Crítica | ‘Branca de Neve’ recaptura a magia da animação original através da fabulosa atuação de Rachel Zegler

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Em 1937, o mundo do cinema mudava para sempre com o lançamento da atemporal animação ‘Branca de Neve e os Sete Anões’. O longa-metragem marcou o lançamento da primeira princesa da Walt Disney Studios e calcou todas as produções inspiradas em contos de fada que seriam lançadas nos anos e nas décadas seguintes – carregando um legado inenarrável que estende suas ramificações até os dias de hoje e sagrando-se como uma das maiores obras-primas da sétima arte. Agora, quase noventa anos depois da chegada da animação original aos cinemas, somos convidados a uma reimaginação em live-action que já estava em desenvolvimento há bastante tempo e que finalmente vê a luz do dia pelas mãos de Marc Webb.

A trama, expandida tanto da animação clássica quanto do conto original assinado pelos Irmãos Grimm, é centrada em Branca de Neve (Rachel Zegler), uma jovem sonhadora que perdeu a mãe para uma doença terrível e cujo pai saiu para defender o reino dos inimigos das terras do Sul e não voltou mais – deixando tanto o castelo quanto os súditos sob as mãos da tirânica madrasta de Branca, a Rainha Má (Gal Gadot). Forçando a heroína a trabalhar constantemente como serva e usurpando todas as riquezas, a Rainha submeteu o reino à desesperança e à falta de prospecto, fazendo-o se esquecer até mesmo da existência de uma princesa benévola como o saudoso Rei. Guiada pelos próprios caprichos e por um Espelho Mágico (cuja voz pertence a Patrick Page), ela se importa apenas com sua beleza – e se vê ameaçada quando Branca torna-se a mais bela de todas, lançando-a a um ímpeto de inveja e de vingança derradeiro.

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Arquitetando um terrível plano, a Rainha contrata os serviços de um Caçador (Ansu Kabia) para levá-la a uma parte distante da floresta, onde ele deve matá-la e arrancar seu coração. Porém, em meio à gentileza de Branca, seu suposto algoz a deixa viver e a incita a fugir; a jovem, então, se embrenha na parte mais escura da floresta até ser auxiliada pelos animais silvestres, chegando a uma pitoresca casa onde moram sete Anões – Mestre, Feliz, Soneca, Dengoso, Dunga, Zangado e Atchim – que se tornam seus aliados e a ajudam a enfrentar não apenas a Rainha, mas a reaver o reino que lhe pertence por direito.

Sempre que escrevo algum texto sobre um remake em live-action da Casa Mouse, deixo bem claro que a maior parte das investidas costuma falhar em capturar a essência do material original ou até mesmo a entregar um produto que seja bem-feito – como é o caso de ‘Alice no País das Maravilhas’, ‘Dumbo’, ‘Pinóquio’, ‘Malévola’ e tantos outros. Entretanto, vez ou outra, o time artístico escalado para esses títulos sabe como comandar e nos surpreende com investidas estruturadas com solidez – como ‘A Pequena Sereia’, ‘Aladdin’ e ‘Cinderela’. E, felizmente, ‘Branca de Neve’ integra esse segundo grupo: apesar de claros deslizes que nos fazem torcer o nariz, o resultado é aprazível dentro de seus limites, recapturando a magia que eternizou a protagonista no cenário do entretenimento e trazendo elementos novos que, por vezes, tornam os arcos mais interessantes.

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Zegler é a grande estrela da produção, o que não é nenhuma surpresa: desde sua estreia oficial no remake de ‘Amor, Sublime Amor’, passando por produções como ‘Y2K’ e ‘Jogos Vorazes – A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes’, a jovem atriz mostrou que veio para ficar e que sabe como encarnar qualquer personagem que lhe é dado. Enfrentando críticas inexplicáveis quando escalada, Zegler rende-se de corpo e alma a uma das melhores rendições de Branca de Neve, pegando expressões emprestadas das múltiplas encarnações que a heroína sofreu ao longo da história – mas apoiando-se em uma construção única e que dialoga com sua identidade artística. Como se não bastasse, seus vocais irretocáveis fornecem ainda mais densidade emocional ao arco em que é lançada, com destaque a momentos como “Waiting on a Wish” e “Whistle While You Work”.

Webb alia-se à roteirista Erin Cressida Wilson para dar vida ao projeto e, em boa parte, ele acerta nas escolhas técnicas e imagéticas: a fotografia familiar garante que ambos os lados da história – o de Branca e o da Rainha – sejam diferenciados pelo contraste de cores e até mesmo de enquadramentos, confinando a antagonista a sequências claustrofóbicas que representam a prisão que criou para seus súditos e, inadvertidamente, para si mesma; e colocando a heroína em uma jornada de empoderamento que toma cada vez mais força conforme os planos se abrem e as cores vibram em dourado e amarelo. Todavia, certos momentos parecem ultrapassar as cartas de amor à animação de 1937 e posam apenas como cópia.

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Como mencionado, existem equívocos que mancham a estrutura da obra – mas o principal deles destina-se à crassa performance de Gadot. A atriz, que não é conhecida exatamente por sua versatilidade, se engolfa em uma representação caricata, burlesca e risível de uma das maiores vilãs da sétima arte, ofuscada pela longa sombra deixada por nomes que, de fato, fizeram jus à personagem (como Lana Parrilla, em ‘Once Upon a Time’, e Charlize Theron, em ‘Branca de Neve e o Caçador’). Seja com entonações fora do eixo e uma tentativa frustrada de transparecer frustração e inveja, Gadot inclusive transforma a canção original “All Is Fair” em um festival de canastrices.

Um dos outros pontos positivos da obra é a trilha sonora: Benj Pasek e Justin Paul, que trabalharam juntos em ‘La La Land: Cantando Estações’ e ‘O Rei do Show’, nos presenteiam com faixas modernizadas que, mesmo seguindo a receita de produções similares, funcionam com repaginações mais modernas e arranjos instrumentais imponentes e envolventes. Para além das faixas encarnadas por Zegler, um dos momentos-chave da trama, “Heigh-Ho”, é ampliada em uma divertida narrativa que apresenta os sete Anões pela primeira vez de forma didática e “chiclete”.

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O remake em live-action de ‘Branca de Neve’ pode não ser uma joia reluzente como a animação original, mas nos conquista por não se levar a sério à medida que recaptura a magia do clássico e deixa que Rachel Zegler reitere seu merecido status em uma brilhante atuação.

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