Vacinação contra a dengue continua com baixa adesão em Juiz de Fora

Imunização contra a dengue continua com baixa adesão em Juiz de Fora

Imunização contra a dengue continua com baixa adesão em Juiz de Fora
Baixa cobertura vacinal e aumento de testes positivos para sorotipo 3 da dengue têm preocupado especialistas (Foto: Felipe Couri)

Os casos de dengue em Juiz de Fora dispararam no último ano, com um aumento de 954% em relação a 2023. Em 2024, a cidade registrou 16.081 casos da doença, além de dez mortes registradas. No ano anterior, foram 1.525 confirmações e apenas um óbito no município, conforme dados disponibilizados no Painel de Monitoramento de Casos da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). Apesar do avanço da doença e do risco iminente de novas epidemias, a adesão à vacinação contra a doença permanece baixa na cidade.

Embora o Município ter recebido 13.806 doses no total (dados atualizados até 2024), o suficiente para vacinar com a primeira dose cerca de 47% do público-alvo, dados disponibilizados pela SES-MG e pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) apontam que cerca de 81% do grupo da vacinação contra a dengue em Juiz de Fora ainda não recebeu nenhuma dose do imunizante, enquanto quase 95% não receberam a segunda dose. Em agosto de 2024, a Tribuna mostrou que a cidade tinha 17% do público-alvo com a primeira dose. De lá pra cá, o percentual aumentou cerca de 2%.

O esquema vacinal adotado pelo Ministério da Saúde prevê a imunização de crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, faixa etária que concentra o maior número de hospitalizações por dengue, após pessoas idosas, grupo para o qual a vacina ainda não foi liberada pela Anvisa. 

O cenário e o aumento de testes positivos para sorotipo 3 da dengue têm preocupado especialistas, visto que este vírus não circula de forma predominante no país desde 2008 e, consequentemente, grande parte da população está suscetível, incluindo as crianças. Uma análise feita no mês de dezembro revelou que estados como São Paulo, Minas Gerais, Amapá e Paraná apresentam maior número de casos. Em Minas, até esta segunda-feira (20), dados atualizados no Painel da SES-MG apontam 2.123 casos de dengue confirmados em 2025, além de três mortes em investigação. O Ministério da Saúde, inclusive, já contabiliza uma morte pela doença no estado este ano.

Na avaliação do médico infectologista Rodrigo Souza a baixa adesão à vacinação aliada à circulação do sorotipo 3 da dengue pode aumentar o número de internações pela doença. Segundo o médico, o fato de a pessoa já ter tido a doença não a isenta de pegá-la novamente. O infectologista explica que a imunidade é específica para cada sorotipo.

“Uma pessoa infectada pelo sorotipo 1 ainda pode contrair os outros três (até o momento são conhecidos quatro sorotipos). Após uma ampla circulação de um sorotipo, como ocorreu com a epidemia de Dengue 1, no ano passado, é pouco provável que ocorra outra epidemia pelo mesmo sorotipo nos próximos anos. Já o sorotipo 3, que apresentava baixa circulação, já indicava a possibilidade de uma nova epidemia. Como grande parte da população não tem imunidade contra ele, há a expectativa de um aumento significativo no número de casos, o que pode levar a um maior número de internações, pois esse sorotipo tende a causar formas mais graves da doença em pessoas suscetíveis”, analisa o especialista.

Ainda de acordo com o médico, a cobertura vacinal também se dá de acordo com o sorotipo. Segundo ele, a vacina utilizada pelo Ministério da Saúde (Qdenga) é segura e também demonstrou eficácia para os sorotipos 1, 2 e 3, sendo que a maior eficácia foi para o 2. O médico reforça a importância do esquema vacinal contra a doença ser cumprido para garantir a imunização. A Prefeitura informou que as vacinas contra a dengue estão sendo aplicadas em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da cidade, além do Departamento de Saúde da Mulher, Gestante, Criança e Adolescente.

