Todos os dias nós assistimos aos noticiários na televisão ou lemos notícias nos principais sites de jornalismo no país, sobre todos os assuntos. Para produzir estas notícias, o jornalista precisa investigar o tema, correr atrás de informações, buscar depoimentos, testemunhas, fontes – elementos que ajudem a corroborar a verdade que se intenta revelar. O jornalismo investigativo é arriscado, muitas vezes envolve riscos reais à vida do profissional, e por muitas vezes uma investigação traz consequências para a vida toda. Com isso em mente, chegamos ao filme brasileiro ‘Serra das Almas’, que teve uma pré-estreia animada no Festival do Rio 2024 e chega após o feriadão aos cinemas brasileiros.
Samanta (Julia Stockler, de ‘A Vida Invisível’) é uma jornalista casca grossa, que não mede esforços em conseguir trazer a verdade à tona. Quando vai a uma coletiva de imprensa envolvendo um político influente e outros figurões da cidade, ela fica sabendo de uma informação quente, que poderá levar a uma grande revelação sobre o envolvimento de pessoas importantes da cidade e o tráfico de pedras preciosas. Mesmo sabendo do risco, Samanta vai atrás dessa investigação, acompanhada da estagiária Luiza (Patty Siqueira), mas as duas acabam cruzando o caminho de três rapazes envolvidos com o crime (Ravel Andrade, Jorge Neto e David Santos), e agora as duas precisarão colocar suas diferenças de lado e lutar juntas para escapar do perigo em que se meteram.
Acompanhando as características dos thrillers psicológicos e de ação, ‘Serra das Almas’ traz elementos envolventes de dois universos bem demarcados do brasileiro: a vida corrida no centro urbano (o universo político e jornalístico, centralizados pela personagem de Julia Stockler) e o periférico nordeste, metamorfosamente apresentado por uma cidade ao mesmo tempo com elementos contemporâneos e inserida duma imensidão que a isola do resto do mundo pela proximidade da natureza árida (o núcleo do crime no filme, no qual se destaca Mari Oliveira).
Com roteiro imersivo de Maria Clara Escobar (‘Desterro’), Paulo Fontenelle (‘O Porteiro’) e Audemir Leuzinger (‘Carnaval’), a história se desdobra em múltiplos gêneros que se mesclam – ação, suspense, drama e até pitadas de humor aqui e ali, para aliviar a tensão principalmente no terço final – aos quais o diretor Lírio Ferreira (‘Árido Movie’) equilibra atento à veracidade do seu enredo: a qualquer deslize, a inverossimilhança poderia vir à tona – coisa que não acontece. Dessa forma, temos uma história de ficção que mui facilmente poderia ser uma história real, dado o absurdo que é nossas manchetes policiais, principalmente as notícias de fronteira e contrabando (não à toa, já temos até seriados documentais que abordam o tema).
‘Serra das Almas’ podia até ser só isso, mas optou por ser mais do que entretenimento, trazendo um poderoso plot twist em sua trama que faz com que sua conclusão leve o espectador a conectar todos os núcleos e experenciar, brevemente, as consequências e as escolhas de quem faz jornalismo investigativo. Mesmo que na ficção, não é fácil.
Com um elenco entrosado e uma história que conecta algumas facetas desse Brasil imenso, ‘Serra das Almas’ desponta como uma demonstração da boa capacidade dos criadores de cinema de gênero do Brasil ao entregar uma boa história de thriller policial bem realizada por uma equipe engajada e eficiente.
