Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Há uns dez anos, havia uma propaganda em que crianças e adolescente diziam: “Eu nunca vi o Brasil campeão.” Porque nunca tinham presenciado o Brasil ganhar Copa do Mundo. Mas uma geração inteira ficou sem ver político ir para a cadeia. E agora, dando um salto histórico, tanto Brasil como Argentina, eternos rivais nos campos, empatam também na política, mais exatamente na editoria policial. Contudo, político não rima com cadeia. Há sempre um artifício para que a lei seja igual para todos, porém para uns com um plus.
Nessa terça-feira, 10, desfilaram pela televisão brasileira diversos políticos que cumprem prisão domiciliar, durante os depoimentos do inquérito da tentativa de golpe de estado, que foi escancarado com o vandalismo e a invasão da Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. E do outro lado da Tríplice Fronteira, saiu a sentença definitiva da Suprema Corte que condenou a seis anos de prisão a ex-deputada, senadora, vice-presidente e presidente Cristina Kirchner. Ela não poderá mais candidatar-se, mas poderá desfrutar as riquezas acumuladas. Não vai para a cadeia, vai cumprir prisão em casa. Por conta da idade, 72 anos, tem direito a prisão domiciliar, sem uso de tornozeleira eletrônica, com direito a seguranças. A acusação é de desvio de recursos em obras públicas.
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Do lado de cá, já vimos o STF mandar Lula ver o Sol nascer quadrado por 580 dias. Outra figura conhecida, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral ficou 2.219 dias na prisão, o equivalente a seis anos e 22 dias no sistema prisional do estado que ele governou. Agora já está em casa também. E muitos outros para os quais a geração mais nova conhece da cadeia.
O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, assim como sua fiel escudeira, a deputada federal Carla Zambelli, também estão prestes a conhecerem o xilindró. No entanto, xilindró de respeito. Afinal, a Justiça é cega, porém nem tanto assim. Se condenados forem, se aprisionados forem, não será por muito tempo. E nenhum familiar ficará desamparado. O capital político é hereditário, assim como o financeiro. E se chorar um pouquinho, é só divulgar o PIX.
Se há uma boa banca de advogados, cada qual consegue fazer com que a deusa da Justiça dê uma espiada para um canto e para outro e arrume uma brecha para livrar o condenado. Já escrevi sobre isso aqui, esse filme repetido em que condenados passam a cumprir pena em ambientes que são, na verdade, sonho de consumo. Quando a prisão é convertida em prisão domiciliar, fica aquela sensação de que o crime, para uma boa parcela, compensa sim. Ah, e como!
Nem Argentina, nem Brasil precisam chorar. Seus heróis continuam levando vida de reis, enquanto os súditos ficam divididos, como torcidas que brigam entre si, enquanto ao final da partida os jogadores trocam de camisa, cumprimentam-se, e o jogo segue.
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