Práticas sustentáveis viram alternativas em meio à crise climática

Mais da metade dos brasileiros já compraram ou venderam roupas de segunda mão, de acordo com um estudo do BCG (Boston Consulting Group) em parceria com a empresa de market place Enjoei. O levantamento revela que 56% da população tem recorrido ao consumo de itens usados como alternativa sustentável frente à crise ambiental provocada pela indústria da moda, uma das mais poluentes do mundo. A crescente adesão ao consumo consciente reflete uma tentativa de mitigar os impactos do aquecimento global e da poluição em massa, que intensificam os efeitos das mudanças climáticas.

A indústria têxtil, principalmente quando envolvida na Fast Fashion, caracterizada pela produção em larga escala, é o grande sinônimo de impactos ambientais significativos. Segundo a Revista Fórum, 70% das emissões da moda se originam de atividades como produção e processamento de matérias primas.

A engenheira ambiental, Saara Arruda, enfatiza que a queima de resíduos têxteis e o uso de combustíveis fósseis contribuem significativamente para a produção de gases de efeito estufa.

“Transformar tecidos velhos em novas fibras, o uso de biomassa como combustível, substituição por fontes renováveis, podem reduzir drasticamente as emissões proveniente de todo processo têxtil” exemplifica.

Arruda ainda afirma que as etapas mais poluentes incluem o tingimento dos tecidos, acabamento químico e o descarte inadequado de resíduos, devido ao uso intensivo de produtos químicos, água e energia. Conforme dados da UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development), em apenas um ano a indústria utiliza cerca de 93 bilhões de metros cúbicos de água e descarta meio milhão de toneladas de microfibras.

A economia de moda circular se torna uma opção de prática sustentável que visa amenizar essas sequelas no meio ambiente. Para a professora do curso de Moda da PUC-Campinas, Aline Barbosa, essa ação é acessível e promove um modelo de consumo mais consciente e saudável.

“Ao comprar peças de segunda, ao invés de peças novas, estamos contribuindo para que o ciclo de vida de uma peça já produzida seja mais longo, ao invés de estimular a produção de novos produtos”, explica.

Além disso, Aline destaca que, para que a moda do brechó substitua efetivamente o consumo de fast fashion, seria necessário um processo profundo de mudança da mentalidade coletiva. “A moda está diretamente ligada ao comportamento humano, especialmente ao desejo de se diferenciar e, ao mesmo tempo, de pertencer. E esse desejo é constantemente alimentado pela lógica de tendências efêmeras e pela produção acelerada da Fast Fashion.”

Dessa forma, os brechós desempenham um papel crescente de conscientização ética e ambiental, pois os consumidores não apenas economizam, mas também contribuem diretamente para a redução do descarte desnecessário de peças. Mas afinal, o que classifica uma prática sustentável?

Segundo Bruna Branchi, professora de mestrado em Sustentabilidade, práticas sustentáveis são estratégias fundamentais que a sociedade deveria adotar para diminuir a intensa pressão que o ser humano exerce sobre os recursos naturais.

“Podemos considerar como consumidor sustentável, o indivíduo ou a organização que toma decisões de compra considerando suas necessidades e os impactos que essas ações têm no meio ambiente”, define.

Práticas Sustentáveis

Considerando a definição de consumidor sustentável, a Prefeitura de Araraquara, se enquadra nesse quesito. O projeto de lei “Araraquara 2050”, em parceria com a Unesp (Universidade Estadual Paulista), possui o intuito de promover desenvolvimento estratégico no município, com potencial econômico, social e principalmente, ambiental. A proposta visa viabilizar o uso sustentável dos recursos naturais da região por meio de um plano que integra inovação, sustentabilidade e planejamento urbano. O projeto contempla ações voltadas à gestão dos recursos hídricos, preservação ambiental e manejo responsável de resíduos sólidos.

Partindo para Ribeirão Preto, que desde 1997, usufrui do termo responsabilidade ambiental de forma prática. Um exemplo é o Sabão Galo, empresa que utiliza óleos e gorduras residuais recolhidos em todos os ecopontos da cidade, para fabricação de sabão em pó. Os materiais utilizados na fabricação são coletados em bares, restaurantes, condomínios e outros estabelecimentos que prezam pela economia circular.

Em Ribeirão Preto, o viés de sustentabilidade empresarial na região continua ganhando força, como o Fórum ESG. O ESG é sigla de Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança), no qual há promoção de responsabilidade socioambiental nos negócios, incentivando as práticas sustentáveis no cenário empresarial. De acordo com Daniel Bellissimo, um dos idealizadores do fórum na cidade, o ESG é um grupo voluntário de organizações que visa fomentar a gestão sustentável no Estado de SP.

“A ideia é fazer evoluir a gestão sustentável ESG nas regiões próximas a Ribeirão, promovendo casos concretos de empresas que já estão fazendo a transformação na dimensão ambiental”.

Paola Miorim, também idealizadora do projeto, explica que a cada evento um tema específico é abordado. “Nós promovemos dinâmicas, rodadas de diálogo para as pessoas se conhecerem, conhecerem essas empresas que são agentes de transformação e trocarem experiência de networking.”, afirma.

Miorim também conta que, atualmente, estão expandindo para região de Piracicaba, para continuar conectando pessoas e organizações, estimulando projetos e novas iniciativas socioambientais.

Já em São Carlos, a empresa “Tapetes São Carlos” promove uma filosofia de sustentabilidade ligada à fabricação de peças até o material utilizado, reduzindo o impacto ambiental causado pelo ciclo de vida do produto e pelos produtos químicos usados na produção de tecidos. Um exemplo dessa ação que visa o uso sustentável de recursos naturais, é a coleção Sense Eco Friendly, feita de fibra de PET de pós consumo.

Para Bruna Branchi, o consumidor consciente deve optar por empresas que demonstram compromisso concreto com a sustentabilidade. “As empresas devem se comprometer em múltiplas dimensões: ambiental, social e de governança. Sendo fundamental que o ser humano repense o padrão de consumo, limitando a compra de novos produtos, promovendo o reuso e valorizando iniciativas de reciclagem “, afirma.

Portanto, o termo “práticas sustentáveis” toma forma a partir do momento que o cidadão coloca em prática ações que visam a sustentabilidade integrada. Além dos brechós, a participação diária, tanto do município, como do indivíduo se torna necessária para a educação ambiental e consequentemente, a diminuição dos impactos ambientais sobre os recursos naturais.

S.O.S Mudanças Climáticas

 S.O.S Mudanças Climáticas é um projeto multimídia do acidade on, em parceria com professores e alunos da Faculdade de Jornalismo e Curso de Mídias Digitais da PUC-Campinas. Os conteúdos buscam explicar como as mudanças climáticas afetam o cotidiano das pessoas no interior de São Paulo e têm como propósito ajudá-las a se preparar melhor para enfrentar essa crise.

Esta matéria foi feita pelos alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas: Enzo Oliveira Cerezuella, Catarina Frozino Coutinho Correia Werneck, Laura Campos Leite, João Victor Amorim Alves, Pamela Leite de Sousa e Sophia Miranda Angelo Barbosa, com apoio dos alunos do Curso de Mídias Digitais: Sarah De Faria Cunha, Carlos Eduardo Couto de Barros, Luisa Hiromi Oyama, Antônio Bento Neto e Maria Victória Sakamoto Caffeu, para o componente curricular do Projeto Integrador, sob supervisão da professora Amanda Artioli e edição de Leonardo Oliveira.

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