“Rocket Hour”: 9 anos de uma jornada apaixonante no Apple Music!

Rocket Hour Hosted by Elton John

É quase inacreditável olhar para trás e perceber que o Apple Music foi lançado há nove anos, no momento “One more thing…” da WWDC15, na tentativa da Apple de concorrer com o líder de mercado na categoria de serviços de streaming de música, o Spotify, que já vinha ofuscando o iTunes havia alguns anos.

Em referência à apresentação do primeiro iPhone, o Apple Music foi apresentado por Jimmy Iovine como “um serviço de música revolucionário, uma rádio global 24/7 e uma conexão de fãs com artistas”. O serviço, que chegaria transformando para sempre o app Música no iOS 8.4, contava com uma interface radicalmente aprimorada e rica em recursos como um novo minirreprodutor, listas como a “Mais Recentes”, reproduções seguintes e muito mais.

Ironicamente (ou nem tanto), o recurso “Connect” do serviço, que consistia em uma aba de feed social com conteúdos de artistas com os quais os usuários do Apple Music podiam interagir com curtidas e comentários, foi desativado — reforçando a ideia de que a Apple é careta demais para ter sucesso em qualquer iniciativa social.

Na época do lançamento do serviço, a Apple estava certa de que apenas o legado da marca iTunes, do Beats Music (o serviço aposentado pela empresa) e uma interface aprimorada não seriam suficientes para promover sua nova aposta no mercado de streaming de músicas — embora o catálogo do Apple Music tenha chegado já com mais de 30 milhões de faixas, conquistando o posto de maior catálogo do mercado de streaming já em sua data de lançamento.

De volta aos tempos da rádio

Com o objetivo de agregar mais valor à assinatura do Apple Music, a rádio Beats 1 — que seria posteriormente renomeada para Apple Music Radio e Apple Music 1, sucessivamente — foi apresentada como um recurso exclusivo do serviço, disponibilizado gratuitamente com transmissões ao vivo 24 horas por dia, 7 dias por semana, pautada por uma curadoria humana especializada que sugeriria músicas a partir de programas com âncoras influentes na indústria.

Eddy Cue, então vice-presidente sênior de software e serviços da Apple, ao apresentar o Apple Music na WWDC15, definiu os serviços de streaming de música na Apple como “meras playlists”, e posicionou a Apple Music 1 como um serviço de curadoria humana 24/7, liderado por pessoas que entendem de música, e não de software.

Por isso, a rádio chegou ao Apple Music com âncoras conhecidos como Zane Lowe e Ebro Darden (que continuam no comando do Apple Music até hoje), bem como Julie Adenuga (que deixou o projeto em 2020). Hoje, a lista de âncoras é bem mais extensa; estes apresentariam programas com recomendações de música comentadas e também entrevistas com diversos artistas clássicos ou novos na indústria.

Para manter a rádio relevante a partir da sua premissa, ao passo em que o alcance e o reconhecimento do Apple Music fossem ampliados, a Apple também passou a convidar, ao longo do tempo, uma série de artistas para serem hosts dos próprios programas na Apple Music 1. Muitos nomes passaram pelo hall de hosts dos programas da rádio, uns mais e outros menos conhecidos pelo público brasileiro, e a maior parte dos programas continua no catálogo do Apple Music para ser ouvida sob demanda, mesmo que já tenham sido finalizados.

Entre os principais artistas e bandas que já passaram pela rádio com seus programas, estão Lady Gaga, Dolly Parton, Lil Wayne, Anderson .Paak, Jennifer Lopez, Ryan Adams, Shania Twain, Vampire Weekend, Pharrell Williams, The Weeknd, Beastie Boys e muitos outros. Mas houve um programa que, desde o seu anúncio, me chamou muito a atenção: A “Rocket Hour”, apresentada por Elton John.

Entra o “Rocket Man”

Elton, 77 anos, é uma das personalidades mais influentes da música, à qual tem dedicado o trabalho de uma vida que já acompanho com certa obsessão há 15 anos — e isso inclui não apenas sua discografia, mas também sua atuação na luta global contra a AIDS (com a Elton John AIDS Foundation) e também projetos paralelos como a “Rocket Hour”, que ouço com assiduidade desde a sua data de estreia, em 6 de julho de 2015.

