Com criação de abelhas e produção de mel, casal mantém reserva e proporciona experiências a visitantes

Com criação de abelhas e produção de mel, casal mantém reserva e proporciona experiências a visitantes

Da mesma forma que a doçura do mel combina com diferentes alimentos, Renata Falcão e Sérgio Nogueira não poderiam ter um entrosamento maior. Ela, médica veterinária. Ele, biólogo. A união de seus interesses resultou não apenas no casamento, mas também no trabalho de criação de abelhas e de produção de mel, por meio do projeto Bee Nectar Brasil. Com muita simpatia, o casal recebeu a equipe de reportagem da Tribuna em visita à Reserva do Andirá, localizada em Lima Duarte, no entorno do Parque Estadual Serra Negra da Mantiqueira, a cerca de uma hora de Juiz de Fora.

Com criação de abelhas e produção de mel, casal mantém reserva e proporciona experiências a visitantes
Renata Falcão e Sérgio Nogueira criam abelhas e produzem mel em propriedade adquirida em 2014, primeiro com o intuito de ‘desligar do ambiente urbano’ (Foto: Leonardo Costa)

A propriedade foi criada em 2014. Entretanto, o foco era diferente na época. “Fiz uma casinha rústica, com o objetivo de virmos para cá passar os finais de semana, nos desligando totalmente do ambiente urbano. Sem interferência de mídia, nem nada. Aproveitei as partes de outro imóvel que tinha caído aqui perto. Com o passar do tempo, outras pessoas, que gostavam do ambiente, começaram a vir para cá e sugeriam alugar o local”, conta Sérgio.

Considerando o valor que o espaço tem para o casal, a ideia da criação da reserva surgiu a partir de referências de Sérgio. “Tive um professor muito bom nessa área. Queríamos deixar um legado na região de São Sebastião do Monte Verde, de onde toda a minha família, tanto por parte de pai como de mãe, saiu. Tinha vontade de deixar algo que, no futuro, alguém pudesse dar continuidade. Assim, criamos a Reserva Andirá.” A história é contada enquanto é servido um café da manhã mineiro, com alimentos, majoritariamente, à base de mel, além de queijos e outros produtos. Esse momento funciona para interação com os visitantes.

O período da pandemia de Covid-19 mostrou ao casal que um número considerável de pessoas sentia carência de um ambiente como o da propriedade. De passar, mesmo que um dia, desligado da correria da cidade grande. “As pessoas gostavam muito de vir para cá e se desconectar”, afirma Renata. Seu marido, inclusive, foi resistente para implementar energia elétrica na reserva. “Sempre trabalhamos no Rio de Janeiro, um ambiente altamente estressante por vários problemas envolvendo o cotidiano. Queríamos nos isolar.”

Com o contexto de suas profissões e áreas de estudo, a ideia ainda foi incorporada pelo contato do casal com a natureza, com os ideais de conservação e pelas vivências no ambiente natural. “Juntamos o útil ao agradável. Começamos a tocar o negócio e foi fluindo naturalmente”, relata Renata. A carreira de ambos influenciou também no momento de adquirir a propriedade, visto que o antigo dono tinha interesse em vendê-la para pessoas que trabalhassem com isso, mas sem desmatar a vegetação, que inclui madeira de lei, cedro e jacarandá, por exemplo.

Assim, surge o primeiro desafio. Apesar de declaradamente não ter a intenção de desmatamento, Sérgio diz que, no início, as pessoas iam ao terreno para tirar palmito-jussara, ameaçado de extinção. “Já presenciei pessoas invadindo aqui para isso.” Por causa disso, começou a fazer um manejo para a reconstituição da vegetação ainda em 2014. Agora, o casal conseguiu alcançar um estado de equilíbrio na propriedade, então pôde parar. “Os próprios animais estão fazendo o plantio para nós. Temos em torno de 10 mil plantadas.” Como prometido, hoje o uso do palmito-jussara é sustentável: com o carinho que lhes é característico, Renata e Sérgio produzem suco do fruto e servem para os visitantes, como foi o caso da Tribuna.

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Casal trabalha, atualmente, com sete diferentes espécies de reserva (Foto: Leonardo Costa)

Abelhas: o ‘carro-chefe’

Depois de se estabilizarem no local, os dois começam com a principal atividade: a criação de abelhas – que são tratadas com o mesmo carinho que os visitantes recebem – e produção de mel. Durante boa parte de sua vida, desde o ensino até o meio profissional, Sérgio lidou com os animais. “Sempre trabalhei a partir da direção da conservação das espécies nativas. Começamos com as abelhas com ferrão, nosso carro-chefe, e depois passamos para as nativas. Vale destacar que sempre valorizamos aquelas da Mata Atlântica”, reforça. Renata entrou no ramo quando casou com o marido, na época da pandemia. Como ela ainda trabalha no Rio de Janeiro, onde nasceu, o casal viaja com frequência.

