Desde que entrou em cena, a Inteligência Artificial (IA) não sai do centro do debate. A tecnologia já foi capaz de transformar diversos setores e criar novas perspectivas de negócios, bem como viabilizou a implementação de ideias revolucionárias, como é o caso da HiSolver.
Nascida de uma necessidade universitária, a plataforma propõe unir a inovação da IA para derrubar barreiras, empoderar professores e levar o aprendizado a um novo patamar.
Em entrevista exclusiva ao BP Money, Felipe Muniz, cofundador da HiSolver, nos conta a origem do projeto: “A HiSolver nasceu de um problema muito específico do sistema educacional brasileiro, mas rapidamente evoluiu para algo maior”.
A ideia surgiu dentro da Universidade de São Paulo (USP), quando ele e seu sócio Yan Kaled, então estudantes de economia, perceberam um padrão entre os colegas: a dificuldade de acompanhar o conteúdo sem apoio pedagógico direto.
“Os professores, na média, não estavam preocupados se você estava entendendo ou não. A gente era obrigado a sentar na biblioteca, pegar os livros da bibliografia e aprender sozinho”, contou Muniz.
De acordo com ele, naquele ano, 54% dos alunos da turma de Yan abandonaram o curso — número que reflete uma tendência nacional. “É a mesma taxa de evasão do ensino superior brasileiro entre 2010 e 2016”, completou.
O desafio de ter que ser autodidata sem estrutura inspirou os dois estudantes a buscar soluções. A virada veio quando encontraram um artigo publicado em 1984 chamado The Two Sigma Problem, que analisava os efeitos da tutoria individual no desempenho dos alunos.
“O estudo mostrou que alunos com tutores particulares tinham desempenho dois desvios padrão acima da média. Isso quer dizer que eles superavam 95% dos colegas”, explicou Muniz. O problema? Tutoria individual é cara e inacessível para a maioria dos estudantes.
Criando um tutor que não fosse humano
Muniz e Kaled começaram a desenvolver a ideia de criar um tutor baseado em máquina, uma inteligência artificial capaz de cumprir esse papel sem os altos custos da tutoria tradicional.
“Na época, em 2019, não existia o ChatGPT. Os LLMs nem eram públicos ainda”, lembrou. Mesmo assim, eles começaram a pesquisar formas de transformar esse conceito em realidade no Instituto Neuromática da USP.
A pesquisa virou o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Kaled, então estudante de Matemática Computacional.
O trabalho foi premiado e reconhecido pela banca, que incentivou os estudantes a seguir com o projeto e aplicá-lo em universidades no exterior.
Eles aplicaram para Harvard e Stanford. Foram aceitos em ambas. “A gente não vinha de famílias abastadas, então parecia um sonho distante. Mas aplicamos mesmo assim”, afirmou Muniz.
Kaled optou por seguir para Harvard, onde cursou mestrado na escola de engenharia entre 2022 e 2024. Enquanto isso, Muniz permaneceu no Brasil, cuidando do desenvolvimento prático e da estratégia de implementação do projeto.
Primeira versão da HiSolver nasceu com US$ 100 mil e quatro pessoas
Logo após a conclusão do mestrado, a dupla captou sua primeira rodada de investimentos.
“Foram apenas US$ 100 mil e quatro pessoas na equipe. Mesmo assim, conseguimos desenvolver toda a tecnologia inicial da HiSolver em apenas sete meses”, disse Muniz. A solução já está sendo utilizada na Faculdade de Odontologia de Harvard e na Link School of Business, em São Paulo.
“A gente lançou oficialmente no dia 15 de abril. Em pouco mais de um mês já tínhamos 9 mil cadastros e 800 usuários ativos semanais”, revelou.
A proposta inicial de tutor virtual cresceu e hoje a HiSolver é uma plataforma que adiciona inteligência artificial a qualquer produto de informação ou conhecimento.
Do vídeo à comunidade: como funciona a aplicação da IA na prática
A proposta da HiSolver é transformar experiências de aprendizado passivo em interações personalizadas e dinâmicas.
“Se você comprou um curso sobre editoração, você não só assiste ao vídeo, mas pode chamar uma IA especializada para tirar dúvidas, interagir ou explicar o conteúdo de outro jeito”, explicou Muniz. A IA pode inclusive explicar conceitos complexos “como se você tivesse cinco anos”.
