
A diretora brasileira Marianna Brennand será homenageada no Festival de Cannes 2025 com o prêmio Emerging Talent Award, uma importante distinção internacional voltada a novas vozes femininas no cinema. O anúncio foi feito nesta quarta-feira, dia 9 de abril, pela organização do programa Women In Motion, uma iniciativa da Kering em parceria com o festival francês, que neste ano celebra uma década de atuação na valorização de mulheres na sétima arte.
Marianna Brennand foi escolhida pela cineasta malaia Amanda Nell Eu (Tiger Stripes), vencedora do prêmio em 2024, conforme a tradição do projeto: cada ganhadora indica sua sucessora. Já a premiação ocorre durante o jantar oficial do Women In Motion em Cannes, entre os dias 13 e 24 de maio, coincidindo com a estreia de Manas, seu primeiro longa de ficção, nos cinemas brasileiros em 15 de maio de 2025.
Vencedor do Prêmio de Direção na mostra independente Giornate degli Autori (Jornada do Autor), durante o Festival de Veneza 2024, Manas é um retrato potente e sensível da violência sexual e da exploração enfrentada por meninas e mulheres na Ilha de Marajó, no estado do Pará. Fruto de uma pesquisa de dez anos, o projeto começou como um documentário, mas encontrou sua linguagem definitiva na ficção, com narrativa profunda e atuações impactantes de jovens atrizes que dão vida a uma realidade muitas vezes silenciada.
“Manas existe porque, para mim, é imperativo dar voz a mulheres e meninas que, de outra forma, não seriam ouvidas”, declarou Marianna, em nota oficial. “Reconheço a importância e a beleza de fazer parte da comunidade Women In Motion e gostaria de honrar as manas que compartilharam suas histórias corajosamente conosco. (…) Espero que, através de Manas, as mulheres se sintam vistas, ouvidas, respeitadas e encorajadas a quebrar seus silêncios. A todas as manas do mundo, vamos nos manifestar”, completou a diretora.
A cineasta Amanda Nell Eu justificou sua escolha com entusiasmo: “Manas foi uma história dolorosa e cativante, com cinematografia deslumbrante e atuações fortes de suas jovens protagonistas. O filme me encheu de raiva, tristeza e amor por elas. Parabenizo Marianna por dar voz a esse tema tão urgente com tanta coragem e beleza”.
Com a premiação, Brennand se junta a um seleto grupo de cineastas que receberam o apoio do Women In Motion para desenvolver seus segundos longas, entre elas Carla Simón, vencedora do Urso de Ouro em Berlim com Alcarràs (2022), e Maura Delpero, que conquistou o Grande Prêmio do Júri em Veneza com Vermiglio (2024). O prêmio inclui ainda uma bolsa de 50 mil euros para o desenvolvimento do próximo projeto da diretora.

No últimos dez anos, as outros cineastas debutantes a ganharem o prêmio foram Leyla Bouzid (Tunísia), Gaya Jiji (Síria), Ida Panahandeh (Irã), Maysaloun Hamoud (Palestina), Eva Trobisch (Alemanha), Shannon Murphy (Austrália), Ninja Thyberg (Suécia) e Carmen Jaquier (Suíça). Esta é a primeira vez que uma cineasta latina-americana é contemplada.
Nascida e criada entre Recife, São Paulo e Rio de Janeiro, Marianna Brennand é formada em Cinema pela University of California, Santa Barbara. Com uma trajetória marcada pelo engajamento social e pela sensibilidade estética, ela lançou anteriormente dois documentários: O Coco, A Roda, O Pneu e O Farol (2007) e Francisco Brennand (2012). Com esta honraria, a diretora brasileira ganha voz no cenário cinematográfico internacional e fortifica narrativas femininas ao redor do mundo.