O Conselho que Virou o Jogo

Fausto Leite

Se há uma lição que esta semana deixou clara para todos que acompanham os bastidores da advocacia sergipana, é que o conselho despertou para o seu próprio poder. Antes, tratado como um mero coadjuvante nas decisões que definem o futuro do Tribunal de Justiça de Sergipe, o conselho agora se impõe como protagonista de um jogo que muitos julgavam previamente decidido. E isso, meus caros, gerou pânico entre os grandes caciques da disputa pelo Quinto Constitucional.

O embate está longe de ser apenas uma escolha de nomes. Trata-se da reafirmação da independência da advocacia, do recado claro de que o tempo da imposição acabou. Quem antes transitava com a certeza de que os votos estavam garantidos, agora corre de um lado para o outro, tentando costurar apoios que antes eram tratados como meros trâmites burocráticos. Os conselheiros nunca foram tão visitados, tão cortejados, tão ouvidos.

E a consequência disso? O racha entre os principais articuladores do Quinto. Daniel Alves aponta para Márcio Conrado. Márcio Conrado devolve a acusação. E o governador? Esse, por sua vez, observa com desconfiança aqueles que deveriam garantir um processo previsível. Alguém está mentindo, e o chefe do Executivo sabe disso. E se há uma coisa que um governador não tolera, é ser surpreendido negativamente.

A engenharia política montada para a escolha do futuro desembargador está desmoronando. O que antes era um esquema bem amarrado, onde cada peça se encaixava com precisão cirúrgica, agora virou um cenário caótico de desconfiança e manobras desesperadas. A estratégia que parecia infalível revelou-se uma aposta arriscada, e a grande ironia é que o próprio conselho, antes tratado como um detalhe, é quem está ditando o ritmo da disputa.

Nos bastidores, falava-se de um roteiro ensaiado: Fabiano Feitosa na lista de 12 para agradar o governador, Carlos Pina na lista sêxtupla, Márcio Conrado como nome natural para a escolha final. Mas o diabo mora nos detalhes. O edital foi lançado às pressas, sem dar tempo para que Carlos Pina consolidasse uma base eleitoral sólida. O problema? A jovem advocacia, maioria no colégio eleitoral, não compra candidatos impostos. E aí, o castelo de cartas começou a desmoronar.

Márcio Conrado, que há anos articula sua ascensão ao TJ-SE, viu sua estratégia ruir diante de um cenário inesperado: o conselho assumiu o controle da narrativa. Carlos Augusto, antes tranquilo em sua posição de caçador de oportunidades, agora vê que talvez o terreno que pisava não seja tão sólido assim.

O medo que percorre os corredores do poder é que, se o conselho manteve-se independente até agora, pode ser que a eleição direta ainda esteja viva. A possibilidade assusta quem apostava no controle absoluto da lista sêxtupla. Advogados já discutem teses jurídicas para garantir que a decisão final passe pelo voto da advocacia como um todo, o que mudaria completamente o tabuleiro.

Se há algo que precisa ser resgatado neste processo, é o sentido real do Quinto Constitucional. O objetivo da vaga destinada à advocacia no Tribunal não é atender aos interesses do governo ou de grupos de influência dentro da Ordem, mas sim garantir que a representatividade da classe seja genuína e efetiva.

O Quinto Constitucional não pode ser tratado como um troféu político, um prêmio a quem serviu bem a determinados interesses. O TJ-SE precisa de um nome técnico, íntegro e comprometido com a justiça, e não de um político togado.

A OAB, que sempre se autoproclamou a Casa da Democracia, tem agora uma prova de fogo. Ou garante um processo limpo e transparente, ou assina sua submissão ao jogo sujo do poder.

A advocacia sergipana está diferente. A jovem advocacia não aceita mais ser massa de manobra. O conselho mostrou que não está disposto a ser apenas um carimbador de decisões alheias. O governador, por sua vez, percebe que a escolha do próximo desembargador talvez não esteja tão sob controle quanto imaginava. O jogo virou. Agora é esperar para ver quem vai conseguir jogar melhor.

 

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