O cineasta palestino Hamdan Ballal, laureado com o Oscar pelo impactante documentário ‘No Other Land’, compartilhou a dolorosa experiência do ataque sofrido por colonos israelenses, descrevendo-o como “o pior momento da minha vida”.
Em um artigo pungente para o Deadline, intitulado “Meu Oscar por ‘No Other Land’ não me protegeu da violência”, Ballal detalha como, apesar do reconhecimento máximo da indústria cinematográfica, ao retornar à Cisjordânia, tornou-se vítima da violência persistente na região.
“Num instante, foi como se o Oscar nunca tivesse acontecido, como se o prêmio não significasse absolutamente nada”, escreveu Ballal, revivendo a brutalidade do ataque.
“Eles me abordaram do lado de fora da minha casa e iniciaram as agressões e os insultos”, relatou. “Zombaram de mim como o ‘cineasta vencedor do Oscar’. Senti coronhadas atingirem minhas costelas. Alguém me golpeou na cabeça por trás, fazendo-me cair ao chão. Fui chutado e cuspido. A dor e o medo eram avassaladores. Ouvi os gritos desesperados da minha esposa e dos meus filhos, implorando para que os homens fossem embora. Foi o pior momento da minha existência. Minha esposa e eu tememos que eu fosse morto. Temíamos o destino da nossa família caso eu perdesse a vida”.
Ballal foi algemado, teve seus olhos vendados e foi lançado na traseira de um jipe militar, onde permaneceu por horas em uma base do exército antes de ser libertado no dia seguinte.
“O ataque contra mim e minha comunidade foi de uma brutalidade extrema. Embora tenha recebido ampla cobertura da imprensa, não se trata de um incidente isolado”, enfatizou o cineasta.
Apesar da violência, Ballal fez questão de ressaltar que sua comunidade “não se resume à violência”.
“A paisagem aqui é de uma beleza e extensão singulares. Ano após ano, cultivamos a terra e conduzimos nossos rebanhos de ovelhas pelos campos. As manhãs se iniciam com uma reconfortante xícara de chá ao nascer do sol, enquanto os animais aproveitam o frescor do orvalho na grama. O dia transcorre com o cuidado dedicado à terra e aos animais, a ordenha das ovelhas e cabras, e a preparação dos alimentos com o fruto do nosso trabalho. A família e toda a aldeia participam desse esforço cotidiano, oferecendo ajuda e apoio mútuo”, destacou.
Contudo, o sentimento de medo e perda ainda permeia a vida de Ballal.
“Três semanas antes, no palco do Oscar, experimentei um vislumbre de poder e possibilidade”, escreveu. “Mas, mesmo com o reconhecimento global do nosso filme, senti que falhamos – eu falhei – na tentativa de melhorar a vida aqui, de convencer o mundo de que uma mudança é imperativa. Minha vida ainda está à mercê dos colonos e da ocupação. Minha comunidade continua a sofrer com uma violência incessante. Nosso filme conquistou um Oscar, mas nossas vidas não tiveram nenhuma melhora”.
O diretor concluiu seu artigo com um veemente apelo à ação, expressando “esperança”: “Sei que existem milhares e milhares de pessoas que agora conhecem meu nome e minha história, que conhecem o nome e a história da minha comunidade, e que estão ao nosso lado. Por favor, não nos deem as costas agora”.
Hamdan Ballal agradece apoio após ataque sofrido na Cisjordânia
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