

No Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa, celebrado neste domingo (15), Juiz de Fora não tem o que comemorar. Os crimes contra quem tem mais de 60 anos dispararam na cidade nos quatro primeiros meses deste ano, subindo 17%, em comparação com o mesmo período de 2024, e lesando quase 1.500 vítimas. Furtos e estelionatos – incluindo os temidos golpes no ambiente virtual – representam mais da metade das 20 mil ocorrências registradas desde 2020, seguidos por ameaças (14%). O incremento da criminalidade contra os idosos no município ficou acima da média da 4ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp), que inclui 86 localidades e cresceu 11%, e também superou Minas Gerais (13,6%).
De acordo com o Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), a violência é caracterizada por qualquer ação ou omissão que lhe cause morte, dano ou sofrimento, seja ele físico, psicológico ou patrimonial. Para além dos números divulgados pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), o delegado Rodolfo Rolli, titular do Núcleo de Atendimento à Pessoa Idosa em Juiz de Fora, alerta: “A primeira violência, mas que não aporta muito aqui na delegacia, é a psicológica. O idoso não relata, mas a gente sabe pelo que ele passa. É aquela que ele sofre em casa, com filho, neto, sobrinho, familiares.” Já a violência patrimonial, praticada principalmente por meio de furtos e estelionatos, é a que mais repercute na Polícia Civil. “Em termos de ocorrência, é a que figura mais.” Entre os golpes mais frequentes e lesivos, Rolli destaca aqueles envolvendo nomes de bancos e financeiras. “Sou totalmente contra essa quantidade de empréstimo que o Governo cada dia mais libera na conta do aposentado. Uma maneira de diminuir essa incidência penal seria o idoso poder fazer apenas um empréstimo por vez”, sugere.
O delegado lembra que esse tipo de violência patrimonial acontece muito dentro de casa, embora também seja a preferida dos estelionatários. “O filho faz um empréstimo. Aí o neto fica apertado e faz também. Quando vê, o idoso está recebendo R$ 300, R$ 400. A maioria das pessoas que atendemos é menos provida, ganha um ou dois salários.” Rolli também recebe queixas de gastos feitos por parentes no cartão de crédito. “Boa parte dessa população mora com o núcleo familiar, o que facilita esses gastos e os empréstimos (sem autorização), que às vezes só vão ser cobrados dali a dois ou três meses.” Depois dos furtos (29,33%), dos estelionatos (24,68%) e das ameaças, as modalidades criminosas que mais acometem essa população em Juiz de Fora são vias de fato/agressão (4,17%) e lesão corporal (3,70%). “A violência física às vezes acontece mais por negligência, omissão”, observa a autoridade policial, alertando para a necessidade de cuidados.
Na sequência de crimes mais frequentes estão os delitos de dano (3,62%), invasão de dispositivo informático (2,67%) e outras infrações – demais leis especiais (2,60%). Com menos de 2% de incidência aparecem: injúria, roubo, outras infrações contra a pessoa, outras infrações contra o patrimônio, apropriação indébita de coisa alheia, calúnia e mais 88 naturezas. Sobre os golpes virtuais e por telefone, com destaque para o do falso funcionário de banco e para os links utilizados como isca em e-mails e SMSs, Rolli avalia: “Com o aceleramento do uso da internet, a pessoa com mais idade acompanha a evolução com uma certa dificuldade. Com isso, fica em uma posição mais fácil de ser vítima de golpe, mais vulnerável. Às vezes, o criminoso monta uma plataforma falsa (site), que é idêntica à original. Por um detalhe de visão, passa batido, e o idoso acaba clicando ali. E para ele reverter essa situação é muito difícil, porque, geralmente, os golpes partem de outros estados, muitas vezes de dentro de unidades prisionais.”
O delegado acredita que uma lei de sigilo dos dados pessoais seria eficiente para evitar que golpistas ataquem suas vítimas de forma direcionada. Ele mesmo conta ter recebido um telefonema no celular, com identificador de chamada em nome de seu banco. “Quando atendi, sabiam o nome e sobrenome do meu gerente. Mas ouvi um latido de cachorro ao fundo e desconfiei.”
Delegado defende medida protetiva para idosos

Há quase dois anos à frente do Núcleo de Atendimento à Pessoa Idosa, que funciona no terceiro piso do Santa Cruz Shopping, Rolli observa que uma medida protetiva para os idosos anterior à conclusão da investigação – como aquelas emitidas pelo Judiciário às vítimas de violência doméstica, conforme a Lei Maria da Penha – seria uma das iniciativas mais importantes que os legisladores brasileiros poderiam ter para garantir o bem-estar desse público, já que muitos algozes estão dentro de casa ou rodeiam a família. “Quando há casos de violência, precisamos tirar de dentro de casa quem a está causando. Pelo Estatuto do Idoso, só posso fazer isso mediante provocação do Ministério Público e, às vezes, demora, porque tenho que fazer tudo dentro do inquérito primeiro, para só depois pedir uma medida similar (à protetiva) ao idoso.”
Roli ressalta que há situações de prejuízo patrimonial sérias, muitas envolvendo filhos ou netos. “Aí vem aquela violência que nós falamos: psicológica, moral. Há idoso que, mesmo sem poder, prefere sair de casa e deixar o lar para os parentes. Então ele vai para uma condição de vulnerabilidade ainda maior.” O delegado aponta na direção de parcerias público-privadas para Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs). “O Estado pode entrar com uma parte, e a outra sair da própria aposentadoria do idoso. O combate à violência à pessoa idosa também deve ser feito com políticas públicas.”
PC promove ação para idosos no Parque Halfeld dia 24
Além de intensificar as ações de atendimento especializado, investigação e prevenção, buscando punição de agressores e golpistas e a promoção de um ambiente mais seguro para a população idosa, a Polícia Civil promove no dia 24 deste Junho Violeta um evento no Parque Halfeld, a partir das 9h. “A ação visa a estreitar laços com a comunidade e oferecer serviços e informações importantes.”
O evento contará com: Emissão da primeira via gratuita da Carteira de Identidade Nacional (CIN); vacinação contra gripe e Covid-19, aferição de pressão arterial; apresentação da Banda do Exército; varal solidário do Rotary Club, com distribuição de roupas e agasalhos; dicas de segurança contra golpes virtuais; e orientação sobre como evitar as armadilhas digitais mais comuns que afetam os idosos. A iniciativa ainda conta com apoio da Prefeitura de Juiz de Fora, Câmara Municipal, Abrigo Santa Helena, Unipac e Defensoria Pública.
“Os crimes patrimoniais e as violências psicológicas têm sido um grande desafio, e é por isso que nossas campanhas de conscientização e as dicas de segurança são tão importantes. Muitos não têm conhecimento de artigos previstos no estatuto. A pessoa acima dos 80 anos nem tem atendimento preferencial, ela deve ser a primeira a ser atendida”, exemplifica o delegado Rodolfo Rolli. “O idoso precisa saber quais são os direitos dele para também saber exigir.” Rolli conclui ser fundamental que a sociedade esteja atenta aos sinais e denuncie qualquer forma de violência contra essa população.
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