Para que este texto chegue ao fim e em respeito à sua paciência, caro leitor, deixo de lado a minha admiração enquanto fã do músico para discorrer sobre a história e a importância da “Rocket Hour”, que continua no ar até hoje, 9 anos e 406(!) episódios depois da sua estreia.

O escopo geral da “Rocket Hour” não se difere do dos demais programas da Apple Music 1, embora seja autêntico por se inclinar inteiramente na presença, na personalidade e no conhecimento de Elton sobre a indústria da música — além de, é claro, de tudo o que ele tem a recomendar e comentar.

O interessante é que o músico é amplamente conhecido na indústria por ser um “musicologista”, ou seja, ele não apenas entende sobre como fazer música, como também a respeito da indústria ao seu redor — há entrevistas dele para Zane Lowe destacando isso no Apple Music. Não à toa, a “Rocket Hour” ainda se inclina no mesmo slogan presente desde o primeiro episódio:

Músicas que você conhece, músicas que você não conhece e músicas que você deveria conhecer.

Este e outros assuntos relacionados são mencionados em sua autobiografia “Eu”, como o fato de o Elton acompanhar rankings e gráficos de vendas (e streams, hoje em dia) de álbuns e singles recorrentemente, desde a sua juventude.

Um repertório inesperado

Sempre que menciono ou apresento a “Rocket Hour” a alguém, é comum que pensem que se trata de um programa no qual Elton faz covers de outros artistas e bandas, o que definitivamente não é o caso.

A “Rocket Hour” (assim como os outros programas da Apple Music 1) é como um programa clássico de rádio, ou episódios de um podcast, no qual, por uma hora (daí o nome do programa), são reproduzidas faixas completas escolhidas pelo apresentador — neste caso, escolhidas a dedo e comentadas pelo próprio Elton, que de fato estuda músicas novas e antigas, às vezes ainda nem lançadas, para apresentá-las na “Rocket Hour”.

Claro, era de se esperar ouvir a clássicos essenciais da música como Nina Simone (a pianista favorita do Elton), The Beatles, Joni Mitchell, Aretha Franklin, David Bowie, entre outros, mas uma das maiores surpresas de ouvir a “Rocket Hour” é perceber, ao longo dos episódios, que a prioridade do músico logo passou a ser novos artistas entre todos os gêneros musicais, em especial pop, R&B, rap e hip hop, nas quais se concentram a maioria dos novos lançamentos apresentados por Elton nestes últimos anos.

Evidenciar novos artistas não é algo recente para o Rocket Man. Já há décadas, John tinha o costume de evidenciar novos artistas a partir do seu nome e da sua imagem, principalmente em parcerias musicais e entrevistas. Uma rusga famosa da vida dele, também retratada em sua biografia, aconteceu com Madonna, quando ele relembrou o fato de a diva pop ter reclamado que o single “Born This Way”, de Lady Gaga, se parecia demais com “Express Yourself”. No relato, Elton ressaltou que Madonna deveria ter usado sua influência para promover artistas emergentes.

Até escrever este texto, eu ouvi todos os 406 episódios da “Rocket Hour” já publicados, o que me qualifica para afirmar com convicção que o repertório do programa é surpreendentemente diverso. No vídeo de comemoração do 400º episódio da “Rocket Hour”, Apple e Elton divulgaram números surpreendentes sobre o programa.

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Até então, Elton já havia escutado mais de 30.000 minutos de música para pautar os episódios da “Rocket Hour” e reproduzido 6.060 músicas de 2.811 artistas diferentes, com destaque para o Top 5 de artistas mais tocados:

  1. Sam Fender
  2. Channel Tres
  3. Christine and the Queens
  4. Joni Mitchell
  5. Rina Sawayama

É muito interessante ouvir os episódios em retrospecto, consciente da cronologia do programa, e perceber o crescimento de alguns nomes como Billie Eilish, The Weeknd, Phoebe Bridgers, Ben Howard, Dua Lipa, Tom Odell, Khalid, Troye Sivan, Lizzo, yungblud, BENEE e Brandi Carlisle, entre centenas de outros artistas que ainda tinham pouco ou nenhum reconhecimento no início das suas carreiras, no momento em que foram apresentados na “Rocket Hour” — algo que chega a beirar o impensável hoje em dia. Isso não significa que Elton os popularizou para o mundo, mas certamente os impulsionou na indústria, como muitos artistas reconheceram em entrevistas ao pianista.

