‘Nova ordem cambial’? Dólar sofre contra divisas globais no 1TRI25

Foto: Dólar/CanvaPro

Depois do Ibovespa, ficou por conta do mercado cambial causar surpresa aos investidores no primeiro trimestre deste ano. Com o cenário externo deixando o dólar mais fraco, o real, outras moedas emergentes e divisas europeias acumularam forte valorização no período. 

Conforme dados disponíveis no “Investing.com“,  o real valorizou 8,86% frente ao dólar do início de 2025 até a sessão do dia 1ª de abril. Esta foi a segunda maior alta de uma divisa emergente contra a moeda norte-americana, tendo o rublo russo acumulado o maior percentual de ganhos nos três primeiros meses do ano.

O movimento contrasta radicalmente com o comportamento que o dólar vinha demonstrando sobre o real no ano passado, tendo ultrapassado os R$ 6 pela primeira vez na História.

A tendência segue sendo de queda, com o radar apitando em alerta para a política tarifária do presidente dos EUA, Donald Trump, que está intensificando uma guerra comercial global.

Ao final do pregão desta quinta-feira (3), o dólar voltou aos R$ 5,62, caindo 1,23%, como reflexo da nova onda de tarifas dos EUA.

Na avaliação de Bruno Cotrim, economista da casa de análise Top Gain, além do tarifaço, o “grande ponto” para explicar o comportamento do dólar é a entrada de fluxo estrangeiro no Brasil, devido ao carry trade. 

“A nossa taxa de juros continua atrativa, por mais que a curva de juros esteja arrefecendo, inclusive hoje, a curva de juros real brasileira é uma das maiores do mundo. Visto que o Brasil ainda tem possibilidade de apresentar um crescimento depois de uma reorganização fiscal”, disse.

Paralelamente, o quadro dos EUA, nesse aspecto, tem previsões de que o Fed (Federal Reserve), Banco Central do país, possa reduzir as taxas de juros, segundo Pedro Ros, CEO da Referência Capital. Isso torna o dólar mais fraco a nível global e fortalece moedas emergentes com fundamentos sólidos, a exemplo do real. 

Por sua vez,  Pietro Tortoreli – sócio e analista da Skopos Investimentos, analisou que um outro fator que pode ter colaborado para esse desempenho no mercado cambial foi a melhora no ambiente político, “sem grandes notícias negativas do ponto de vista fiscal e a queda de popularidade do Lula observada nas pesquisas recentes, que dá alguma perspectiva de mudança de rota na eleição de 2026, o que anima os mercados”.

Confira o desempenho do dólar frente a algumas das principais divisas globais

Moeda Índice / Dólar Desempenho contra o dólar no 1TRI25
Euro EUR/Dólar +4,32%
Libra GBP/Dólar +3,42%
Franco Suiço CHF/Dólar +2,67%
Renminbi chinês CNY/Dólar +0,44%
Rublo Russo RUB/Dólar +0,44%
Rúpia Indiana INR/Dólar +0,15%
Peso argentino ARS/Dólar -4,02%
Real brasileiro BRL/Dólar +8,86%
Fonte: Investing.com / até o fechamendo do dia 1º de abril

Na linha dos mercados emergentes, a moeda russa conquistou uma valorização de 34,62% sobre o real, o que na visão de Bruno Cotrim, se justifica por sua volta ao mercado, bem como pelo “preço de commodity um pouco diferenciado.”

Enquanto isso, Pietro Tortoreli indicou que o trimestre ficou marcado por uma aproximação entre o governo de Trump e do presidente russo, Vladimir Putin, para as negociações de paz na guerra contra a Ucrânia. “Neste cenário, a remoção de sanções à Rússia e a reinserção da mesma nos sistemas de comércio tradicionais trazem perspectivas benignas para o Rublo”, afirmou.

Já o CEO do Grupo Studio, Carlos Braga Monteiro, concordou com a análise sobre a aproximação entre Trump e Putin, acrescentando ainda que a sinalização de redução das tensões geopolíticas reforçou a confiança dos investidores. 

Por outro lado, enquanto o real e o rublo russo valorizaram forte entre as divisas emergentes, o peso argentino registrou uma queda acentuada de 4,02% no 1TRI25. 

Segundo Braga, isso se deve à persistência da instabilidade macroeconômica, inflação elevada e desconfiança quanto à condução da política monetária no país latino americano, sobretudo por conta das “medidas intervencionistas” recentes.

No entanto, na avaliação de Bruno Cotrim, a Argentina passa por uma reestruturação econômica “bem maior e bem mais sofisticada” do que a economia brasileira.

“A nossa economia requer pontos mais fiscais, que é necessário para o nosso país continuar andando. A mudança drástica que houve na economia após a entrada do Javier Milei, ela mexe, sim, com pontos de indústria e de crescimento econômico no curto prazo. Então, toda essa reestruturação econômica e fiscal que a Argentina está fazendo é para colher fruto de um longo prazo”, disse.

O analista apontou que o Brasil está mais atrativo por sua geração de riqueza, com o setor do agronegócio e setores mais cíclicos, como o varejo e serviços, visto que as commodities têm grande peso no Ibovespa.

 “E o setor financeiro, obviamente, que com a entrada desse fluxo cambial todo, também se torna bem atrativo para a tomada de título de dívida privada. E até emissão de novos títulos, que é o que as empresas do agro já estão fazendo”, completou.

Divisas europeias

Apesar de ter tido um desempenho mais fraco que as divisas emergentes, as moedas europeias também se fortaleceram contra o dólar neste início de ano, o que, de acordo com os especialistas, se deve a uma combinação de fatores que inclui os juros e a geopolítica.

Conforme a análise de Pedro Ros, o fato das moedas da Europa terem expressado um desempenho inferior às emergentes sobre o dólar é um reflexo do reposicionamento global dos investidores, “que estão enxergando maior potencial de retorno nos países emergentes, especialmente no Brasil.”

“A combinação de juros reais elevados, estabilidade política relativa e um mercado consumidor aquecido favorece o Brasil. Enquanto isso, a Europa segue enfrentando desafios de crescimento e tensões geopolíticas que reduzem o apetite de risco”, afirmou.

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