Países abriram negociações indiretas por novo tratado sobre programa nuclear iraniano. Acordo anterior foi abandonado por Trump em 2018.Irã e Estados Unidos realizaram conversas consideradas “construtivas” neste sábado (12/04) em Omã sobre o programa nuclear iraniano, e concordaram em se reunir novamente na próxima semana, segundo representantes dos dois lados.
O diálogo acontece em meio a ameaças do presidente americano Donald Trump, que promete escalar uma ofensiva militar contra a República Islâmica caso um novo acordo não seja alcançado.
Os dois países, que não mantêm relações diplomáticas há mais de 40 anos, buscam um novo acordo nuclear depois que Trump retirou os EUA de um tratado anterior durante seu primeiro mandato em 2018.
“Acredito que estamos muito próximos de estabelecer uma base para negociações. Se conseguirmos finalizar isso na próxima semana, teremos avançado bastante e poderemos iniciar discussões concretas a partir daí”, afirmou o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, à uma televisão estatal.
Essa foi a primeira rodada de conversas entre o Irã e uma administração Trump — incluindo seu primeiro mandato entre 2017 e 2021 — e, segundo Araqchi, ocorreu em um clima “produtivo, calmo e positivo”.
“Ambos os lados querem um acordo em curto prazo. Não estamos aqui apenas para conversar por conversar”, disse ele.
A Casa Branca também classificou as conversas como “positivas e construtivas”, destacando a participação do enviado especial de Trump para o Oriente Médio, Steven Witkoff.
Diálogos indiretos
A pedido do Irã, os diálogos foram indiretos, com intermediação do governo omani, contrariando a preferência de Trump por encontros presenciais. Cada delegação permaneceu em uma sala separada e trocou mensagens por meio do ministro das Relações Exteriores de Omã, segundo o porta-voz iraniano Esmail Baghaei.
Araqchi relatou que, ao final de mais de duas horas e meia de conversas indiretas, os chefes das delegações iraniana e americana conversaram brevemente. “Foi um gesto dentro do protocolo diplomático”, afirmou.
Segundo a agência de notícias Reuters, os diálogos se concentram na redução de tensões regionais, troca de prisioneiros e possíveis acordos pontuais para aliviar sanções em troca de limitações ao programa nuclear iraniano.
Ameaça de bombardeio e sanções
Trump, que retirou os EUA do acordo nuclear de 2015 durante seu primeiro mandato, voltou a adotar uma postura mais dura diante do Irã.
Em 2018, o presidente retirou a Washigton do tratado, por entender que ele deveria conter também a interrupção de “atividades malignas” do regime, incluindo os apoios dados a governos e grupos na região.
“Estou aberto a conseguir um acordo mais amplo que aborde toda a gama de atividades malignas do regime, entre elas seu programa de mísseis balísticos e seu apoio ao terrorismo”, afirmou o presidente americano na ocasião, antes de aplicar um novo pacote de sanções contra a República Islâmica.
Teerã encara as negociações com cautela. Trump já ameaçou bombardear o país caso não interrompa seu programa de enriquecimento de urânio — um possível caminho para a construção de armas nucleares.
A República Islâmica violou o acordo repetidas vezes após a saída americana.
Os países ocidentais argumentam que o enriquecimento de urânio pelo Irã já ultrapassou os limites de um programa civil e acumula estoques com níveis de pureza próximos aos exigidos para armas nucleares.
O último relatório da Agência Internacional de Energia Atômica disse que o Irã tinha uma estimativa de 274,8 quilos de urânio enriquecido a 60%, aproximando-se do grau de armamento de 90%.
O Irã, que insiste que seu programa nuclear é apenas para fins civis, intensificou suas atividades depois que Trump se retirou do acordo. O país nega que esteja tentando desenvolver armas nucleares.
Disputa de décadas
Apesar de ambos os lados demonstrarem otimismo com relação a avanços, a disputa se arrasta há mais de duas décadas.
Além do programa nuclear, Israel — aliado de Washington — também vê o Irã como uma ameaça por conta de seu apoio a grupos como o Hezbollah.
“Estamos apenas no início. É natural que, neste momento, as duas partes apresentem suas posições fundamentais por meio do intermediário omani”, disse o porta-voz iraniano Esmail Baghaei.
Sinais de progresso podem ajudar a reduzir as tensões em uma região marcada por conflitos desde 2023, trocas de mísseis entre Irã e Israel, ataques dos rebeldes houthis no Mar Vermelho e a queda do governo sírio.
Por outro lado, o fracasso das negociações pode aumentar o risco de um conflito maior em uma região vital para o abastecimento global de petróleo. O Irã já advertiu seus vizinhos que abrigam bases dos EUA sobre possíveis “graves consequências” caso apoiem qualquer ação militar americana.
“Existe a chance de um entendimento inicial sobre futuras negociações, desde que a outra parte [os EUA] participe com uma postura de igualdade”, afirmou Araqchi à TV iraniana.
gq (Reuters, AFP)
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