Ibovespa cai 0,43%, mas Petrobras mitiga perda do índice com Israel-Irã

Nos ombros de Petrobras (ON +2,13%, PN +2,46%), o Ibovespa mostrou certa resiliência ao dia de aversão a risco na sessão global – da Ásia à Europa e aos Estados Unidos, com perdas em geral acima de 1% – na esteira do ataque israelense ao Irã, considerado a princípio sem precedentes por alguns comentadores. Em Nova York, Dow Jones caiu 1,79%, S&P 500, 1,13%, e Nasdaq, 1,30%.

“Em Wall Street, o índice de volatilidade VIX chegou a saltar mais de 20%, com a forte aversão a risco. E o petróleo chegou a subir mais de 10% em meio a temores de que o conflito afete o fornecimento global da commodity. Ainda que as variações tenham se amenizado após relatos de que os ataques não atingiram campos petrolíferos, a volatilidade persiste”, diz Christian Iarussi, economista e sócio da The Hill Capital.

Aqui, o Ibovespa cedeu apenas 0,43%, aos 137.212,63 pontos, entre mínima de 136.585,90 e máxima de 137.799,95, quase correspondente à abertura (137.799,54). O giro financeiro foi de R$ 22,7 bilhões nesta sexta-feira. Na semana, o índice da B3 avançou 0,82%, tendo cedido terreno nos três intervalos precedentes, no agregado iniciado em 19 de maio. No mês de junho, oscila agora levemente ao positivo (+0,14%), com ganho de 14,07% no ano.

Foco dos mercados nesta sexta-feira, a ofensiva israelense foi direcionada à cúpula da Guarda Revolucionária, unidade de elite das Forças Armadas e o poder, de fato, por trás do regime dos aiatolás. Analistas apontam que a estratégia de Israel parece ser a de tirar de cena homens fortes do sistema de segurança que ampara a teocracia, de forma a criar a chance de um vácuo de poder que, no limite, poderia resultar na queda de Ali Khamenei, o Líder Supremo do país desde 1989.

Nessa linha de raciocínio, o ministro israelense de Assuntos da Diáspora, Amichai Chikli, compartilhou nesta sexta uma foto com Reza Pahlevi, um líder da oposição iraniana e ex-príncipe herdeiro do país. Na postagem, feita na rede social X, o ministro escreveu “em breve em Teerã”. Pahlevi vive no exílio e, nos últimos dias, vem fazendo postagens sobre eventual troca de poder no Irã. O regime dos Xás, aliado histórico do Ocidente, foi derrubado por uma insurgência interna em 1979, que trouxe do exílio o aiatolá Khomeini, substituído por Khamenei após sua morte.

Na mesma linha, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, divulgou um pronunciamento endereçado ao povo do Irã, em meio aos ataques mútuos entre os países. No vídeo, ele diz que mais ações contra o regime iraniano estão a caminho. E exortou a população local a se juntar ao objetivo de derrubar o governo do país persa. “À medida que alcançamos nosso objetivo, também estamos abrindo caminho para que vocês alcancem sua liberdade”, acrescentou.

Em meio ao cenário de uma crise longa entre duas grandes forças militares do Oriente Médio, o petróleo subiu 7% em Londres e Nova York, amparando a progressão de Petrobras na sessão da B3 – o que contribuiu para mitigar o efeito negativo de outros pesos-pesados do índice, como Vale (ON -1,33%) e de parte da ações de grandes bancos, como Itaú (PN -1,20%) e Bradesco (ON -1,19%, PN -1,15%).

Na ponta perdedora do Ibovespa, CVC (-8,33%), Magazine Luiza (-7,07%), Usiminas (-5,92%), RD Saúde (-5,06%) e Minerva (-4,33%). No lado oposto, além das duas ações de Petrobras, apareceram Suzano (+2,19%), PetroReconcavo (+2,71%) e Prio (+1,76%) – as duas últimas do setor de petróleo e gás. “Suzano também foi destaque de alta após o Goldman Sachs elevar a recomendação da ação para compra”, destaca João Paulo Fonseca, head de renda variável da HCI Advisors.

A primeira reação do governo americano ao ataque israelense não veio do presidente Donald Trump, mas do secretário de Estado, Marco Rubio. Ele enfatizou que os Estados Unidos “não estão envolvidos” e que a preocupação central da gestão republicana era proteger as forças americanas na região. Os EUA agora estão realocando recursos militares, incluindo navios, no Oriente Médio, buscando se proteger contra possível retaliação do Irã.

Por sua vez, Khamenei afirmou nesta sexta que forças armadas de seu país “agirão com força e empobrecerão o regime sionista, que não escapará ileso deste crime”. Em discurso televisionado após os ataques de Israel e de ações retaliatórias iranianas, Khamenei disse que o “povo iraniano pode ter certeza de que não haverá trégua” na resposta.

Em outro desdobramento, o porta-voz do exército israelense (IDF), Nadav Shoshani, confirmou que Israel realizou ataques contra a usina nuclear de Isfahan, que fica 340 quilômetros ao sul de Teerã. Segundo Shoshani, os ataques são complementos às operações realizadas mais cedo contra a usina de Natanz, a maior do Irã e na qual foi detectada contaminação nuclear, segundo a Organização de Energia Atômica do Irã.

“Dia negativo com a retomada do risco geopolítico no Oriente Médio de ontem para hoje, com efeito em especial para commodities como o petróleo e o gás. Mas o Ibovespa resistiu bem, com o efeito sobre o petróleo e as ações de Petrobras. Na semana que vem, com o reinício da agenda, que inclui a decisão do Copom sobre a Selic, na quarta-feira, a situação fiscal doméstica deve voltar a ganhar atenção”, diz Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Asset Management no Brasil.

A escalada nas tensões entre Irã e Israel pode levar os preços do petróleo acima de US$ 80, o que significaria mais alta para o dólar, segundo relatório do ING divulgado nesta sexta. o banco holandês afirma que já era provável que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mantivesse as taxas de juros em espera até o terceiro trimestre – “e os últimos acontecimentos apenas reforçam isso”, acrescenta o ING.

“Se as tensões se transformarem em um conflito mais amplo e os preços do petróleo subirem ainda mais, deve haver mais espaço para a alta do dólar, que já está fortemente subvalorizado no curto prazo”, ressalta o relatório.

Nesse contexto, o mercado está mais cauteloso quanto ao desempenho das ações no curtíssimo prazo, mostra o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, metade (50%) acredita em estabilidade para o Ibovespa na próxima semana e apenas 16,67% projetam alta. Para os demais 33,33%, o índice terá uma semana de perdas. No Termômetro anterior, as estimativas estavam divididas, com fatias de 33,33% cada para alta, baixa e variação neutra.

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