A Tribuna questionou a PJF sobre possíveis ações para aumentar o percentual de vacinação na cidade, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

Imunização contra a dengue continua com baixa adesão em Juiz de Fora
Vacinas são aplicadas em UBSs e também no Departamento de Saúde da Mulher, Gestante, Criança e Adolescente (Foto: Felipe Couri)

Casos devem aumentar em 2025

Ainda que o aumento de casos tenha aumentando de forma significativa de 2023 para 2024, em nota enviada à Tribuna a SES-MG informou que a pasta projeta um número elevado de casos para 2025, especialmente considerando fatores como a alta circulação viral e condições climáticas favoráveis à proliferação do vetor. 

A pasta estadual destacou ainda a preocupação com a reintrodução do sorotipo 3 da  dengue no estado, que pode expandir sua circulação na região, impactando o número de casos. Em Juiz de Fora, o último Levantamento do Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa) de 2024, realizado em outubro pela PJF, revelou que o município enquadra-se na classificação de “médio risco”, conforme os critérios do Ministério da Saúde. O primeiro levantamento de 2025 ainda não foi divulgado, mas as condições sazonais são favoráveis à proliferação do mosquito.

“No verão, as condições climáticas são extremamente favoráveis ao desenvolvimento do mosquito Aedes aegypti. As chuvas regulares abastecem possíveis criadouros no ambiente, como recipientes diversos, pneus, baldes, garrafas e qualquer outro objeto que acumule água da chuva, criando locais ideais para a proliferação do vetor”, explica Fábio Prezoto, professor de Zoologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Especialista em entomologia, sobretudo a dengue, Prezoto destaca que o acúmulo de água em ambientes urbanos é um dos principais fatores que impulsionam o aumento de casos da doença, pois facilita a proliferação de larvas e o estágio de desenvolvimento do mosquito Aedes aegypti

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Ações de combate

Para combater a proliferação da doença, a SES-MG informou que monitora diariamente os casos de arboviroses durante o período de sazonalidade, com base nos dados registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), e que segue adotando medidas de enfrentamento. Entre as ações estão o monitoramento constante e a divulgação de informações para orientar medidas de controle, a capacitação de profissionais de saúde no manejo clínico e atualização de protocolos, campanhas de conscientização para incentivar a eliminação de criadouros e evitar a proliferação do Aedes aegypti, a revisão do Plano de Contingência para garantir ações coordenadas em períodos críticos e o suporte aos municípios com a distribuição de inseticidas, supervisão de agentes de campo e uso de tecnologias como drones e ovitrampas.

Tecnologias tem sido utilizadas para identificar e tratar locais com acúmulo de água parada que possam se tornar criadouros do Aedes aegypti. A iniciativa faz parte da política Vigidrones, desenvolvida pela pasta, que está sendo implementada gradualmente nas 28 Unidades Regionais de Saúde (URS) para otimizar o trabalho dos Agentes Comunitários de Endemias (ACE) nos municípios. Estima-se que 20% a 25% dos focos não são detectados pelos agentes.

O Governo de Minas Gerais investiu R$ 30 milhões na contratação e execução do geomonitoramento por drones. Os drones permitem a identificação de áreas de difícil acesso, como caixas d’água e piscinas descobertas, e possibilitam a aplicação precisa de larvicidas. Em 2024, 394 cidades foram atendidas, com 45.057 hectares mapeados e a identificação de 100.611 potenciais criadouros. 

Fique atento a sintomas e veja como se prevenir

Além das ações realizadas pelos agentes de saúde, a SES-MG informou que a população pode ser prevenir da doença usando repelentes, colocando telas em janelas, removendo recipientes que possam acumular água, fazendo a vedação de reservatórios e caixas de água, além de outras manutenções em casa, como a desobstrução de calhas, lajes e ralos.

Segundo o Ministério da Saúde, a dengue é uma doença febril aguda, sistêmica, dinâmica, debilitante e autolimitada. A maioria dos doentes se recupera, porém, parte deles podem progredir para formas graves, inclusive virem a óbito. A quase totalidade dos óbitos por dengue é evitável e depende, na maioria das vezes, da qualidade da assistência prestada e organização da rede de serviços de saúde. entre os principais sintomas da doença estão: febre, dor de cabeça, fadiga, dores musculares e/ou articulações, dor atrás dos olhos.

* estagiária sob a supervisão da editora Carolina Leonel. 

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