Entrevistas e episódios especiais

Apesar de manter seu excelente formato ao longo do tempo, a “Rocket Hour” contou com uma grande novidade: as entrevistas com convidados especiais.

O que começou com a participação de personalidades fundamentais da música, em episódios especiais, como Noel Gallagher (Oasis, Noel Gallagher’s High Flying Birds), Joni Mitchell, Brandon Flowers (The Killers), Royal Blood, Ryan Adams, Damon Albarn (Blur, Gorillaz) e tantos outros, se estendeu com rápidas entrevistas semanais feitas pelo Elton a algum convidado especial, na maioria das vezes por FaceTime. Até mesmo Taron Egerton já participou de um episódio em homenagem a “Rocketman” (2019), a cinebiografia da vida de Elton John para os cinemas.

O aumento da recorrência das entrevistas casou muito bem com o desejo do Elton de promover novos artistas e, portanto, novas músicas. Novos artistas como Jacob Lusk, Stephen Sanchez, Chappell Roan, Wet Leg, Laufey (com quem Elton conversou sobre música brasileira), Romy, Bakar, entre muitos outros, marcaram presença em episódios recentes. O programa já acumulou mais de 180 convidados até hoje!

Apesar de as entrevistas serem toques especiais aos episódios, a “Rocket Hour” também conta com edições comemorativas, como especiais de Natal, Ano Novo, hinos femininos, músicas australianas, instrumentais e músicas que o Elton gostava quando jovem, entre tantos incontáveis exemplos que renderam episódios e recomendações temáticas sempre muito bem-vindas.

Liberdade criativa e crítica às emissoras de rádio tradicionais

Elton sempre foi categórico sobre a liberdade criativa que a Apple lhe concedeu para tocar o programa, o que, segundo ele, foi uma exigência para que participasse como âncora. Essa iniciativa, inclusive, fez com que Elton reconhecesse nominalmente a atitude da Apple e criticasse não apenas a elitização da indústria da música, como também o modelo de negócio das rádios tradicionais que, segundo ele, jamais permitiria que novos artistas fossem divulgados em detrimento daqueles já consolidados com alguma garantia de retenção de público.

Por essa mesma razão, são raras as vezes em que John toca as próprias músicas na rádio, o que geralmente acontece em episódios comemorativos ou com algum convidado com quem ele já tenha feito alguma parceria, como o caso de PNAU, Brandon Flowers, Gorillaz e Rina Sawayama, para citar algumas.

E a Apple, nessa história toda?

É inegável que a Apple se beneficia de uma forma ou de outra com uma associação de marcas tão forte com Elton John, uma lenda viva da história da música — apesar de ser seguro assumir, por falta de dados públicos, que a adesão à “Rocket Hour” e da Apple Music 1 não seja alta. E não é por falta de responsabilidade da Apple, que além de uma ou duas menções em seus eventos, publicações orgânicas nas contas de redes sociais do Apple Music e playlists abandonadas no serviço, nunca fez nada para promover o programa — e muito pouco, igualmente, para promover a rádio.

Alguém poderia dizer que o abandono dos esforços de publicidade para a Apple Music 1 se dá pela falta necessidade da rádio enquanto proposta de valor complementar para o Apple Music, o que é verdade. À medida em que o Apple Music foi se tornando popular, a rádio perdeu cada vez mais espaço nos anúncios publicitários e até mesmo dentro dos sistemas da Apple. Nunca foram propostos quaisquer recursos ou melhorias para a experiência de consumo do material da rádio — apenas para a interface e a experiência geral do aplicativo Música em si —, com exceção de filtros quase que imperceptíveis para programas e episódios da rádio na busca do Apple Music para o iOS.

Como alguém que já ouviu mais de 400 horas de conteúdo da Apple Music 1, garanto por experiência: é um inferno acessar o conteúdo da rádio pelo app, especialmente de um programa específico. Além de a quantidade de toques/cliques para chegar ao destino de um episódio ser muito alta e nada intuitiva ou convidativa — o que exige aprendizado, repetição e a criação de um hábito sem incentivos do serviço para o usuário —, a própria busca do Apple Music é extremamente limitada e desorganizada, somada a resultados de busca dos episódios mal indexados pela falta de disposição de informações e detalhes, o que piora a experiência. E nem pense em me orientar a pedir a ajuda da Siri para isso! 😛

É muito provável que, com uma maior dedicação da Apple, tanto a Apple Music 1 quanto a “Rocket Hour” seriam, ou poderiam se tornar mais populares entre os usuários do Apple Music. Contudo, ser usuário da Apple nunca exigiu esperança de ninguém.

