos ele deve observar no momento de escolher um fundo, especialmente agora?

Dentro da diversificação da carteira e composição total dos investimentos o investidor deve sempre, sem alta concentração em um único emissor e setor, verificar se o fundo investe majoritariamente em quais CRAs, imóveis rurais, cotas de outros fundos ou ações de empresas do agro, a composição define o perfil de risco e retorno. 

Analisar a qualidade da gestão, avaliando o histórico, a reputação e a experiência do gestor e do administrador, relatórios gerenciais consistentes e estratégias claras são bons sinais. 

O rendimento histórico e a política de distribuição também é algo a se observar, avaliar se os rendimentos são estáveis e sustentáveis, e se há relação com o resultado contábil do fundo. 

A liquidez das cotas é importante, consultando o volume negociado na B3 e o preço de mercado em relação ao valor patrimonial, entender os riscos de crédito, mercado, clima e regulamentação que podem afetar o setor agro e, por consequência, os ativos do fundo. Não menos importante confirmar se o fundo atende aos critérios de isenção de IR para pessoa física.

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