Há 31 anos, a família de Aston Alisson convive com a dor e a incerteza. O menino desapareceu aos três anos de idade, em uma área rural de São Carlos, e desde então nunca mais foi visto. O caso, que mobilizou buscas e investigações ao longo das décadas, segue sem respostas.
O desaparecimento aconteceu em 1993, no bairro Parque Itaipu. Na época, Aston estava com o pai em uma estrada próxima à horta da família. O homem se afastou por alguns minutos para fechar o hidrante e, ao voltar, o filho já não estava mais ali.
“Eu morava em uma chácara, no Parque Itaipu. Ele passou o dia com a gente. Quando foi seis horas da tarde, meu marido saiu com ele para acompanhar minha cunhada até a porteira. Minutos depois, ele voltou correndo, perguntando do Aston. Deu meia-volta e subiu correndo de novo”,
relembra a mãe, Rosemeire Piccirilli.
A busca começou imediatamente. Segundo o relato do pai em entrevista concedida em 1999, ele procurou o menino durante 24 horas, antes da chegada da polícia. “No outro dia, o delegado chegou, conversou comigo. Fizemos mais buscas com o Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, batalhão… bastante gente.”

Na época, vizinhos, familiares e cães farejadores se uniram às buscas, mas nenhuma pista concreta foi encontrada.
Falhas na investigação sobre menino desaparecido
A luta da família passou a contar com a ajuda de Diana Pastore, moradora de São Carlos, que se engajou voluntariamente no caso.
“Como eram sitiantes, eles não tinham condições de correr atrás, de saber o que fazer. Eu me envolvi porque não me conformo com casos assim. Como esse menino desapareceu do nada? Era ribanceira de um lado, do outro lado estava a família. Tinha portaria no condomínio, e o livro com as entradas e saídas de veículos simplesmente sumiu”,
relata.
Segundo Diana, o livro com as anotações teria desaparecido antes mesmo de o condomínio alegar que os registros antigos foram incinerados após cinco anos. Ela afirma ter pedido, sem sucesso, à delegacia a lista de veículos que circularam pelo local no dia do desaparecimento.
“Como a gente é pobre, não tem pra onde correr. E aí a polícia parou. Parou de investigar porque não achou nada, nem vivo, nem morto”,
diz Rosemeire.

A amiga da família também critica a atuação inicial das autoridades.
“A demora foi da polícia. Eles não abriram inquérito. O juiz e o promotor chegaram a cobrar explicações do delegado da época”, afirma Diana. Só cinco anos depois o inquérito foi oficialmente aberto.
Falsas pistas e frustrações
Ao longo dos anos, a esperança da família foi reacendida e frustrada diversas vezes. Um dos episódios mais marcantes envolveu o andarilho Laerte Orpinelli, conhecido como o “Maluco de Rio Claro”, acusado de matar várias crianças no interior de São Paulo. Durante as investigações, ele afirmou ter matado Aston.
“Trouxeram ele pra cá e ele disse que matou o Aston. Pedimos que mostrasse onde havia enterrado. Cada hora ele falava um lugar. Encontraram quatro pedacinhos de ossos pequenos”,
conta Diana.
Os fragmentos foram enviados ao IML (Instituto Médico Legal) de São Paulo e, após mais de dois meses de análise, o laudo concluiu que se tratavam de ossos de animal.
Três décadas de saudade
Hoje, passadas mais de três décadas, a família continua à espera de uma resposta. Ao longo dos anos, imagens simuladas com projeções de envelhecimento foram usadas para tentar imaginar como Aston estaria atualmente. A mãe ainda sonha com o reencontro.
“Ela me mostrou a imagem e falou: ‘hoje ele estaria assim’. Um dia eu ainda vou ver ele daquele jeito, homem”,
diz Rosemeire.
A dor, ela conta, é diária e silenciosa. “Nunca pensei em parar. Nós vamos encontrar. Vivo ou morto, ele tem que aparecer. É uma agonia que eu até sonho com a polícia batendo na porta ou a Diana me dizendo que encontraram meu menino.”
Diana compartilha da mesma esperança. “Ela acha que um dia eu vou bater na porta dela e dizer que vim trazer o Aston.”
A cada aniversário, a ausência se intensifica. “Vai passando ano após ano… Eu falo pro meu marido: ‘Você sabe que dia é hoje? Aniversário do neném’. Eu chamava ele assim, de neném. Ele só baixa a cabeça e sai. Nem gosta de conversar sobre isso. Diz que não quer abrir uma ferida que está quieta.”
Enquanto não há resposta definitiva, a incerteza segue sendo o maior peso para a família.
“Se tivesse morrido, tivesse um túmulo, ela ia poder dizer: ‘meu filho está aqui’. Mas não tem. A gente não sabe de nada. É essa incerteza que destrói. Você não dorme, você não come. A mãe vive assim desde aquela época”,
diz Diana.
O que diz a secretaria de segurança pública sobre menino desaparecido?
Sobre a demora da polícia pra iniciar as investigações, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) de São Paulo disse que não pode responder porque, como faz mais de trinta anos, fica difícil acessar o inquérito. A SSP informou ainda que a Polícia Civil de São Carlos realizou diligências na época, incluindo a análise de imagens, mas o menino não foi localizado. O caso foi apurado pela Delegacia de Investigações Gerais e, depois, foi arquivado pela Justiça. A secretaria falou ainda que a polícia continua à disposição para investigar novas informações que possam ajudar a localizar o Aston e esclarecer o caso.
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