
O Conselho Regional de Economia da 2ª Região – SP (Corecon-SP) publicou na última segunda-feira (7) um comunicado em que alertou para os conflitos de interesse e erros de direcionamento da política econômica por conta do uso do Boletim Focus.
Anunciado semanalmente pelo BC (Banco Central), o levantamento apresenta as projeções das instituições financeiras e consultorias econômicas sobre os principais indicadores econômicos do país e conta com cerca de 160 respondentes. Sua relevância é clara, pois impacta as deliberações da própria autoridade monetária sobre a política de fixação da Selic (taxa básica de juros), atualmente em 14,25% ao ano.
O Corecon-SP lembra que, em primeiro lugar, o Focus não expressa a opinião do BC, como muitos empresários e parte significativa do público em geral são levados a crer; ele apenas é tabulado e divulgado pela instituição. O levantamento explicita exclusivamente a percepção das instituições participantes.
No entanto, o mais importante é que o boletim carrega o viés de interesse dos respondentes — majoritariamente instituições financeiras — que objetivam maximizar seus retornos, como por meio de aplicações com taxa de juros altas e baixo risco.
Ressalte-se que os Títulos Públicos estão entre os principais destinos das aplicações dessas instituições financeiras e que, além de terem o menor risco do mercado brasileiro e elevada liquidez, possuem suas remunerações atreladas à taxa Selic. Logo, as pressões por mais aumentos da já elevada taxa Selic, a partir das expectativas tabuladas no Boletim Focus, por si só, já denotam um conflito de interesses, diz o documento.
Boletim Focus: agentes econômicos são levados a erros de interpretação, diz entidade
Outro ponto de destaque é que os agentes econômicos têm sido levados a erros de interpretação e direcionamento de suas decisões devido aos recorrentes deslizes nas projeções do Focus.
Considerando o primeiro e o último Relatório Focus divulgados em 2024, as estimativas variaram de 3,9% para 4,9% no IPCA; de 1,59% para 3,49% no PIB; de R$ 5,00 para R$ 6,00 no dólar; e de 9% a.a. para 11,75% a.a. na Selic. A variação entre um relatório e outro indica expressivos desacertos nas previsões, destacou o Corecon-SP.
A visão é de que as estimativas do mercado revelam mais desejos do que projeções fundamentadas sobre o que realmente se acredita que ocorrerá. Há um incentivo intrínseco, quase sem risco, de grande parte dos respondentes em superestimar a inflação, com o objetivo de pressionar pela manutenção da elevada taxa Selic e, consequentemente, assegurar juros reais mais elevados na economia brasileira e garantir alta rentabilidade nas suas operações financeiras e nos seus fundos administrados, afirma.
Segundo o Corecon-SP, como está hoje, o Focus impacta as expectativas de forma positiva e negativa, mas sempre com o viés interpretativo do mercado financeiro, que tem uma presença exagerada na composição da amostra.
Empresários que investiriam na economia real tornam-se mais refratários, o que afeta o crescimento econômico, os investimentos produtivos, a geração de empregos e a própria competitividade sistêmica brasileira. Quase todos perdem, pela ausência de diversidade de agentes econômicos respondentes, diante do desequilíbrio decorrente da amostra que origina o levantamento, explicou.
O Corecon-SP defende a necessidade de buscar uma forma alternativa — para o bem do Brasil, pois, como está, o Focus desvirtua a realidade em favor de poucos. Nesse sentido, o Relatório Firmus é uma importante iniciativa. Porém, precisa ganhar fôlego e receber a devida atenção da sociedade, da mídia e até do próprio BCB, diz. O Firmus é uma pesquisa trimestral, ainda em fase piloto (já na terceira edição), cujo objetivo é captar a percepção de empresas não financeiras sobre a situação de seus negócios e em relação às variáveis econômicas que influenciam suas decisões.
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