O futuro das finanças: o papel da IA na expansão do acesso ao crédito

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Já tem alguns anos que o papel de um CFO não é apenas o de “guardião” das finanças corporativas, focado unicamente em controlar despesas e gerenciar orçamentos. Esse líder já pode ser considerado um arquiteto estratégico, pois tem a responsabilidade de compreender o que está acontecendo no negócio, desde a concepção de novos produtos até a estratégia de go-to-market. 

A constante inovação tecnológica no mercado financeiro entra neste contexto, principalmente quando falamos de Inteligência Artificial (IA) e do aumento do acesso ao crédito. 

Esse recurso tecnológico abre espaço para que a liderança conecte todos os aspectos da organização de forma integrada e que as decisões sejam baseadas cada vez mais em análises e dados relevantes, diminuindo cada vez mais equívocos de interpretação. Ou seja, são ferramentas que permitem analisar grandes volumes de informações, assim como identificar padrões e insights que os humanos poderiam facilmente perder. 

Com esse potencial, a capacidade de expandir o acesso ao crédito aumenta muito. Tradicionalmente, os recursos para empresas eram concedidos com base em análises muitas vezes limitadas, o que prejudicava principalmente as PMEs. No entanto, com os algoritmos treinados de Machine Learning, esse processo pode ser feito em tempo real e de maneira mais precisa, baseado em comportamentos de pagamento, fluxo de caixa, tendências de mercado e desempenho de concorrentes.

Além da possibilidade de analisar melhor os dados tabulados das PMEs, a IA também pode ser treinada com mais facilidade para aprender sobre o mercado de atuação de cada empresa, conectar isso à cadeia de consumo na qual está inserida e, consequentemente, entender tendências de aceleração e desaceleração dos negócios. Ou seja, toda essa jornada é democratizada, pois a análise passa a permear um mundo de dados muito maior do que apenas os aspectos financeiros. 

Isso beneficia não apenas os tomadores de crédito, que passam a ter acesso a condições mais justas e competitivas, mas também os fornecedores, que podem tomar decisões mais embasadas e reduzir os riscos de inadimplência. Todos saem ganhando.

Novos conceitos

É claro que a IA sozinha não vai resolver nada se os líderes financeiros não possuírem uma mentalidade voltada para a eficiência. Além disso, chega um ponto em que a coleta de dados adicionais deixa de agregar valor. O foco deve estar em reunir informações suficientes para tomar decisões bem fundamentadas, sem desperdiçar tempo e recursos em análises que não trazem retornos esperados.

Dois conceitos que podem ajudar os CFOs a não caírem nessa armadilha são o Princípio de Pareto e o Don’t Boil the Ocean (“Não tente ferver o oceano”, em tradução livre). 

O Princípio de Pareto, conhecido como a regra 80/20, sugere que 80% dos resultados vêm de 20% dos esforços ou elementos da empresa, como recursos, produtos ou clientes. Na concessão de crédito, por exemplo, a ideia é que, em vez de tentar analisar todos os dados disponíveis, as organizações devem se concentrar nas informações mais relevantes, que geram a maior parte dos resultados financeiros. Com a ajuda da IA, é possível identificar e focar nesses dados-chave, o que otimiza a tomada de decisões sem perder tempo com dados que pouco impactam os resultados.

Já o conceito de ‘Don’t Boil the Ocean’ complementa esse raciocínio, alertando para o risco de tentar analisar o volume imenso de informações disponíveis atualmente. Embora a IA permita o processamento de grandes quantidades de dados e a identificação de padrões e insights, o valor está em saber priorizar os dados corretos, em vez de se perder em uma análise excessivamente abrangente.

Logo, a IA pode ser a ferramenta que permite filtrar esses dados, ao mesmo tempo em que o CFO estabelece as prioridades da empresa e define quais indicadores são essenciais para guiá-la em direção a uma expansão sustentável do crédito.

Indo além do orçamento

Hoje, é um certo clichê dizer que “a tecnologia deve ser uma aliada do profissional”.  Na verdade, o que a transformação digital pode fazer é garantir que as equipes tenham mecanismos para aumentar as suas performances. E com a IA não é diferente. Ela deve ser vista como um motor para a criação de valor no negócio, capacitando CFOs atualizados com esse contexto tecnológico e suas equipes a entender melhor o desempenho da empresa, projetar cenários futuros e tomar decisões informadas. 

Um dos papéis atuais dos diretores financeiros é trazer o mundo dos cientistas de dados para dentro do dia a dia da área financeira. Uma boa tabulação de informações e um treinamento mínimo nos controllers e FP&As (Planejamento e Análise Financeira) pode fazer a empresa ganhar muita eficiência e capacidade de tomar melhores decisões. Menor risco e maior retorno, esse continua sendo o objetivo, mas agora com apoio de ferramentas mais poderosas.

É um verdadeiro ativo estratégico, que vai além do quanto a companhia tem de dinheiro para investir em uma área ou operação. E quem souber utilizá-la possui a chance de criar um ambiente onde o conhecimento financeiro é usado por todos os níveis da organização, promovendo movimentos mais inteligentes e ágeis.

Por isso, lembre-se: o sucesso no mundo das finanças depende de uma abordagem descentralizada, mas coordenada.

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