As mudanças climáticas estão se intensificando a cada ano. O que antes eram ocorrências esporádicas, como ondas de calor, chuvas fora de época e longos períodos de seca, agora são situações cada vez mais frequentes ao redor do mundo.
Cidades como Campinas, Piracicaba, São Carlos, Ribeirão Preto e Araraquara enfrentam as consequências diretas do aquecimento global. O aumento das emissões de gases do efeito estufa tem causado temperaturas acima da média, crescimento no nível dos rios e mais casos de queimadas.
O monitoramento climático se tornou uma ferramenta essencial para entender e reagir a esses fenômenos. Em Campinas, por exemplo, o ano de 2024 quebrou o recorde histórico de calor, segundo dados do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais). As temperaturas chegaram a pelo menos 35 graus Celsius em 113 dias. Isso representa 3,7 meses de calor intenso.
Enquanto a população tenta lidar com os impactos, cientistas e especialistas investigam as causas. Ao mesmo tempo, desenvolvem tecnologias que ajudam as autoridades a tomar decisões mais rápidas e assertivas.
Como funciona a previsão do tempo?
Segundo Ana Ávila, meteorologista e pesquisadora do Cepagri, a previsão do tempo nasce de modelos numéricos. Esses modelos são cálculos que simulam o comportamento do clima nas horas ou dias seguintes. Eles analisam variáveis como temperatura, pressão atmosférica, umidade e vento. Tudo isso contribui para gerar previsões cada vez mais precisas.
Ana explica que diferentes equipes utilizam modelos variados no processo – europeus, americanos e também os criados especificamente para o Brasil. Cada um tem suas próprias características e pode apresentar resultados diferentes.
“Quando os modelos apontam para a mesma previsão, nossa confiança de que o evento realmente vai acontecer aumenta bastante”, afirma Ana.

Em cidades como São Carlos e Ribeirão Preto, as chuvas torrenciais são frequentes. Nesses locais, a previsão do tempo é essencial para reduzir os danos causados pelos alagamentos. Muitos deles pioram por causa da falta de estrutura para escoar a água.
Já em Araraquara, a escassez de chuvas favorece o avanço das queimadas. Entre janeiro e julho de 2024, os focos de incêndio aumentaram 285 por cento, segundo o Corpo de Bombeiros. Para lidar com esse tipo de problema, é essencial prever longos períodos de estiagem e adotar medidas preventivas com antecedência.
A meteorologista também ressalta que a precisão das previsões depende do prazo. Quanto mais próxima for a data prevista, maior é a chance de acerto. Por isso, uma previsão para o dia seguinte costuma ser mais confiável do que outra feita para dez dias à frente.
A maior rede de radares meteorológicos do país
O estado de São Paulo opera com sete radares meteorológicos próprios. Trata-se da maior rede estadual do Brasil.
O tenente Maxwel Souza, porta-voz da Defesa Civil estadual, afirma que esses radares permitem acompanhar em tempo real onde chove, quando está chovendo, para onde a chuva vai e por quanto tempo ela deve durar.
A equipe realiza esse monitoramento climático no Centro de Gerenciamento de Emergência, localizado no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo.
“Também acompanhamos o volume dos rios. Com essas informações, conseguimos prever o risco de transbordamento e, junto com os meteorologistas, decidimos quando enviar alertas”, afirma o tenente.
Em fevereiro deste ano, o nível do Rio Piracicaba atingiu 4,70 metros. A prefeitura declarou estado de alerta por causa do grande volume de chuva.

Alertas no celular em caso de emergência
Quando o risco de enchente ou transbordamento se torna real, as autoridades enviam mensagens de emergência diretamente para os celulares da população em áreas vulneráveis. Um dos sistemas utilizados é o Cell Broadcast, ferramenta nacional desenvolvida com apoio da Anatel.
“O primeiro alerta que enviamos no estado foi para Campinas, no Natal. Desde então, passamos de 150 alertas”, conta Maxwel.
Ele esclarece que o sistema não antecipa os eventos. “Isso não é previsão do tempo. É um aviso de emergência que só enviamos quando a situação já ficou crítica ou está prestes a se agravar.”
O zelador e aposentado Akira Sakamoto recebeu o alerta na noite de Natal de 2024. Ele lembra que o aviso o assustou, já que nunca tinha visto algo parecido. “No começo levei um baita susto, né? Aquele barulho alto no celular… Pensei: ‘O que será isso agora?’ Mas quando vi que era da Defesa Civil, parei tudo o que estava fazendo”, relembra Akira.
Ele agiu rapidamente. “Conferi as calhas, fechei bem as janelas e fui avisar o vizinho do lado. Esse negócio é sério. Não dá pra ignorar. A gente tem que se cuidar.”

Cemaden: monitoramento nacional em tempo real
Além da estrutura estadual, São Paulo conta com o apoio do Cemaden, que acompanha desastres naturais em todo o Brasil.
Rogério Carneiro, tecnologista do centro, explica que as equipes utilizam pluviômetros, imagens de satélite, radares e registros de descargas elétricas para prever e acompanhar enchentes, deslizamentos e secas.
“A gente emite o alerta quando identifica a combinação entre chuva acumulada, previsão de mais chuva e presença de pessoas em áreas de risco”, afirma Rogério.
Cada município define seu próprio limite de risco. Quando esse limite é ultrapassado, o sistema envia alertas classificados como moderado, alto ou muito alto.
Mesmo depois de enviar o aviso, as equipes continuam acompanhando a situação. “Seguimos com o monitoramento climático e repassamos novas informações às equipes em campo, principalmente quando o tempo muda de repente e isso pode afetar a resposta ao desastre”, completa.
Por que o monitoramento climático é tão importante?
Monitoramento climático não é só um termo técnico: virou peça-chave para prevenir tragédias e enfrentar a nova realidade imposta pelas mudanças no clima. Com dados em tempo real, as autoridades conseguem agir rápido, proteger vidas e direcionar políticas públicas mais eficazes.
As cidades do interior de São Paulo já vivem as consequências do clima extremo. Por isso, entender como funcionam os alertas e a previsão do tempo pode significar a diferença entre segurança e risco.
S.O.S Mudanças Climáticas
S.O.S Mudanças Climáticas é um projeto multimídia do acidade on, em parceria com professores e alunos da Faculdade de Jornalismo e Curso de Mídias Digitais da PUC-Campinas. Os conteúdos buscam explicar como as mudanças climáticas afetam o cotidiano das pessoas no interior de São Paulo e têm como propósito ajudá-las a se preparar melhor para enfrentar essa crise.
Esta matéria foi feita pelos alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas: Marilia Silva Coimbra, Bianca de Oliveira Garutti, Luísa Domingos Viana, João Vitor Viana Aguiar e Gustavo Justino Zuffo, com apoio dos alunos do Curso de Mídias Digitais: Ana Paula Rodrigues Benjamin Ramos, Beatriz Franchito Zaguetti, Gabriel Souza Ferri, Giovanna de Moraes Bras Gil e Isabela Koike Rosa, para o componente curricular do Projeto Integrador, sob supervisão da professora Amanda Artioli e edição de Leonardo Oliveira.
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