Paulo Bonfá tem uma longa trajetória em rádio e em televisão. Nos anos 1990, ganhou popularidade com a criação do programa Sobrinhos do Ataíde, ao lado de Marco Bianchi e Felipe Xavier, que era transmitido pela rádio Rock 89FM em São Paulo. Mais tarde, se popularizou também como VJ da MTV e, entre outros programas, como co-criador e apresentador do RockGol, sucesso entre o final dos anos 1990 e início dos 2000.
+ Economia da criatividade também é alavanca de desenvolvimento, diz ex-ministro da Fazenda
Bonfá segue como comunicador, mas agora ele concilia essa experiência com o empreendedorismo cultural. Junto a Roberto Souza Leão, está à frente do Instituto Totex, responsável por trazer ao Brasil a megaexposição Andy Warhol Pop Art, a maior exposição sobre o artista, ícone do movimento Pop Art, fora dos Estados Unidos.
“Entendo que meu background profissional na comunicação, ele me trouxe uma convicção que não muda. Que o importante é o conteúdo. Tanto faz o suporte ou a plataforma. Se o conteúdo é bom, as pessoas têm interesse. Elas vão aproveitar, elas vão valorizar, elas vão reconhecer”.
Em entrevista à IstoÉ Dinheiro, ele conta que sua experiência como comunicador no rádio, “um veículo sem imagem”, diz, e na televisão, “que foi um grande veículo de comunicação de massa do século XX”, completa, e depois para internet e para o mundo online, seguido pelas redes sociais, só “sedimentou a convicção de que o conteúdo é o que importa”.
Mas como ele diz, está em período sabático como humorista e se volta agora ao empreendedorismo cultural, que avalia como tendo sido um “caminhada natural” e reflexo de mais de três décadas de carreira, que começou com a estreia de seu primeiro programa no rádio, em 1991. “Depois fui para televisão, da televisão para internet, da internet para os palcos. E essa trajetória artística que ela sempre me colocou em contato com muitas outras manifestações da indústria cultural e do segmento da economia criativa.”
Entre essas manifestações ele cita orquestras, circo, literatura, fotografia, carnaval. E assim conheceu o Roberto Souza Leão, ex-diretor-executivo do Instituto Tomie Ohtake, com quem fundou o Instituto Totex. “Resolvemos nos unir para criar um instituto voltado a esta finalidade, de democratizar o acesso à cultura, de valorizar as atividades artísticas e de fazer a conjugação desses dois mundos com a educação.”
Bonfá também atua como membro do Conselho Superior de Cultura da Fiesp, integrante do Fórum Brasileiro Pelos Direitos Culturais (FBDC), presidente do Salão Internacional de Humor de Piracicaba e criador e diretor-geral do Festival Risadaria. Além do Instituto Totex, ele ainda criou, há 25 anos, a Conteúdo Criativo, voltada para produções e projetos culturais para empresas ou setor público.
Maior exposição de Warhol fora dos EUA
São mais de 600 obras que saíram direto do The Andy Warhol Museum, em Pittsburgh (Estados Unidos), para o Museu de Arte Brasileira (MAB), na FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado). Bonfá ressalta que é uma oportunidade “imperdível”, já que, para ver o acerto do The Andy Warhol Museum, é preciso pegar pelo menos dois voos. “E nem é um destino turístico para brasileiros nos EUA”, reforça.

The Andy Warhol Museum, Pittsburgh; Founding Collection, Contribution The Andy Warhol Foundation for the Visual Arts, Inc.
Por questões contratuais, eles não revelam o investimento em um projeto dessa dimensão. Mas puderam contar um pouco da logística envolvida para trazer as centenas de peças. Foram três voos que saíram em dias e horários espaçados e com escala em diferentes cidades dos EUA para evitar qualquer incidente, como um evento climático, por exemplo. “É realmente uma super logística”.
As obras não podem viajar com carga viva e são transportadas em caixas herméticas. Também é preciso um rígido controle de temperatura, pressão, oxigenação e vibração, que são fatores que podem danificar uma obra de arte. Cada voo é acompanhado de um representante do acervo, que faz, inclusive, um relatório do transporte, e um representante do Brasil. “Eles fazem a conferência para saber se houve algum dano na obra, ainda que milimetrico. É um protocolo que as pessoas não têm noção. E que movimenta mais de 300 empregos diretos e indiretos. É importante dizer que a economia criativa tem números muito expressivos e pouco divulgados”.
Quando chegam no aeroporto, elas têm uma entrada preferencial na Receita Federal, e não podem ser abertas no terminal, precisam primeiro entrar no museu, e só podem ser abertas 24 horas depois, para, então, se começar o manuseio.
