
O mercado de delivery de comida no Brasil vive uma revolução silenciosa – mas poderosa. Com direito a boicote organizado, concorrência internacional e investimentos bilionários, os principais rivais do iFood estão se movimentando para romper o domínio do aplicativo líder.
Nos últimos dias, Rappi, 99 e a chinesa Keeta lançaram ofensivas ousadas: zeraram as taxas cobradas de restaurantes, anunciaram grandes aportes e passaram a se posicionar como alternativas viáveis ao iFood.
E o barulho já chegou aos ouvidos das entidades do setor – algumas, inclusive, convocando boicotes abertos.
Taxa zero: apps de entrega adotam nova estratégia para atrair restaurantes e consumidores
A disputa agora é por quem entrega mais, cobra menos e fideliza melhor. 99 Food, que havia saído do mercado em 2023, volta com tudo: sem taxas de comissão e mensalidade por dois anos.
O plano faz parte de um investimento de R$ 1 bilhão da controladora chinesa Didi Chuxing, que quer transformar o app 99 em um superaplicativo.
Pouco depois, o Rappi contra-atacou: também anunciou isenção total de taxas, por tempo indeterminado, para novos restaurantes na modalidade full service (quando o app gerencia toda a logística da entrega).
Além disso, ambas as empresas miram no coração dos empreendedores gastronômicos que hoje convivem com altas comissões cobradas pelo iFood – que chegam a 23% por pedido, além de mensalidades entre R$ 130 e R$ 150.
Keeta: gigante chinesa aposta R$ 5,6 bilhões no mercado de delivery brasileiro
Quem também chega para disputar essa fatia é a Meituan, um dos maiores conglomerados de tecnologia da Ásia. Avaliada em mais de R$ 600 bilhões na Bolsa de Hong Kong, a empresa entra no Brasil com a marca Keeta, já usada em países do Oriente Médio e Ásia.
A estreia da Keeta ainda não tem data oficial, mas o plano de longo prazo é ambicioso: R$ 5,6 bilhões em investimentos nos próximos cinco anos.
Setor de bares e restaurantes declara boicote ao iFood
A tensão escalou ainda mais quando a Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp) anunciou um boicote oficial ao iFood, acusando a empresa de práticas abusivas.
Entre as queixas estão:
- Taxas consideradas abusivas
- Falta de transparência no credenciamento de estabelecimentos
- Ausência de exigência de alvará sanitário ou de funcionamento
A Fhoresp afirma que tentou negociar com o iFood, sem sucesso, e agora denuncia que a plataforma “faz com que os restaurantes trabalhem para ela”.
iFood rebate críticas, nega monopólio e muda posicionamento
Em meio à ofensiva, o iFood lançou no dia 7 de maio uma campanha de reposicionamento: quer ser visto como plataforma de conveniência multicategoria, e não só de comida.
A empresa quer ampliar sua atuação em farmácias, supermercados, pet shops e outros segmentos.
Sobre as críticas, o iFood afirma que o setor é “altamente competitivo e pulverizado” e nega deter 90% do mercado – número frequentemente citado por entidades do setor. De acordo com a empresa, 65% dos pedidos de comida ainda são feitos fora das plataformas, como por telefone e WhatsApp.
Apesar da nota oficial, o iFood não respondeu às acusações de falta de critério na entrada de restaurantes nem disponibilizou porta-voz para entrevista.
A Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), embora reconheça o domínio do iFood – a entidade já citou que a empresa detém 86% do market share em processos no Cade – não apoia a ideia de boicote.
“O diálogo com o iFood é excelente, mas se houver práticas anticompetitivas, vamos agir”, afirmou Paulo Solmucci, presidente-executivo da associação. Em suma, ele também destacou que acompanhará de perto a entrada da Keeta, Rappi e 99 Food, para garantir que não haja barreiras de entrada.
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