Crítica 2 | ‘Operação Vingança’ diverte com armadilhas criativas e elenco afiado

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No final do ano passado, quando Rami Malek subiu ao palco da D23 Brasil para anunciar Operação Vingança, o público do auditório não sabia bem o que esperar desse projeto, que mais parecia uma grande série de espionagem do que um filme. E agora que chegou aos cinemas, é realmente curioso perceber como o longa parece uma grande série editada para esse formato.

A trama gira em torno de Charles Heller (Malek), um programador da CIA que é conhecido por seus amigos de setor por ter um raciocínio lógico incomodamente afiado. Durante uma viagem de sua esposa a Londres, Heller recebe uma mensagem de um contato sobre arquivos roubados de sua instituição que apontam o envolvimento da diretoria da CIA em crimes de guerra. O problema é que sua investigação é interrompida por uma notícia devastadora: a esposa de Charles morreu em um atentado terrorista durante a viagem. Desolado com a inércia da CIA em resolver o caso, ele começa uma investigação por conta própria e vai atrás dos bandidos, dando início a uma trama sobre uma pesadíssima conspiração internacional.

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Rami Malek interpreta Heller, e Rachel Brosnahan é Sarah em ‘Operação Vingança’. Divulgação/ 20th Century Studios.

O longa é um projeto muito pessoal para Rami Malek, que faz sua estreia nos cinemas também como produtor. Ele contou na coletiva que tentou participar de todos os detalhes do filme, e isso fica bastante nítido no desenrolar da trama. O ator/ produtor é muito metódico, e o Operação Vingança é um thriller efetivamente metódico. Dá para enxergar referências buscadas de produções como 24 Horas, 007 e também Mr. Robot. Mas o que realmente conquista são os momentos Esqueceram de Mim. Sim, você leu certo. Como Charles não se considera um assassino, ele busca sua vingança contra os algozes de sua esposa por meio de armadilhas.

A lógica de seus atos é criar arapucas por meio de sua inteligência. Dessa forma, por menores que sejam as chances dos bandidos escaparem, ele considera que se eles morrerem, ao menos tiveram uma possibilidade de tentar fugir. E isso reflete em toda a complexidade desse protagonista, que aparenta ser frio, antissocial e distante, mas que é extremamente humano. É como se ele tivesse guardado seus sentimentos por toda a vida, mas eles tivessem aflorado todos de uma vez diante da tragédia.

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Caitriona Balfe interpreta uma personagem misteriosa na trama. Foto: John Wilson. Divulgação/ 20th Century Studios.

No fim das contas, por mais que as cenas de ação sejam de tirar o fôlego e haja espaço até mesmo para um pouco de humor, a trama é essencialmente sobre o luto e como cada um lida com ele. E isso faz desse gênio incompreendido um personagem identificável. O luto é uma condição complexa e que mexe com as pessoas. E o filme é construído de uma forma que parece adaptar todas as possíveis reações exprimidas da perda de uma pessoa amada. E isso se deve muito à atuação de Rami Malek, que mantém seu padrão de atuação, mas também ao elenco de apoio, principalmente Rachel Brosnahan, que tem pouco tempo de tela, mas faz valer cada segundo, e Caitríona Balfe, que interpreta uma personagem misteriosa.

A personagem de Caitríona é interessantíssima porque vive situação parecida com a de Heller. Ela também é movida pelo luto, mas do outro lado do mundo. E quis o destino que eles se encontrassem nessa busca por vingança, nessa busca por ‘paz de espírito’. A dinâmica entre eles, mostrando ela como uma mulher um pouco mais calejada pela perda, enquanto ele ainda age pelo impulso do que está sentindo, é muito bem trabalhada. E os momentos deles em cena trazem um pouco mais de humanidade para o protagonista. Ela é como um lembrete vivo de que se deixar tomar pelo luto pode trazer consequências graves, como a solidão, e sair disso é muito difícil.

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Laurence Fishburne dá vida a Henderson, um tipo de mentor das missões de campo de Heller. Divulgação/ 20th Century Studios.

E precisamos falar sobre Laurence Fishburn. Astro dos filmes de ação da década de 1990, o eterno Morpheus se especializou em interpretar personagens ambíguos em thrillers. Neste filme, não é diferente. Ele interpreta o agente Henderson, um treinador de agentes da CIA para missões de campo. Seu papel começa como um tipo de mentor para Heller, mas a trama o obriga a perseguir seu pupilo, criando um verdadeiro jogo de gato e rato entre eles.

Algumas das melhores cenas do filme são construídas por conta da dinâmica entre os dois, já que além da bandidagem internacional, Heller entra na mira de seu próprio governo, precisando escapar da supervisão de um amigo. São muitas coisas para o protagonista administrar, mas ele lida muito bem com os desafios.

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Foto: John Wilson. Divulgação/ 20th Century Studios.

Operação Vingança é um típico thriller de ação e espionagem à moda antiga. Seu diferencial está na criatividade empregada na forma do protagonista lidar com seus inimigos, criando cenas visualmente incríveis e instigantes. É um filme que tenta te colocar na mente de um gênio da computação, enquanto ele busca formas de lidar com o turbilhão de emoções que sua vida virou. É uma experiência muito interessante.

Operação Vingança está em cartaz nos cinemas.
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