Mortes no trecho da BR-040 em JF evidenciam riscos para ciclistas

ciclista na BR-040

ciclista na BR-40
Todos os três trágicos acidentes com ciclistas aconteceram entre os km 796 (acesso à Cidade Alta) e 790 (Expominas) – (Foto: Leonardo Costa)

Apenas nos cinco primeiros meses deste ano, três ciclistas perderam suas vidas por conta de acidentes registrados no trecho da BR-040 que corta Juiz de Fora. O número assusta, ainda mais porque em nenhum outro segmento da rodovia e da BR-267 sob responsabilidade da 5ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) houve óbitos ligados a bicicletas – entre a divisa com o Rio de Janeiro e o município de Congonhas, e de Bicas a Bom Jardim de Minas, respectivamente. As mortes relacionadas ao modal ainda triplicaram em relação a 2024, quando houve um falecimento na região, também na área do município. Todos os três trágicos acidentes de 2025 aconteceram entre os km 796 (acesso à Cidade Alta) e 790 (Expominas), mas a PRF considera só dois deles fatais em seus registros, porque a terceira vítima morreu a caminho do hospital.

Apesar de não haver dados oficiais, o policial rodoviário Junie Penna, responsável pela comunicação local da PRF, acredita que a maioria dos ciclistas vistos pela 040 está praticando atividade física, embora também haja uma parcela a usufruindo como via de transporte. Esportistas ouvidos pela Tribuna atribuem o crescente fluxo daqueles que pedalam na 040 à falta de ciclovias na cidade, mesmo com a ciclofaixa inaugurada recentemente na Via São Pedro e com a Área de Proteção ao Ciclismo de Competição (APCC) em sua extensão. Além disso, a 040 também dá acesso a várias trilhas, procuradas principalmente por adeptos de mountain bike (MTB).

“A falta de opção de ciclovia faz com que os ciclistas de speed (bike de asfalto) optem pela BR-040 para o treinamento. E é também um ponto de passagem para os mountain bikers acessarem as trilhas. Com isso, o fluxo de bike aumentou demais”, comenta o casal Carolina e Marcos Hallack, que faz assessoria esportiva. “Ambas as questões se completam: é uma via que permite o desenvolvimento de uma boa velocidade para quem é speedeiro, e é uma rodovia que dá acesso a várias trilhas de MTB na cidade”, reforça a presidente da União dos Ciclistas de Juiz de Fora e Região (UniCicli), Cida Oliveira.

Ela destaca que a APCC no final da Via São Pedro, onde não há circulação de veículos motorizados, é uma opção para os speedeiros. “Para a galera do MTB, são as nossas estradas rurais.” Carolina e Marcos concordam: “Hoje a melhor opção para os ciclistas que pedalam de bike de speed é na Via São Pedro fechada. Mas é um percurso, e precisa ser dividido com os atletas de corrida e caminhada. Para quem pedala de MTB, são as trilhas aos arredores da cidade.”

Embora a presidente da UniCicli considere a ciclofaixa da Via São Pedro como um avanço para a mobilidade urbana e, de fato, uma conquista, ela observa “a ocupação indevida de corredores e caminhantes que não respeitam a área destinada ao fluxo das bicicletas”. A principal diferença entre ciclovia e ciclofaixa está na separação física que a primeira tem do tráfego de carros, enquanto a segunda é apenas delimitada por uma faixa de sinalização, por meio de pintura no asfalto, por exemplo, compartilhando a pista com os veículos.

O casal Hallack também tece algumas críticas à ciclofaixa da Via São Pedro: “Ficou perigosa para os ciclistas. Os olhos de gato são grandes e com curto espaço entre eles, dificultando a mobilidade, caso precise sair da ciclofaixa. E também temos que dividi-la com caminhantes e corredores. Em épocas de chuvas, são criadas grandes poças. A intenção foi boa, mas, infelizmente, não funcionou para o treinamento de ciclismo.” Um boa opção, segundo eles, seria fazer uma ciclovia na Via São Pedro com boa sinalização e iluminação. “Algumas cidades optaram por fechar grandes vias durante a madrugada para o treinamento de ciclistas”, sugerem.

Sobre a incidência de acidentes com ciclistas na 040, o casal ressalta que não foi só o número de bikes que aumentou no trecho da rodovia entre as zonas Sul e Norte de Juiz de Fora, mas também o movimento de carros entre as entradas para a cidade. “Virou uma grande via de acesso a esses bairros e até mesmo a restaurantes. Nós mesmos usamos muito a BR-040 de carro como uma via para acessar as trilhas de corrida, bairros próximos ou a Zona Norte.”

Conforme a experiência profissional do PRF Junie, na maioria das vezes, quem pedala pela 040 acessa a estrada pelas saídas do Salvaterra, São Pedro ou Santa Cruz. “São questões sistêmicas, que vêm nos preocupando e que precisam ser tratadas com grupos (de pedal), órgãos de engenharia de trânsito, Executivo. A segurança desses ciclistas não envolve só uma solução da PRF.”

