Copom indica avanço menor da Selic, mas segue preso à inflação

Foto: Pexels / Real

Sem surpresas para os agentes do mercado financeiro, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a Selic (taxa básica de juros) em 1 ponto percentual, levando os juros a 14,25% ao ano. O ponto de destaque, no entanto, foi a indicação de que nas próximas reuniões as decisões do colegiado devem ser em um nível mais ameno do que foram nas duas últimas decisões.

Este é o maior nível do índice desde 2016 e novamente a decisão foi unânime, como tem sido desde a reunião do Copom em junho do ano passado. O colegiado tem se mostrado comprometido em levar a inflação à meta de 3%. Atualmente o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) está em 5,06%.

Em paralelo a isso, a superquarta também teve decisão do Fed (Federal Reserve) em manter a taxa de juros na faixa entre 4,25% a 4,50% ao ano, fato ao qual o Copom também esteve atento para finalizar sua decisão. 

Na visão do economista da Corano Capital, Bruno Corano, enquanto os mercados globais seguem se apegando às declarações e projeções de Jerome Powell, presidente do Banco Central dos EUA, “pouco importa o que o Powell diz; o que importa é como os indicadores vão se comportar”, afirmou.

“O que na verdade chama a atenção, é que enquanto praticamente todo o resto do mundo reduz juros, ou, na pior das hipóteses, mantém, o Brasil é uma das poucas, se não a única economia, que precisa subir juros”, salientou Corano.

Em sua avaliação, a decisão do Copom em seguir aumentando a taxa Selic mostra “claramente”, que tem “algo errado com a nossa economia […] algo não está sendo corretamente gerenciado no Brasil”. 

Já o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, comentou que a sinalização de dinamismo e moderação do crescimento da atividade econômica foram pontos relevantes no comunicado do Copom. Porém, há ressalvas quanto ao momento em que esse movimento deve se fortalecer, por isso, os membros não se comprometeram com um guidance exato. 

“A porta está aberta para essas três possibilidades de elevação”, disse Gala. Logo, a Selic poderá ser elevada em 0,25, 0,50 ou 0,75 ponto percentual no futuro.

Como a próxima reunião ocorrerá em maio, o economista afirmou que o Comitê poderá se ater a três dados principais nesse tempo para guiar seu movimento, sendo eles: a desancoragem das expectativas, a maior resiliência na inflação de serviços – em função do hiato de produto muito apertado – e um temor de câmbio mais depreciado.

Na avaliação de Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos, o comunicado do Comitê veio mais “hawkish” do que o esperado, com o destaque para a preocupação com o quadro econômico dos EUA, que está incerto e pode sofrer com o processo inflacionário devido às tarifas de Donald Trump, presidente do país.

“Para a próxima reunião, eu trabalho com uma possibilidade de um aumento de 0,5%. E acho que o tom ali ficou mais ou menos nisso. Quando eles falam de dinamismo nos preços, eu vejo isso como o início de uma correção inflacionária aqui”, projetou Correia.

Efeitos da decisão do Copom

Mesmo que as próximas elevações sejam menores, a perspectiva é de que a Selic continue sua trajetória de alta ao longo de 2025, podendo ultrapassar os 16% ao ano, segundo Marcio Saito, CFO da Entrepay. 

“Esse cenário adiciona mais um entrave à atividade econômica, reduzindo o poder de consumo da população e impactando setores como varejo e serviços, que dependem diretamente do crédito para girar suas operações”, disse o especialista.

Ainda segundo Saito, os pequenos empresários são a classe que mais deve ser desafiada, visto que muitos negócios contam com crédito para financiar estoques, antecipar recebíveis ou expandir suas operações.

“Além disso, há um efeito direto na competitividade. Grandes empresas, que têm maior acesso a crédito com condições mais vantajosas, tendem a ter mais resiliência nesse cenário. Já os pequenos negócios enfrentam dificuldades adicionais na busca por capital de giro e investimentos”, afirmou Saito.

Também nessa linha de competitividade, porém no cenário global que está entrando em uma rota mais protecionista e de concorrência internacional acirrada, Felipe Queiroz, economista-chefe da APAS (Associação Paulista de Supermercados), avaliou que o Copom deveria adotar “uma ação mais parcimoniosa em relação ao ciclo de alta da taxa de juros e não prejudicar a produção, o consumo e os investimentos domésticos”. 

“O Brasil já possui uma das maiores taxas reais de juros do mundo, e com a recente calibragem da Selic, torna ainda mais difícil fomentar o nível de investimento necessário para o país se manter competitivo internacionalmente neste cenário de neoprotecionismo. Além disso, os efeitos sobre os empregos e sobre o consumo das famílias são deletérios”, completou.

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