Apple vai adicionar IA no Safari – e pode romper acordo com Google nas buscas

Em meio ao processo antitruste contra o Google, a Apple deu sinais claros de que pode reformular profundamente a experiência de busca no Safari, seu navegador padrão no iPhone e iPad.

Eddy Cue, vice-presidente sênior de serviços da Apple, afirmou em depoimento que a empresa está “avaliando ativamente” a adoção de mecanismos de busca baseados em inteligência artificial, em vez de seguir exclusivamente com o Google como opção padrão.

A declaração foi dada durante a fase de discussões sobre possíveis medidas corretivas no julgamento movido pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos contra a Alphabet, controladora do Google.

Cue indicou que, pela primeira vez em mais de duas décadas, houve queda no volume de buscas realizadas pelo Safari — movimento que ele atribui diretamente à popularização dos assistentes de IA, como os baseados em modelos de linguagem de larga escala.

iPhone 15 com logo do Apple Intelligence acima
Divulgação/pple

Novos concorrentes à vista: Apple negocia com startups de IA

Ao ser questionado sobre possíveis alternativas ao Google, Cue foi direto: “Vamos adicioná-los à lista”, referindo-se a empresas como OpenAI, Perplexity, Anthropic, Grok e DeepSeek.

A Apple, segundo ele, já iniciou conversas com algumas dessas companhias para entender como elas podem ser integradas à experiência de busca no iOS.

A atual versão do sistema operacional já conta com o ChatGPT como extensão de IA, e há planos de oferecer também o Gemini, do próprio Google.

Apesar disso, Cue reconheceu que os buscadores por IA ainda enfrentam dificuldades técnicas — como a falta de um índice robusto de páginas — para se tornarem substitutos diretos de mecanismos tradicionais.

Antes da IA, minha percepção era de que nenhuma das alternativas era válida. Acho que hoje há muito mais potencial, porque novos participantes estão abordando o problema de forma diferente

Eddy Cue, vice-presidente sênior de serviços da Apple

Acordo de US$ 20 bilhões em risco

O eventual rompimento ou reformulação do contrato entre Apple e Google pode significar o fim de uma das parcerias mais lucrativas do setor de tecnologia.

Atualmente, o Google paga cerca de US$ 20 bilhões por ano para manter seu buscador como padrão no Safari, o que representa uma parte relevante da receita de serviços da Apple.

Apesar de defender os avanços da IA como fator natural de transformação no setor, Cue admitiu que perder esse acordo o faz “perder noites de sono”. Para ele, mesmo que o Google ainda seja a melhor opção técnica hoje, a disrupção já começou.

“Há dinheiro suficiente agora, e empresas grandes o bastante, que não vejo como isso não vá acontecer”, afirmou sobre a possível substituição das buscas tradicionais.

Impacto nos mercados e no futuro do Safari

As declarações de Cue repercutiram de forma imediata em Wall Street. As ações da Alphabet (dona do Google) chegaram a cair mais de 9% após a fala do executivo. Os papéis da Apple também recuaram, ainda que de forma mais modesta, com queda de até 2,5%.

Logo do Safari com produtos da Apple
Reprodução / Willian Ferreira

A fala de Cue foi acompanhada de um alerta: mesmo que a justiça dos EUA não intervenha com medidas severas contra o Google, o avanço da IA já está gerando uma reconfiguração no mercado.

Ele citou o declínio de gigantes como HP e Sun Microsystems para lembrar que a tecnologia é um setor onde a liderança pode mudar drasticamente. “Não somos uma empresa de petróleo. Talvez você nem precise de um iPhone daqui a 10 anos”, disse.

IA como vetor de competição real

Cue também reconheceu que o contrato com o Google desincentivou a Apple de investir em um buscador próprio, mas justificou: “A gente não pode fazer tudo”. Para ele, a chegada da IA cria um ambiente competitivo inédito, no qual ferramentas como agentes de busca conversacionais, que realizam múltiplas consultas de forma integrada e em linguagem natural, já estão atraindo o interesse dos usuários.

Embora ainda existam limitações, como a possibilidade de “alucinações” e respostas imprecisas, o apelo dessas ferramentas cresce justamente pela maneira diferente como abordam as consultas.

No futuro próximo, Cue acredita que será possível combinar IA com pequenos índices de busca para resultados mais eficientes e confiáveis.

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Próximos passos: novos buscadores e mais opções

Hoje, o Safari permite que o usuário escolha entre Google, Bing, Yahoo, DuckDuckGo e Ecosia como motores de busca.

A expectativa é que as novas ferramentas com IA se somem a essa lista em breve. Mesmo sem virar padrão de imediato, o simples fato de estarem disponíveis poderá acelerar a adoção e aumentar a pressão competitiva sobre o Google.

A Apple ainda não revelou uma data para essa integração, mas os bastidores indicam que iOS 18 e o novo Apple Intelligence já preparam terreno para essa revolução. O fim da hegemonia da busca tradicional pode não vir de um tribunal — mas sim de uma mudança profunda no comportamento dos usuários, alimentada por tecnologia de ponta.

Fonte: Bloomberg

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