A intensificação das mudanças climáticas, alterações naturais de longo prazo nos padrões de temperatura e clima do planeta, deriva da ação humana sobre o meio ambiente. As causas desses eventos do clima são variadas, como a queima desenfreada de combustíveis fósseis e o desmatamento ilegal.
Segundo o geógrafo João Miguel Gabriel, “algumas alterações relacionadas a fenômenos climáticos são de grande escala, como o El Niño e a La Niña, dois eventos que trazem secas e chuvas muito fortes”. Enquanto que a expansão urbana nas cidades do interior paulista, ao aumentar a frota de veículos e diminuir o espaço verde, contribui para a formação de ilhas de calor.
De acordo com estatística levantada, em 2024, pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, coordenada pelo Programa Maré de Ciência da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), os desastres climáticos no Brasil aumentaram 250% nos últimos quatro anos (2020–2023), em comparação com os registros da década de 1990.
Desastres climáticos estão se tornando o novo normal no país?
Em 2014, uma seca reduziu drasticamente o volume de reservatórios de água no interior de São Paulo. Em contrapartida, chuvas intensas provocaram inundações, como em Araraquara, em 2022, onde o desabamento de uma ponte causou mortes.
O geógrafo relata que nos últimos anos, os eventos têm sido cada vez mais extremos. Para ele, essas tragédias explicam como as mudanças climáticas impulsionam eventos que não aconteciam com regularidade anos atrás.
Dados do SGB (Serviço Geológico Brasileiro), em um levantamento para a Folha de S. Paulo, em 2024, indicam um aumento expressivo nas enchentes e secas entre 2014 e 2023, com recordes de 314 cheias e de 406 estiagens, contra 182 e 92, respectivamente, na década anterior.
Os impactos dos eventos extremos nas nossas vidas
Arita Souza, mãe de uma criança com TEA (Transtorno do Espectro Autista), comenta que as condições climáticas afetam a hipersensibilidade de seu filho e alteram o humor e o sono dele.
“Com muito calor ele fica irritadiço e agitado, com frio extremo ele fica um pouco deprimido e quieto”, cita Souza.
Segundo ela, modificações na rotina, como chuvas inesperadas, também geram ansiedade e frustração nele.
Em relação aos efeitos dos eventos climáticos, a aposentada Cleuza Luzia Pereira tem sentido tosse e falta de ar durante a noite e calor excessivo no transporte público.
“Preciso ir à casa lotérica sempre pela manhã, porque a tarde não consigo ir por causa do calor intenso”, acrescenta.
As mudanças no clima foram muito perceptíveis nos últimos anos, relata Giovana Ciasulli, cientista social e residente de Araraquara. Para ela, esses eventos afetam “na mobilidade dentro da cidade, na dificuldade de realizar exercícios físicos ao ar livre, na alimentação, na qualidade do sono e na ocorrência de rinites alérgicas”.
Durante as queimadas de 2024, ela evitou atividades ao ar livre e optou por trabalhar remotamente devido à baixa visibilidade nas rodovias causada pela fumaça. Como solução, Ciasulli adotou estratégias para amenizar os efeitos do clima extremo, como usar umidificadores, limpar a casa muitas vezes ao dia, lavar o nariz com frequência, intensificar o uso de protetor solar e mudar rotas para evitar enchentes.
Entenda como as mudanças climáticas afetam sua mente
Mario Henrique da Mata Martins, psicólogo ambiental, alerta para a ansiedade ambiental, um estado de preocupação diante das mudanças climáticas. Mario argumenta que “determinados sujeitos se sentem impotentes frente a essas alterações no clima e acabam temendo vivenciar um cataclismo global”.
A estudante Maria Clara Zago relata que enfrentou diversas situações alarmantes devido à crise climática, incluindo longas esperas causadas por tempestades e bloqueios viários por árvores caídas, além de adiar uma viagem devido a alagamentos no metrô de São Paulo. “Aquele dia senti realmente o que chamam de ansiedade climática. Foi uma situação em que senti que minha vida estava em risco. E de fato estava!”, afirma.
Martins acredita que toda ação preparatória para eventos extremos precisa ser orientada por órgãos especializados, com participação das autoridades locais. Para ele, não adianta emitir alertas sem indicar locais seguros e sem oferecer abrigo e água para a população. Com isso, destaca a urgência de incluir as mudanças climáticas na agenda municipal, de criar áreas verdes e de planejar infraestrutura adequada em regiões de risco.
S.O.S Mudanças Climáticas
S.O.S Mudanças Climáticas é um projeto multimídia do acidade on, em parceria com professores e alunos da Faculdade de Jornalismo e Curso de Mídias Digitais da PUC-Campinas. Os conteúdos buscam explicar como as mudanças climáticas afetam o cotidiano das pessoas no interior de São Paulo e têm como propósito ajudá-las a se preparar melhor para enfrentar essa crise.
Essa matéria foi feita pelos alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas: Diogo Setin Mosna, Yasmin de Souza da Costa, João Francisco Praxedes Ferreira, Erika Barbosa, Maria Eduarda Matoso e Larissa Idem Silva, com apoio dos alunos do Curso de Mídias Digitais: Sarah de Faria Cunha, Carlos Eduardo Couto de Barros, Luisa Hiromi Oyama, Antônio Bento Neto e Maria Victória Sakamoto Caffeu, para o componente curricular do Projeto Integrador, sob supervisão da professora Amanda Artioli e edição de Leonardo Oliveira.
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