Dona dos maiores festivais do país, Rock World cresce em SP com Lollapalooza e The Town

A Rock World, dona do Rock In Rio, resolveu expandir os seus horizontes para São Paulo para continuar dominando o ramo dos festivais no país. Após 40 anos no Rio de Janeiro e 20 anos do Rock In Rio Lisboa, desde 2023 a companhia voltou os olhares para a capital paulista com o The Town e a aquisição do Lollapalooza.

Criado do zero, o The Town teve a sua primeira edição em 2023 e acontece em anos em que não ocorre o festival carioca. A edição 2025 já está confirmada para o mês de setembro. Já a aquisição do Lollapalooza aconteceu no mesmo ano e a primeira edição com organização da companhia em parceria com a norte-americana C3 foi em 2024. Com isso, a empresa fundada e ainda tocada pela família Medina tem em seu portifólio os três maiores festivais do país, cada um levando cerca de 100 mil pessoas por dia.

“São dois desafios muito diferentes. Criar um festival com personalidade e a cara de São Paulo e assumir um festival que tem uma identidade própria muito consolidada”, explicou Luis Justo, CEO da RockWorld. Rock In Rio e The Town ocorrem de dois em dois anos, já o Lolapalooza é um festival anual. 

O CEO também afirmou que, após um boom dos grandes shows pós pandemia, é natural o cenário contar com um crescimento mais comedido. “Depois de um boom de shows depois da pandemia, alguns artistas voltaram para o estúdio gravar e deixaram um pouco as turnês de lado. Isso é um movimento natural. Mas acreditamos que o cenário vai melhorar”, afirmou.

O executivo não abre números de crescimento da companhia nos últimos anos, mas em entrevista ao site IstoÉ Dinheiro contou sobre como é estar à frente da companhia há 11 anos e quais os desafios do setor.

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Luis Justo, CEO da Rock World (Crédito:Divulgação)

Você está lançando o livro “C.E.O: Conectar, Equilibrar e Orientar” (Editora Gente). O que ele diz sobre liderança que nenhum outro livro já disse antes? 

A ideia do livro surgiu de uma conversa com o meu filho que me perguntou o que fazia um CEO. E eu dei uma resposta rápida falando quais são as responsabilidades que um CEO tem, de gestão e liderança em prol de resultados, mas na sequência eu fiquei uns 15 minutos dizendo quais as habilidades profissionais e pessoais que um CEO deveria ter.

No título eu já faço uma brincadeira com a sigla de ao invés significar Chief Executive Officer significa Conectar, Equilibrar e Orientar, e ele basicamente fala sobre liderança e gestão mas da perspectiva das ambivalências de conseguir ter esse foco no pragmatismo dos resultados, mas trazer conexão com as pessoas e propósito. Esse é o resumo do livro.  

Você foi o primeiro CEO que veio de fora da família Medina na Rock World. Como foi esse desafio? 

Quando me chamaram, a empresa era somente familiar, com a presença do Roberto Medina. E eu cheguei com essa missão de trazer novos sócios pra RockWorld e montar uma governança nova da empresa, mas também sem perder o olhar da família nisso, que ainda está no controle. E desde 2016 a gente conta com a Live Nation como sócia, uma gigante do mercado com ações na bolsa dos EUA.  

Qual é a participação da Live Nation nessa sociedade?

A companhia atua como uma grande holding, que tem presença em diversos países do mundo. Em alguns deles ela atua diretamente na operação e em outros ela entra como sócia de empresas que já têm uma estrutura no país. Aqui no Brasil, além de ser nossa sócia, ela também conta com a Live Nation Brasil, que atua em turnês de grandes artistas e se reporta a sede nos Estados Unidos.  Ele são sócios maravilhosos pois tem uma confiança na RockWorld tocando os festivais no Brasil. É uma parceria estratégica que pode ajudar em relacionamento com artistas, por exemplo. Mas ela não tem ingerência na nossa operação, que é tocada 100% no Brasil.

O Brasil está atraindo muitos shows de artistas internacionais, mas ao mesmo tempo turnês de grandes artistas nacionais, como Ludmilla e Ivete Sangalo, foram canceladas no começo do ano. Como você está vendo o setor de eventos no Brasil no futuro? 

Para falar de presente e futuro a gente precisa falar sobre a pandemia, já que nosso setor foi o primeiro que parou e o último que voltou plenamente. Então havia um desejo represado de eventos ao vivo, de encontros. Muitos artistas saíram em turnê ao mesmo tempo e o público foi ficando mais seletivo. Mas acredito que esse interesse vai seguir vivo, até mesmo por conta de uma digitalização do trabalho e aumento no home office, a necessidade das pessoas se encontrarem ao vivo vai continuar alta.

Falando um pouco sobre bastidores, como acontece e negociação para as trações dos três festivais? 

Ela acontece geralmente um ano e meio, quase dois anos antes da próxima edição, antes de acontecer o festival de fato. Já estamos pensando no Rock In Rio 2026 por aqui. Então a gente leva muita coisa em consideração: se esse artista já está na estrada, a dificuldade logística, se a banda não está em algum hiato, se tem data disponível. Outro desafio é pela data, se aquela banda faz sentido para qual dia tem também questões de data, se pode viajar até a América do Sul. Isso afeta a nossa negociação e às vezes não é possível trazer uma banda que a gente gostaria muito de contar. 

Em 2025 o Lollapalooza vai acontecer em abril e o The Town vai ser em setembro, ambos no autódromo de interlagos. Isso não pode saturar o mercado?

A gente teve muita preocupação com isso e acreditamos que são dois produtos diferentes. O The Town é algo novo, então a nossa ideia era criar algo com personalidade própria, pensando nas características de São Paulo, com palcos e atrações específicas. É como se fosse uma homenagem à cidade. Já o Lola é um festival com uma personalidade muito própria, que já vinha desde antes da gente organizar. Houve essa preocupação de não canibalizar os festivais, mas pensamos em cada um deles com uma personalidade própria. 

Quais são as principais receitas de um festival? 

Como temos uma empresa listada em bolsa como sócia, não podemos abrir números. Mas em termos gerais, bilheteria e patrocínios são as principais fontes de receita. A receita com o bar também é importante, mas o modelo de negócio dos bares depende de cada festival. Pode acontecer o modelo de 100% da receita ficar com o organizador, ou você pode vender essa operação para empresas de alimentação e bebidas explorarem. Na RockWorld muitas vezes há os dois tipos de modelo em um mesmo festival. Outra receita importante é a venda de produtos licenciados dos festivais. 

O que a empresa espera para os próximos anos?

O foco para os próximos anos é a consolidação dos festivais com ampliação das experiências originais.

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