Brasil tem que ser prudente após o tarifaço

editorial

O mundo ainda avalia a extensão dos danos provocados pelo tarifaço apresentado pelo presidente Donald Trump, na última quarta-feira, mas há consenso sobre os resultados: vão comprometer a economia global, e não há garantias de sucesso para os Estados Unidos. A revista inglesa “The Economist”, em matéria de capa, disse que “Trump leva as políticas comerciais dos EUA de volta ao século XIX”, chamou o pacote como o maior erro da história moderna e classificou a data como “Dia da ruína”. As bolsas de valores caíram mundo afora.
A incerteza se acentua ante a reação dos países afetados. A União Europeia passou o dia em discussão, mas está convencida de que terá que reagir. A China, o terceiro maior parceiro econômico dos EUA, e alvo da maior tarifa, pediu a revogação da medida ante a possibilidade de também impor duras restrições aos negócios americanos.
O Brasil, surpreendentemente afetado pela tarifa mínima de 10%, quer levar a discussão para a Organização Mundial do Comércio, mas mantém seus canais de negociação abertos com os Estados Unidos, sobretudo por não ter sido o alvo prioritário da canetada do presidente americano. Ao contrário, teve a mesma taxação da Argentina, cujo presidente se diz amigo de Trump.
Desde a sua posse, Donald Trump vem tomando medidas disruptivas em busca de uma nova ordem econômica e política. Seu tarifaço foi plenamente anunciado, e era questão de tempo a sua implementação. Agora está valendo. O passo seguinte é saber como ficarão os atos de comércio daqui por diante se os países mais afetados também tomarem duras medidas.
Quando presidia o Federal Reserve (FED), o Banco Central Americano, o economista Paul Volker (1927/2019) implementou uma elevação drástica dos juros americanos, após o segundo choque do petróleo, em 1979. Os efeitos foram danosos para os países latino-americanos, entre eles o Brasil, levados à moratória ante a crise da dívida. Por ironia, o presidente era o democrata Jimmy Carter, provando, já naquele tempo, que os negócios não podem ser confundidos com amizade, como pensa o argentino Javier Milei.
Desta vez, porém, os efeitos não estão circunscritos aos países sul-americanos. Com o multilateralismo, que conectou as economias, uma medida de tamanha relevância afeta todos os mercados.
Para o Brasil, a melhor opção é continuar monitorando os dados, apartado da retaliação, que será a próxima arma de negociação, especialmente da União Europeia. Entrar no mesmo discurso é investir em riscos, sobretudo pelo fato de os europeus também serem áreas de resistência aos negócios brasileiros. O agronegócio, vira e mexe, é questionado pelos produtores franceses, que têm no presidente Emmanuel Macron o seu principal aliado.
Com demandas internas a resolver, o Governo brasileiro deve colher a opinião do mercado interno para, só a partir daí, se for necessário, tomar alguma atitude relevante.

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