Apesar de toda a desmotivação, uma mudança importante tem se mostrado diante dos nossos olhos: desde o ano passado, a Apple vem adicionando conteúdos do Apple Music ao aplicativo Apple Podcasts, o que mais recentemente também incluiu a “Rocket Hour” — embora lá os episódios não estejam, por ora, enumerados. 🙄

Sendo assim, hoje a “Rocket Hour” também pode ser ouvida pelo Apple Podcasts, o que facilita o acesso ao programa — embora ainda exija a assinatura do Apple Music, visto que o Apple Podcasts apenas disponibiliza conteúdos sob demanda. Seria a migração total para o app Podcasts o fim da rádio Apple Music 1, dadas as crescentes oferta e demanda de conteúdos de podcast? A ver, mas se de fato for uma migração definitiva e não um mero espalhamento do conteúdo, isso prova que a “Rocket Hour” tem muito valor de conteúdo para a empresa.

Para facilitar o acesso aos conteúdos da “Rocket Hour”, compartilhamos a seguir um Atalho da Siri pelo qual você encontrará todos os episódios, entrevistas dos episódios, clipes e muito mais, que também podem ser acessados nesses links do Apple Music ou do Apple Podcasts.

Uma estrada de tijolos amarelos

Tudo nesta vida tem um fim, e felizmente nada indica que, por ora, após tantos anos no ar, a “Rocket Hour” está perto de seus últimos dias. Como tudo é possível, decidi escrever este texto para celebrar os 9 anos e a marca de 400 episódios do programa com você, estimado leitor, sem saber se chegaremos ao ano 10 ou ao episódio 500.

Embora não domine a técnica, sou um apaixonado pela arte da música e sempre senti que devia fazer algo a mais pela “Rocket Hour”, incomparavelmente a minha maior fonte de recomendações de música da última década e da minha vida até hoje. Mesmo que o programa não tivesse a participação do Elton John, eu certamente teria dedicado o tempo com outros programas da Apple Music 1 — provavelmente não com a mesma assiduidade, mas com o mesmo prazer. Por isso, é impossível não recomendar a “Rocket Hour” a qualquer entusiasta da música.

Por outro lado, sem a participação do Elton ele seria um programa melhor? Pior? Não, seria apenas diferente. A questão é que o envolvimento do Elton, das suas histórias, dos seus comentários e das suas piadas… compõe inteiramente a identidade da “Rocket Hour” e faz da recomendação e da descoberta de músicas, sejam elas antigas ou novas, uma experiência encantadora de se ouvir no dia a dia.

Elton se põe a qualquer ouvinte, não só a fãs como eu), um apresentador formidável para todas as horas. Não à toa (com exceção de um episódio particular), ele sempre termina o programa com “uma música para dançar”. E, embora eu tenha preferências musicais e não aproveite 100% das suas recomendações, é preciso reconhecer: que repertório brilhante! Diferentes vozes, diferentes ânimos, diferentes gêneros, diferentes línguas, diferentes culturas. O novo assusta, mas também conquista, sobretudo quando sua companhia é Sir Elton John.

Com tantos anos de recomendações formidáveis, a “Rocket Hour” continua uma estrada de tijolos amarelos encantadora, um caminho para uma jornada apaixonante que transformou o meu gosto e o meu repertório musical ao longo de tantos anos. E penso eu que continuará sendo por muito, muito tempo.

O Apple Music conta com um catálogo de mais de 100 milhões de músicas e 30 mil playlists — muitas delas com suporte a Áudio Espacial (Dolby Atmos) e em altíssima definição, com áudio Lossless. Para quem ama música clássica, há um app dedicado com mais de 5 milhões de faixas, tudo em uma interface simplificada! No Brasil, são três tipos de assinatura: Universitária (R$11,90/mês), Individual (R$21,90/mês) e Familiar (R$34,90/mês). Caso você não seja um assinante, pode testar o serviço de forma gratuita por um mês. Ele também faz parte do pacote de assinaturas da empresa, o Apple One.

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