Atualmente, o casal trabalha com sete diferentes espécies na reserva. Aos visitantes, o programa oferecido inclui visitação às colmeias e degustação do mel produzido por cada uma. Renata e Sérgio possuem uma tática para lidar com cada tipo diferente de abelha. Em um dos casos, é necessário reproduzir um barulho semelhante ao de um pica-pau na caixa em que os animais ficam para que eles saiam. Em outros, é necessário tomar cuidado para que as abelhas não se enrolem no cabelo. “Enquanto algumas possuem o ferrão como mecanismo de defesa, as nativas, com ferrão atrofiado, criaram outras estratégias de defesa contra inimigos naturais”, esclarece Sérgio. É por isso que, para visitar o projeto, é necessário preencher uma ficha, falando sobre possíveis alergias e afins.

A visão de começar a empreender com o mel teve como ponto de partida um impulso da esposa. “Antes da Renata, eu trabalhava para atender a demanda de entrepostos de mel. Minha esposa sempre foi muito crítica: ‘Você entrega o melhor que produz, um mel de qualidade, e entrega por um preço muito baixo’. Com o incentivo dela, mesmo pensando no trabalho que daria, criamos o nosso próprio negócio. Valorizamos um produto único, da mata atlântica, de qualidade, da nossa própria terra e com uma grande diversidade de floradas.”

O mel, segundo o casal, é um dos produtos mais suscetíveis à manipulação, perdendo apenas para o azeite de oliva. Por isso, fazem questão de ressaltar como valorizam o bem-estar das abelhas e a qualidade do produto – que começa na colmeia. “No ambiente ao redor, a primeira coisa que pedimos em todos os apiários que montamos, em parceria com outras propriedades rurais, é o Cadastro Ambiental Rural (CAR).” Por meio do documento, ambos conseguem identificar possíveis questões problemáticas e, assim, garantem a qualidade. Também destacam que priorizam os produtores locais nesses casos.

A lida com as abelhas

A vida de Renata e Sérgio ainda não é voltada exclusivamente para as atividades na Reserva Andirá. A manutenção da propriedade tem como base, sobretudo, o trabalho com o mel e as abelhas, além do turismo. A atuação com esses animais é mais intensa em épocas específicas, principalmente de florada. Antes disso, é necessário fazer a preparação das colmeias e o fortalecimento dos enxames, mas apenas durante um período. O maior trabalho, segundo eles, é na época da colheita e do processamento das plantas. Durante o inverno, ainda há um cuidado para não afetar as crias das abelhas. Com todo o conhecimento do casal, eles fazem questão de, antes das experiências, promover uma palestra sobre a importância das abelhas para o meio ambiente.

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Propriedade também é aberta ao turismo, com a possibilidade de visitas à produção (Foto: Leonardo Costa)

Degustação de mel e outros produtos

Depois de conhecer cada detalhe da criação de abelhas, Renata e Sérgio proporcionam aos visitantes uma degustação dos diferentes tipos de mel produzidos na reserva. O sabor varia de acordo com diversos fatores: tanto com o tipo de abelha como com a florada no processo de polinização, bem como com o recurso alimentar delas.

Por isso, o casal destaca que o preço pode ser maior em alguns casos, devido à qualidade. “Mel não é simplesmente mel. Todo mundo pensa ‘vou comprar o produto no mercado’. Mas qual a origem e qualidade do que você está comprando? Qual a florada? Há uma diferença e é algo que temos o objetivo de mudar para os consumidores.” O mel nativo tende a ser mais caro: as pessoas procuram pelo sabor mais exótico.

Durante o deguste, além de diferentes méis disponíveis, também é possível experimentar o próprio pólen – uma fonte proteica tanto para os seres humanos como para as abelhas. Os produtos são de diferentes regiões do Brasil. Inclusive, além do mel já dentro do pote, Sérgio retira o produto diretamente da colmeia, o que gera uma experiência de sentir o sabor basicamente primário, e do próprio favo dentro das colmeias. Há, ainda, a possibilidade de sentir o sabor do própolis. Por fim, há uma degustação de bebidas artesanais com mel: hidromel e pingo doce.

No Bee Nectar Brasil, além da visita, são vendidos diferentes produtos que envolvem o mel. Desde os diferentes tipos de mel até sabonetes, bebidas e outros itens. É necessário fazer agendamento por meio do WhatsApp ou pelo Instagram. Além do formulário, crianças com menos de 12 anos devem estar acompanhadas dos pais. Apenas pessoas que não são alérgicas a picadas de abelhas podem visitar o apiário.

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