Os primeiros meses de governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem sido marcado pelo acirramento de uma guerra comercial. Inicialmente, Trump anunciou uma série de tarifas sobre a importação de produtos, mas tem recuado e aberto negociações. Apesar disso, o presidente norte-americano estremece ainda mais a relação com a China, com anúncios quase que diários de novas medidas que, ora esticam a corda, ora afrouxam.
O resultado disso é o aumento das incertezas nos mercados globais. Quais serão os impactos na economia, quais países devem ser prejudicados ou beneficiados, haverá uma recessão global? Essas são algumas perguntas que, por enquanto, seguem sem respostas.
No universo dos ativos digitais, o debate também está aberto. Donald Trump foi eleito com um discurso de apoio total ao avanço das criptomoedas – inclusive chegou a lançar sua própria memecoin. Apesar da retórica, ainda há dúvidas sobre quais serão os impactos da política econômica de Trump nas criptos.
“O discurso de Trump pró-cripto empolgou. Mas suas ações — especialmente no comércio exterior — têm feito o oposto do que o mercado precisa. É uma contradição: o mesmo governo que promete liberdade monetária está reacendendo protecionismo e instabilidade. Cripto sofre no curto prazo, porque ainda apanha junto com os ativos de risco. Mas no médio prazo, essa bagunça só reforça a necessidade de ativos que não dependam de governo nenhum”, comenta Fabrício Tota, vice-presidente de Novos Negócios do Mercado Bitcoin.
Elaine Borges, professora doutora de Finanças da USP, entende que a situação não está favorável para os ativos de risco, mas que as criptos ainda podem se favorecer do cenário. “Geralmente, nesses momentos de incerteza, os investidores tendem a recorrer a investimentos mais seguros. Isso seria prejudicial para mercados com mais volatilidade, como o mercado de criptomoedas. Ao mesmo tempo também existe uma visão de que o Bitcoin, por exemplo, seria um porto seguro, como o ouro. Isso porque é anticíclico, a inflação é controlada porque a oferta de Bitcoin é limitada e não está atrelado a nenhuma política monetária”, diz.
A professora acredita, ainda, que as criptomoedas podem ser atrativas para o comércio global. “As criptomoedas têm sido muito usadas como meio de pagamento porque são descentralizadas, transparentes e uma forma de negócios entre países sem intermediários. Então, em guerra tributária, pode ser que isso seja reforçado. Pode ser um jeito fácil dos países negociarem entre si, principalmente com tensões geopolíticas”, completa Elaine.
Comportamento do Futuro de Bitcoin
Um exemplo que pode ilustrar bem esse cenário é o comportamento do Futuro de Bitcoin no 1º trimestre de 2025, em que é possível observar um aumento de interesse pelo ativo, mas desvalorização. De acordo com levantamento da DataWise+, uma solução B3 e Neoway, o Futuro de Bitcoin teve um volume de negociação de R$ 1,6 trilhão no período, um aumento de 33% em relação ao 4º trimestre de 2024.
Ao mesmo tempo, houve desvalorização de 15% no Futuro de Bitcoin nos primeiros três meses desse ano.
Criptomoedas: oportunidades em meio ao caos
Apesar do aumento da aversão ao risco, o momento de volatilidade pode gerar oportunidades para investidores acostumados com fortes emoções, como quem opera no day trade, por exemplo. “Volatilidade assusta, mas pra quem gosta de trades curtos, é o paraíso: cria oportunidades de entrada, movimenta o mercado e separa o ruído do fundamento”, afirma Tota.
Elaine entende que, caso haja uma crise econômica global, as criptos podem gerar interesse dos investidores como alternativa às moedas tradicionais. “Numa guerra comercial, com inflação, crise bancária, geopolítica incerta, o sistema financeiro tradicional é geralmente questionado, principalmente pelos mais jovens. A preocupação com a desvalorização do dinheiro pode também gerar mais fluxo para a adoção das criptomoedas”, analisa.
Para Fabrício Tota, o mais importante é que o investidor tenha em mente que os aspectos que dão estrutura ao mercado de ativos digitais são mais relevantes do que os anúncios de cada dia . “O maior risco é acreditar que só porque o discurso político mudou, o mercado mudou junto. Não mudou. Tampouco a tecnologia. Temos uma economia global ainda pressionada, juros elevados, incertezas geopolíticas e agora um elemento extra: tarifas descoordenadas que pressionam a inflação e afastam liquidez”, afirma o executivo.
Portanto, em momentos de incertezas, é fundamental que o investidor tenha uma base sólida de conhecimento sobre o mercado financeiro para agir mais por convicção e menos por pressão. “Cripto ainda é visto como ativo de risco — e, nesse ambiente, isso pesa. Quem quiser estar nesse mercado precisa ter estratégia bem definida. E, principalmente, estar acompanhado de quem conhece esse mercado há anos e já viu volatilidade cripto antes”, concluiu Tota.
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