Pesquisadores da UFV participam da maior expedição na Antártica liderada pelo Brasil

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Professor Jose João Lelis coleta amostras de solos em uma das expedições na Antártica. (Foto: divulgação UFV)

A partir desta sexta-feira (22), pesquisadores da Argentina, Brasil, Chile, China, Índia, Peru e Rússia embarcam em uma missão inédita: a Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártica. Durante 64 dias, 61 cientistas, sendo 27 brasileiros, irão percorrer mais de 20 mil quilômetros da costa do continente com o objetivo de chegar o mais perto possível das frentes das geleiras e coletar dados sobre os impactos das mudanças climáticas. Entre os que terão oportunidade de conhecer a Antártica em busca respostas nos solos gelados estão dois professores do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Márcio Rocha Francelino e José João Lelis de Souza. 

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Há mais de duas décadas, UFV contribui com pesquisas em expedições na Antártica. (Foto: divulgação UFV)

Os dois, ao lado do doutorando da Universidade de Brasília (UNB) Fábio Leal e do russo Ivan Alekseev, se dedicarão exclusivamente aos estudos sobre solos gelados, chamados de criossolos. Ao todo, os pesquisadores vão visitar nove estações de pesquisas de outros países, mas que estudos sobre solos ainda não existem, por isso, os brasileiros são pioneiros.

Desde 2002, a UFV participa de expedições à região da Antártica Marítima, que incluiu o entorno da Estação Brasileira Comandante Ferraz, que representa a área que vem registrando as temperaturas mais elevadas do continente. Nas viagens anuais no verão antártico, os pesquisadores já instalaram 29 sítios de monitoramento da temperatura e umidade do solo, que formam, atualmente, a maior rede mundial de monitoramento da camada ativa e do permafrost, e deram origem a um precioso banco de dados de solos de uso internacional. 

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Objetivos e desafios dos pesquisadores na Antártica 

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Instalação de sensores em expedições anteriores realizadas próximas à estação brasileira. (Foto: divulgação UFV)

Entre os objetivos da viagem de circum-navegação (viagem marítima ou aérea que envolve dar a volta em torno de um lugar, como uma ilha, um continente) estão a coleta de amostragens ao longo da costa para a realização de estudos biológicos, químicos e físicos, focando em dados atmosféricos, geofísicos, glaciológicos e oceanográficos do manto de gelo antártico e seu entorno. A expedição também incluirá um levantamento aéreo inédito das massas de gelo, monitorando o comportamento das geleiras diante das mudanças climáticas.

A expedição será coordenada pelo professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Jefferson Cardia Simões, que já esteve no continente antes, em outra missão que durou 35 dias, mas, de acordo com ele, esta será ainda mais ambiciosa sob o ponto de vista científico. “O pioneirismo da nova expedição está em ser realizada o mais perto possível da costa da Antártica. Esperamos ter dados sobre a linha de flutuação das geleiras e, simultaneamente, apoiaremos um levantamento geofísico dessas frentes de geleiras para entender como elas respondem ao aquecimento da atmosfera e do oceano”, explica Jefferson.

Além disso, o explorador ressalta que a expedição também pretende coletar dados sobre a biodiversidade, a resposta da fauna polar às variações climáticas, a circulação oceânica e os sinais de poluição. Os dados obtidos vão possibilitar análises abrangentes sobre a saúde do ecossistema polar, desde o manto de gelo até a fauna marinha, revelando como as geleiras respondem ao aumento das temperaturas e às alterações na circulação oceânica e atmosférica. A expedição consolida o Brasil como um dos principais líderes em pesquisa polar na América Latina, e representa um marco para a ciência brasileira e a atuação do país no continente antártico. 

Akademik Tryoshnikov Inst de Pesquisa Antartico Sao Petesburgo
Navio Akademik Tryoshnikov, do Instituto de Pesquisa Antártico, em São Petersburgo. (Foto: divulgação UFRGS).

A travessia será percorrida a bordo do navio quebra-gelo científico Akademik Tryoshnikov, do Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica (São Petersburgo, Rússia). Tempestades, temperaturas extremas e as difíceis condições das águas antárticas são alguns dos desafios que os pesquisadores terão pelo caminho. Além dos equipamentos necessários, o grupo também usará a tecnologia de um satélite, permitindo que os cientistas compartilhem informações via texto, áudio e vídeo com acesso ilimitado à internet durante todo o percurso antártico. Esse recurso facilitará a comunicação e a transmissão de dados em tempo real. 

O projeto é 97% financiado pela fundação suíça Albédo pour la Cryosphère, dedicada ao estudo e à preservação da massa de neve e do gelo planetário, e conta com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs).

Antártica atua como parâmetro diante das mudanças climáticas 

Impacto climatico na Antartica sera estudado por expedicao liderada pela Ufrgs
Acampamento Monte Johns, no interior do manto de Gelo da Antártica, ano 2008. (Foto: divulgação UFRGS)

A Antártica, assim como o Ártico, são as regiões mais sensíveis às mudanças climáticas e, por isso, ajudam a indicar o que poderá acontecer ao resto do mundo conforme a evolução de fenômenos extremos. Além da imensa influência do clima sobre a biodiversidade do planeta, o descongelamento do permafrost (camada de solo que permanece congelada durante todo o ano) pode mostrar se haverá aumento na emissão de gases do efeito estufa para a atmosfera ou se o degelo fará aumentar o nível do mar, causando grande impacto no planeta. Conforme a UFV, essas são as respostas que os pesquisadores buscarão nos dois meses de circum-navegação. 

Para entender o que acontece na Antártica, José João e Márcio Francelino vão se dividir em passado e futuro. É a quarta vez de José João no continente. Ele se dedicará a coletar amostras de solos nas nove estações internacionais para estudar a gênese do solo, ou seja, como se formaram e se transformaram ao longo de bilhões de anos. As rochas que dão origem ao solo podem ser datadas. Os solos, por sua vez, guardam a memória química e biológica da sua formação. 

“O solo é como um livro, ele conta a sua própria história, mas é preciso saber ler”, diz José, que afirma ser possível “descobrir, quando as geleiras descongelaram, se já houve cobertura vegetal e presença de animais em todo o processo de evolução da região”.  

Já o professor Márcio Francelino, irá olhar para o futuro para desenvolver suas pesquisas. Em sua 17ª viagem à Antártica, desta vez, o cientista irá instalar sensores de monitoramento de temperatura nas nove estações internacionais com capacidade de gerar informações de hora em hora, enviadas por satélite. “Se ocorre aquecimento, o permafrost se aprofunda; se ocorre resfriamento, ele chega mais próximo da superfície. Isso o torna um eficiente sensor das variações do clima e nos permite modelar o que pode acontecer por aqui”, ele diz. Os sensores também permitirão avaliar a emissão de gases de efeito estufa nas áreas livres de gelo, principalmente naquelas que vêm sendo recentemente expostas com o recuo das geleiras. 

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