
Por conta da economia ainda muito aquecida e com a inflação ainda em patamar elevado, o Banco Central acaba precisando ser o “chato da festa” e elevar a taxa básica de juros, para conter as pressões inflacionárias.
A declaração foi dada pelo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, durante audiência pública nesta terça-feira (22) na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE).
A audiência foi convocada pelo presidente da CAE, Renan Calheiros (MDB-AL) para ouvir o presidente do BC sobre as diretrizes, a implementação e as perspectivas da política monetária brasileira.
As audiências regulares com o presidente do Banco Central estão previstas no Regimento Interno do Senado.
Pelo Regimento, o dirigente do BC deve comparecer a reuniões da CAE pelo menos quatro vezes ao ano. Desde que virou presidente, essa é a primeira vez que Galípolo comparece à comissão.
Na sua fala inicial, Gabriel Galípolo falou sobre a atuação do BC e do Copom para conter as pressões inflacionárias.
O presidente do BC destacou indicadores de desemprego, crédito, venda de veículos, da construção civil e de renda das famílias, entre outros.
“Quando a festa está ficando muito aquecida e o pessoal está subindo em cima da mesa, tira a bebida da festa. Mas também quando o pessoal está querendo ir embora, você fala: ‘Fica, está chegando mais bebida, fiquem tranquilos, vai ter música, podem continuar na festa’. Então você tem esse papel meio chato de ser o cara que está sempre na contramão”, disse Galípolo.
Galípolo fala sobre juros elevados
Segundo Galípolo, com o patamar de Selic elevado, o BC está “tateando” para verificar se a taxa Selic está contracionista suficiente para entregar a meta no horizonte relevante, observando o efeito defasado na atividade econômica, as expectativas desancoradas, que incomodam muito a autoridade monetária, e a inflação corrente.
Aos senadores, Galípolo disse que todos no Banco Central está incomodados por não estarem cumprindo a meta de inflação, porém o país está bem distante ao nível de inflação descontrolada antes do Plano Real, com alta de três dígitos ou mais.
“Estamos todos no Banco Central bastante incomodados em não estarmos cumprindo a meta, por estamos fora da meta, porém estamos falando de um patamar de inflação muito inferior ao que estávamos discutindo antes e mais próximos com as economias avançadas e com as emergentes”, colocou.
O presidente do Banco Central também fez um alerta sobre prejuízos para o Brasil com a intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China.
Para Galípolo, essa guerra comercial pode provocar uma desaceleração econômica global mais intensa do que a prevista inicialmente.
Segundo o dirigente, o cenário internacional tumultuado tem sido o principal fator de influência sobre os preços de mercado no Brasil e no mundo.
“O que estamos vendo agora é um movimento que pode caminhar para um cenário de aversão ao risco. Se essa guerra tarifária escalar, podemos ter uma desaceleração mais abrupta e mais forte da economia global”, alertou.
Prejuízo com a guerra tarifária
De acordo com o presidente do BC, uma guerra tarifária mais duradoura pode levar a um cenário ainda mais crítico, com investidores buscando ativos mais seguros, em movimento que pode causar fortes alterações no fluxo global de capitais.
Para ele, a percepção do mercado é de um cenário mais forte de desaceleração já em função da incerteza gerada pelas idas e vindas tarifárias independente de qual o cenário final.
“Estamos em um ambiente de elevada incerteza sobre o que pode ocorrer e quais as consequências na aplicação das tarifas”, destacou.
Apesar da instabilidade, o presidente do BC disse apostar em acordos que levem a um arrefecimento das tensões, com posterior redução dos impactos negativos sobre a economia global.
Ainda sobre a guerra tarifária, Gabriel Galípolo disse que o Brasil pode vir a se destacar quando comparado a outros países emergentes. Segundo ele, a diversificação da pauta comercial e a força do mercado interno colocam o Brasil em uma posição mais segura para investidores internacionais.
“A diversificação que o Brasil possui em sua pauta comercial, somada a um mercado doméstico relevante, passou a apresentar o país como um local de proteção. Na comparação com seus pares, o Brasil pode se destacar justamente por essa diversidade”, disse o presidente do BC.
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