
Em meio às cerimônias em homenagem ao Papa Francisco, morto no último domingo, a discussão que já ocupa as ruas envolve o seu sucessor. Como será o próximo papado? Durante os 12 anos como pastor de mais de um bilhão e 200 milhões de fiéis, o jesuíta argentino deu uma guinada na Igreja, ressaltando sua opção pelos pobres e a defesa dos imigrantes e adotando uma pauta inédita nas encíclicas como a Laudato Si’, que trata do meio ambiente.
Francisco foi um defensor ferrenho de uma igreja aberta ao mundo, em amplo diálogo com as demais igrejas. Visitou diversos países numa jornada que só cessou quando a saúde não mais permitia tais périplos. Veio ao Brasil, mas não retornou à terra Natal, a qual deixou – ainda como cardel Jorge Mario Bergoglio – levando apenas uma muda de roupas para votar no sucessor de Bento XVI, que renunciara ao cargo. Mesmo já tendo recebido votos dos pares, quando da eleição de Joseph Aloisius Ratzinger, não esperava ser ele o eleito: um bispo “lá do fim do mundo”.
Durante os seus 12 anos à frente da Igreja, Francisco criou mais de uma centena de cardeais, o que, em princípio, aponta para um sucessor que venha endossar suas propostas, mas não se trata de um processo simples. Há ainda uma forte corrente conservadora que prega uma postura menos progressista, optando por questões diretamente ligadas à fé.
São muitos os desafios para o próximo Pontífice. A despeito do envolvimento de Francisco com os jovens, a Igreja Católica, especialmente na América Latina, assiste ao avanço das igrejas pentecostais e de outras denominações. O Brasil, país com a maior população católica do planeta, registra – mais do que os demais – esse crescimento. Na Europa, não se trata de concorrência, e sim do aumento do secularismo. Em ambas as situações, o próximo Papa terá que se mobilizar.
O grande legado de Francisco foi entender a contemporaneidade. O mundo passa por grandes mudanças, e ao sucessor cabe considerar esse movimento, sobretudo em um mundo dividido e incrementado pelas redes sociais. O debate, que antes ficava restrito à solidão da Capela Sistina, já está nas ruas, com as diversas correntes se articulando para definir o futuro Pontífice. E o risco é o embate se tornar mais agudo, dividindo uma Igreja que há tempos vem lutando para se manter coesa.
Francisco, com ousadas mudanças, contrariou segmentos importantes da Igreja, que querem a retomada dos dogmas e uma guinada na liturgia. O Conclave será um momento único e, diante do atual cenário, bem diverso das eleições anteriores.
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