Fed: tom é mais otimista que o esperado e bolsas respondem bem

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Foto: Fed de Chicago

O tom mais otimista do que o esperado do comunicado do Fed (Federal Reserve) ao divulgar sua decisão sobre os juros (de manutenção da taxa entre 4,25% e 4,5%) animou os mercados nesta quarta-feira (19), destacam especialistas. Por volta das 17h05, o Ibovespa subia 0,83% e o Dow Jones encerrou o pregão em alta de 0,92%.

Assim como em janeiro, o comunicado destacou a estabilidade nas condições econômicas nos últimos meses, com o desemprego baixo e a inflação ainda pouco elevada. Por outro lado, reconheceu que as incertezas em torno do cenário econômico se elevaram desde a última reunião, resume Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.

Esta é a segunda reunião em que o Fed opta por não modificar a taxa. A incerteza em torno da desaceleração econômica no país indica que o Banco Central americano deve manter esse patamar pelo menos até as próximas duas reuniões, avalia o economista e head de conteúdo da Melver, Alexandre Dellamura.

“O Fed ainda demonstra preocupação com a inflação e dificuldades em controlá-la. Isso, aliado a possíveis efeitos inflacionários das medidas tarifárias de Donald Trump, faz a maioria do mercado acreditar que um possível corte poderá ocorrer apenas a partir de julho”, diz o economista.

A decisão de manter a taxa de juros inalterada já estava prevista. Dessa forma, as novas projeções dos membros do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto) para indicadores e decisões sobre os juros dos EUA se fazem até mais importantes que a taxa em si, destaca Igliori.

“De um lado, foi mantida a expectativa de mais dois cortes de 0,25 ponto percentual em 2025, levando as taxas de juros para o intervalo entre 3,75% e 4%. De outro, ocorreram alterações nas projeções para inflação e desemprego, refletindo uma piora nas expectativas”, comenta o economista.

Espera-se que o PCE (Índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal) termine o ano em 2,7% (de 2,5% na projeção de dezembro) e que a taxa de desemprego suba para 4,4% (de 4,3% na projeção de dezembro), além de uma redução no crescimento do PIB, mais substantiva, de 2,1% para 1,7%.

Discurso do presidente do Fed também ficou dentro do esperado

Outro acontecimento mais esperado que a própria decisão foi a entrevista coletiva do presidente do Fed, Jerome Powell. Nela, o dirigente reconheceu que a incerteza cresceu, mas que é muito cedo para antecipar os resultados sobre os indicadores econômicos objetivos (atividade e inflação, principalmente).

Ao mesmo tempo, Powell admitiu que uma parte dos ajustes nas projeções são produto das expectativas sobre o efeito das novas tarifas. Segundo o coordenador de economia da APIMEC Brasil, Alvaro Bandeira, o discurso do presidente do Fed veio dentro do esperado, ao reforçar que a instituição está apta a corrigir a política monetária em caso de riscos.

A vida dos membros do Fomc ficou mais difícil, mas até o momento os ajustes nas perspectivas para a política monetária foram bastante parcimoniosos. Até a próxima reunião muita coisa pode mudar”, avalia Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.

O analista Ângelo Belitardo, da Hike Capital, reitera que a situação é desafiadora, lembrando que ainda há receios no mercado sobre uma possível recessão nos EUA. O JPMorgan, por exemplo, chegou a prever uma chance de 40% de recessão na economia do país neste ano.

“Se isso chegar a vias de fato, aí sim o Fed vai ter que se mexer, talvez um pouco mais rápido do que ele está esperando e do que o próprio mercado está esperando”, comenta o analista e cofundador da Escola de Investimentos Rodrigo Cohen.

Mesmo considerando improvável que uma recessão se concretize, Belitardo destaca que pode haver uma redução no consumo do país. Para o analista do Andbank Fernando Bresciani, inclusive, o próprio Fed entende que a possibilidade de uma recessão profunda é considerada muito baixa.

“Em relação à atividade econômica, Powell afirmou que os dados concretos sobre a economia real continuam sólidos e não demonstrou grande preocupação com uma possível recessão. Ele reconheceu que sempre existe uma possibilidade incondicional de recessão, e disse que, apesar da mudanças, essa probabilidade ainda não é considerada elevada”, reforça a economista do ASA Andressa Durão.

“Outro ponto significante foram os dados da China, que mostraram que não vai acontecer caos”, lembra Belitardo. O país asiático divulgou recentemente dados do setor imobiliário que mostram sinais de recuperação.

Outro ponto que atrai atenções e pode definir os rumos da política monetária é a possibilidade de encerramento da guerra entre Ucrânia e Rússia. “Isso também pode ajudar em uma queda no preço do petróleo, ajudando na inflação como um todo”, avalia o especialista.

Com todas essas possibilidades em jogo, o comunicado do Fed, apesar de ter sido mais otimista que o esperado, demonstrou que o Fomc observa a situação com cuidado.

“O que parece é que o Fed não quer pressionar mais a curva de juros num momento em que tem muitas forças acontecendo, tanto eventualmente na questão de desaceleração, quanto sobre o efeito das taxas da política tarifária do governo Trump, que pode ser inflacionária”, resume o gestor de portfólio da Oby Capital Camilo Cavalcanti.

Para o economista e head de conteúdo da Melver, Alexandre Dellamura, a decisão do Fed desta quarta-feira (19) reflete um “dilema clássico” da política monetária: estimular o emprego ou controlar a inflação.

“De um lado, a criação de vagas desacelerou e o desemprego segue acima de 4%, um nível que historicamente justificaria um corte nas taxas para impulsionar a economia. No entanto, o núcleo do PCE continua acima da meta de 2%, demonstrando que as pressões inflacionárias ainda não foram completamente dissipadas”, destaca.

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