Os caminhões que fizeram o trecho entre o aeroporto no Brasil e o museu foi descaracterizado, para não evidenciar o tipo de transporte, e claro, foram monitorados e acompanhados por seguranças. “Tem que ter todo um planejamento. As pessoas não têm ideia”.
Leão conta que a negociação para a vinda das obras – originais – ao Brasil é um processo que exige habilidade e, claro, credibilidade, já que são itens de alto valor monetário e simbólico. “Quando você põe em prática um mega projeto da área cultural, você tem que ter muita experiência. São ‘milhões’ de coisas que não adianta você chegar e fazer um curso. Além da experiência, isso é uma coisa que a gente vai lá com o jeitinho brasileiro de ser e com carisma, vai conversando”.
Ele cita, por exemplo, “detalhes” como a forma que se manuseia um quadro, como faz o processo na alfândega, como instala a obra no museu, qual a temperatura e a iluminação ideias, e até mesmo como orienta o público. Uma das obras expostas, uma tela da ‘Santa Ceia’ estilizada por Warhol, levou um dia inteiro para ser montada e 17 pessoas para a operação de disposição do quadro na parede.
E claro, é preciso passar segurança para os donos do acervo. Muitas das obras que estão no Brasil, nunca saíram do museu de Pittsburgh. “A América Latina é um mercado muito potente, e o Brasil é um mercado maravilhoso, mas existe ainda um certo preconceito em relação a enviar obras”.

The Andy Warhol Museum, Pittsburgh; Founding Collection, Contribution The Andy Warhol Foundation for the Visual Arts, Inc.
As negociações começaram há três anos, e, no início, foram oferecidas 100 obras. “Mas a gente queria mostrar toda a versatilidade, a pluralidade do artista, que nem todo mundo conhece. Seria injusto não mostrar toda essa potência do Warhol”, diz Leão.
Ele conta que então começaram a “batalhar” para ter bons exemplares de todas as fases dele, que passam por diferentes mídias, além das artes visuais, sua faceta mais conhecida. “Tem cinema, música, ele como empresário, como designer, como artista, como publicitário, tudo. E para isso a gente precisava de muito mais obras. Não dá para você mostrar uma obra de cada fase, não faz sentido. E aí a exposição foi crescendo, e, com muita negociação, conseguimos essa magnífica exposição. Isso realmente é um feito’.
Instituto Totex
Bonfá diz ser missão do instituto aproximar o público dos museus, de galerias e eventos. “O que nós queremos é a casa cheia e o conteúdo é o que importa”, diz, e que “quebrar barreiras é parte do desafio”. Ele afirma ainda ser uma “questão de saúde mental” e uma “experiência transformadora no século capítulo 21”, essa relação com as artes. “Proporcionar para as pessoas novos horizontes, um pensamento crítico, uma reflexão produtiva e um passatempo. Isso me trouxe ao mundo do empreendedorismo cultural como uma atividade principal”, revela.
O sócio de Paulo, Roberto, diz que Totex vem de “totalmente excelente”, um dos inúmeros bordões criados por Bonfá. Fato é que a parceria deu certo e está em sua segunda grande exposição. Em 2024 foi o nome por trás da realização da mostra “Desafio Salvador Dalí”, que teve exibição prorrogada após alcançar mais de 80 mil visitantes.
Abordando a democratização do acesso a equipamentos culturais, principalmente museus e galerias de arte, Roberto destaca a importância da Lei Rouanet para o setor da economia criativa. “Existe no país uma lei focada na cultura, nas artes e que ela foi feita para isso. E representa 0,67% do incentivo fiscal do Brasil. A gente não pode esquecer que os grandes equipamentos culturais também são referência do Brasil, como Pinacoteca, Masp. São as referências e são formadores, geradores de emprego, geradores de renda para a cidade, o estado e o país”.
Leão reforça que o capital intelectual é uma indústria geradora de emprego e parte da economia. “O pensar é um capital intelectual, por isso que a gente gera muito emprego. Não é uma mão de obra de indústria, você não tem máquina que substitua o pensamento ainda”.
Nos planos do Totex, está promover uma grande megaexposição por ano ao Brasil. Eles não revelaram qual a próxima que está sendo negociada. “Mas pode ter certeza que nos próximos nove anos, pelo menos, a gente vai estar com uma por ano”.
SERVIÇO
Andy Warhol: Pop Art!
MAB FAAP – Rua Alagoas, 903 – Higienópolis
1º de maio a 30 de junho de 2025
fechado às segundas-feiras
3ª a 6ª feira: R$ 50 inteira | R$ 25 meia-entrada
Sábados, Domingos e Feriados: R$ 70 inteira | R$ 35 meia-entrada
9h às 20h (última entrada às 19h)
O post Paulo Bonfá, o ‘ex-humorista’ empreendedor que trouxe a megaexposição de Andy Warhol apareceu primeiro em ISTOÉ DINHEIRO.