
Aida Franco de Lima – OPINIÃO
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É bastante difícil para um cidadão comum acreditar mesmo que, para além da justiça divina, o crime não compensa no Brasil, se o responsável tiver um “bom” histórico e no currículo a passagem pela política.
O exemplo de Fernando Collor cabe muito bem nesse contexto. Na semana que se passou, foi noticiado que ele seria preso, em virtude de sua participação em desvio na então estatal BR Distribuidora, na ordem de R$ 20 milhões em propina entre 2010 e 2014. Ocupando o cargo de senador, e além do nome conhecido, teria recebido esse valor da UTC Engenharia, para usar sua influência política para favorecer obras e indicar diretores à subsidiária da Petrobras. Em 2019, a BR Distribuidora, que pertencia à Petrobras, foi vendida e privatizada.
Mas Collor continuou livre até agora há pouco; na verdade, ainda está. Afinal, o que é cumprir prisão domiciliar em uma mansão avaliada em R$ 9 milhões? Cobertura, com vista para o mar, em área mais nobre de Maceió. “Tais brincando?” Ah, diria o velho Costinha, com a impaciência de quem está tirando onda. A pena exige que o ex-presidente use tornozeleira eletrônica e receba visitas apenas de familiares, profissionais de saúde e advogados. Do que mais ele precisaria?
Aos 75 anos, os advogados alegaram que Collor ronca, ou melhor, tem apneia do sono, Parkinson e bipolaridade.
A sentença de Collor se arrastou por anos, pois todos sabemos: com bons advogados, as brechas jurídicas são escancaradas, e isso dá direito ao acusado de usufruir em liberdade até que, muitas vezes, a pena prescreva. Quando a prisão foi decretada, em 2023, punindo-lhe com oito anos e dez meses, seus advogados se movimentaram para ganhar mais tempo.
Mas na semana que passou, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), mais conhecido nas redes sociais como Xandão, deu um basta: mandou prender o ex-presidente, porque não havia mais argumentos que não fossem somente para protelar a consumação da sentença. Porém o basta durou pouco.
Collor preferiu ficar em Fortaleza a permanecer aprisionado em Brasília. Ele, que tanto ama o poder, optou por estar longe do cérebro da política brasileira. Preferiu sua terra natal, decerto já antevendo que sua estada no presídio Baldomero Cavalcanti era momentânea.
Para acomodar um condenado à altura, foi dada a ele a sala do diretor, com algumas adaptações: banheiro privativo, ar-condicionado, cama com colchão gostosinho e vista para horta do presídio. Chegou ao local na sexta, dia 25 de abril, e já saiu no dia 1.º de maio, uma quinta-feira. Uma data especial: Dia do Trabalhador.
Na mesma data em que Collor deixou sua cela cinco estrelas, foi dia de lembrar-se dos trabalhadores… Bem aqueles que no período em que ele foi presidente tiveram suas economias confiscadas. Quantas pessoas tiraram a vida por conta do desespero causado por terem seus sonhos destruídos? Mas nem foi por causa desse ato que Collor tempos depois seria cassado. Para quem não lembra ou não sabe, basta pesquisar…
A história nos rememora que Collor só caiu porque seu irmão, Pedro Collor, denunciou-o em um escândalo que mexeu com vida privada e corrupção. Não foi porque destruiu sonhos. E agora estamos vendo a história ser feita à nossa frente e percebendo que, se a Justiça é cega, bons advogados se aproveitam para guiá-la como bem querem.
Para Collor, a vista do mar é cumprir pena. Assim como para os membros do Judiciário que são punidos com aposentadoria antecipada. O Brasil, ah, os roteiristas do Brasil só podem estar de brincadeira mesmo. Não é possível!
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