A plataforma também permite acoplar IAs em e-books, comunidades fechadas e até mentorias. Criadores de conteúdo podem treinar inteligências artificiais com seus próprios materiais — textos, vídeos, livros — e oferecer essa tutoria personalizada a seus seguidores ou alunos.
“É uma nova camada de valor. Uma pessoa, por exemplo, que dá mentoria de marketing, pode treinar uma IA com seus conteúdos e escalar isso. A IA dela vira uma assistente que está disponível 24 horas por dia para a comunidade”, explicou.
Além do ambiente educacional, Muniz vê aplicações diretas em empresas e no ambiente corporativo. Isso porque é possível implementar a plataforma como ferramenta de alinhamento e aprimoramento da equipe, de forma individual e personalizada.
A proposta da HiSolver seria entregar esse conteúdo em múltiplos formatos — vídeo, texto, e IA — e permitir que o colaborador estude quando for melhor para ele. “A IA se torna um professor particular disponível no tempo de aprendizagem de cada um”, explicou.
Empresas também podem estruturar seus próprios ambientes dentro da HiSolver, com salas segmentadas por área: jurídico, contabilidade, curadoria, marketing.
Cada uma dessas salas pode ter uma IA treinada especificamente para auxiliar nas demandas daquela área. “É como ter um assistente superinteligente à disposição”, pontuou.
Professores podem gerar renda com suas próprias IAs
Ao ser questionado sobre o impacto da HiSolver nos professores, Muniz foi enfático: “Essa tecnologia não substitui o professor.”
Segundo ele, professores hoje estão restritos a poucos vínculos formais. “Por que um professor precisa depender de uma ou duas instituições para gerar renda, se ele pode oferecer seu conteúdo online e monetizar com IAs treinadas por ele mesmo?”, argumentou.
Na prática, o educador pode criar seu ambiente dentro da HiSolver, treinar IAs com seu material, oferecer isso a qualquer público — independentemente de localização — e gerar receita.
“É um novo modelo de negócios para uma categoria profissional que é historicamente mal remunerada”, reforçou.
HiSolver é o primeiro marketplace de IAs
Além das ferramentas de aprendizagem, a HiSolver é também um marketplace. Usuários podem criar suas próprias inteligências artificiais e disponibilizá-las para venda. “O ChatGPT permite que você crie um GPT, mas não que você venda. Na HiSolver, você pode”, explicou Muniz.
E mais: não é necessário saber programar. “A gente criou a tecnologia pra que qualquer pessoa consiga montar e comercializar suas IAs. Você não precisa saber engenharia de prompt ou linguagens de programação.”
Criadores de conteúdo podem vender cursos, livros, mentorias e também suas próprias IAs treinadas com base nesses conteúdos. “É uma prateleira de produtos de conhecimento que vai além do tradicional”, resumiu.
Nova rodada de investimento visa 500 mil usuários
Após a rodada inicial, a startup abriu uma nova captação no valor de US$ 2 milhões. O objetivo é aumentar o time, investir em design, lançando funcionalidades que já estão prototipadas, além de aumentar o marketing e gama de influenciadores que representaram a plataforma.
“Hoje temos apenas quatro pessoas desenvolvendo código. Precisamos crescer pra continuar entregando inovação”, disse Muniz.
Ele também destacou que os 9 mil usuários atuais foram conquistados sem nenhum investimento em marketing.
“Foi tudo por SEO. A gente otimizou nosso blog para responder perguntas como ‘como aprender com IA?’ ou ‘como monetizar uma IA?’. Agora vamos escalar com tráfego pago e conteúdo orgânico.”
A área de crescimento da HiSolver será liderada por Gabriel Dantas, influenciador com mais de 8 milhões de seguidores. “Ele tem uma rede enorme de criadores de conteúdo e vai ajudar a levar a HiSolver pra um público ainda maior.”
Qualquer pessoa pode criar uma conta gratuitamente em www.hisolver.com. A versão gratuita dá direito a cinco interações com IA por hora. Para acesso ilimitado, a assinatura custa US$ 5 mensais.
“É um quarto do preço do ChatGPT, com a mesma base tecnológica, mas adaptada para quem não sabe programar”, afirmou Muniz.
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