Relembre as mortes de ciclistas na BR-040

Apesar das duas mortes de ciclistas na BR-040 em Juiz de Fora neste ano e de uma vítima com lesões graves – que acabou indo a óbito depois – o número de acidentes envolvendo bicicletas tem se mantido estável na 5ª Delegacia da PRF na comparação entre 2024 e 2025. Nos cinco primeiros meses deste ano, houve cinco sinistros na área de sua responsabilidade. Já nos 12 meses do ano passado, houve 12 ocorrências.

O primeiro trágico acidente com ciclista neste ano no trecho da rodovia que corta a cidade aconteceu na manhã de 15 de fevereiro, no km 790 da BR-040, próximo ao Expominas. O morador de Juiz de Fora e militar do Exército Marcius Vinícius de Jesus, 53, foi atingido por um caminhão guincho na pista sentido Rio de Janeiro. Ele tinha o hábito de pedalar na rodovia e era triatleta. Em uma postagem de despedida nas redes sociais, a companheira dele disse que Marcius havia ido treinar, como sempre fazia aos sábados. Ele chegou a ser socorrido em estado grave pela equipe da Concer – concessionária que administra o trecho -, mas não resistiu e faleceu a caminho do hospital. Como o óbito não ocorreu no local do sinistro, não entrou para as estatísticas da PRF.

As outras duas ocorrências fatais aconteceram em maio. No dia 10, um ciclista, 24, morador de Juiz de Fora, morreu após ser atingido por um carro no km 796 da BR-040, sentido Rio de Janeiro, em frente ao Mirante e a poucos metros da base da Concer. Mesmo com socorro quase imediato, o jovem faleceu. Levantamento da PRF aponta que ele transitava pelo acostamento e teria tentado cruzar a pista para acessar a mão oposta, já que naquele local há correntes entre as defensas de concreto que dividem a estrada, a fim de facilitar o trânsito de ambulâncias.

Cinco dias depois, outro ciclista, 54, morreu após ser atingido por um carro na altura do km 791 da 040, também próximo ao Expominas. As equipes da Concer atestaram o óbito da vítima no local. A dinâmica do sinistro não foi informada.

PJF garante ciclovias às margens do Paraibuna e no centro histórico

Ainda sem previsão para o começo das obras, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) garantiu que, além da ciclofaixa da Via São Pedro, os projetos de requalificação do novo centro histórico com ciclovia e da orla do Rio Paraibuna – “com a criação da maior ciclovia da cidade” – , terão andamento em breve. “As iniciativas demonstram a preocupação com a integração entre os modais, ampliando os espaços para os pedestres, bicicletas e transporte coletivo.”

Sobre as críticas à ciclofaixa da Via São Pedro, que tem cerca de três quilômetros, a PJF assegura que a estrutura segue padrões estabelecidos pelo Contran, de acordo com projeto realizado por engenheiros, arquitetos e técnicos da Secretaria de Mobilidade Urbana. “Diante disso, é preciso destacar que há espaço para a realização de melhorias, privilegiando o diálogo com a população e o respeito às normas vigentes”, pondera. “Na BR-440 ainda foi inaugurado recentemente um espaço destinado para os ciclistas de competição, atendendo a uma demanda da comunidade”, complementa.

Dicas de segurança para ciclistas em estradas

A PRF divulgou dicas de segurança para quem costuma pedalar por rodovias. Transitar sem gastar com combustível e ainda fazer exercício físico é uma das vantagens sobre a modalidade apontada pela PRF, que alerta: “o trânsito é perigoso, principalmente nas rodovias, então tem que tomar alguns cuidados”. Entre eles está trafegar o mais à direita possível no acostamento ou na ciclofaixa, sempre no mesmo sentido dos outros veículos e usando capacete. “Se tiver em grupo, nada de ficar andando um ao lado do outro, mas em fila indiana.” À noite, a dica é usar roupa clara e, preferencialmente, refletiva.

Aos motoristas, a PRF orienta tomar cuidado com os ciclistas, principalmente mantendo a distância de, pelo menos, um metro e meio. Além disso, sempre que possível, o condutor deve reduzir a velocidade ao passar por bicicletas, sobretudo quando se tratar de grupos de pedal. A qualquer momento, a PRF pode ser acionada pelo 191. O policial rodoviário Junie Penna ressalta que as bicicletas estão sujeitas a praticamente todas as regras de trânsito a que os outros veículos estão. “Mas, pela natureza, o ciclista é mais vulnerável.” Quem pedala também possui deveres com relação às normas de tráfego e, portanto, não pode fazer retorno em locais proibidos e deve transitar em rodovias só pelo acostamento.

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