Campos Neto: ‘promessas eleitorais dos EUA podem pressionar inflação’

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, alertou sobre o impacto inflacionário das promessas eleitorais nos EUA, destacando que políticas fiscais, protecionismo e imigração podem aumentar a pressão sobre os preços. 

Em evento do Banco Safra realizado nesta terça-feira (24), o chefe da autoridade monetária afirmou que as medidas propostas por democratas e republicanos norte-americanos apresentam um risco inflacionário para a economia americana, com efeitos que se espalham pelo mundo, incluindo o Brasil.

“Quando a gente olha a eleição americana, tem três fatores preocupantes do ponto de vista da inflação: a parte fiscal, a parte do protecionismo e a parte de imigração. Essas promessas, de uma forma geral, são inflacionárias”, disse Campos Neto. 

O presidente do BC explicou que tanto democratas quanto republicanos têm adotado um discurso pró-expansão fiscal, o que pressiona os preços a médio e longo prazo. “Não há redução de déficit à vista em nenhuma das propostas, e isso é algo que preocupa bastante.”

Da direita à esquerda, expansionismo fiscal preocupa RCN

Campos Neto ainda citou a relevância crescente do debate fiscal nas discussões dos bancos centrais, apontando que este tema vem ganhando destaque desde a reunião do FMI em Marraquexe. 

O chefe da autarquia observou que tanto na direita quanto na esquerda, o discurso recente tem sido mais favorável à expansão fiscal, o que ele considera preocupante: “A direita e a esquerda têm um discurso mais pró-expansão fiscal. Isso não é só nos Estados Unidos, tem sido comum em alguns outros países desenvolvidos também.”

Políticas protecionistas e imigração: efeitos inflacionários

Outro ponto de alerta é o protecionismo. Campos Neto destacou que o aumento de medidas protecionistas também pode elevar a inflação. 

“Fizemos um estudo sobre o efeito desse protecionismo na inflação, e o que vemos é que, em geral, essas promessas são inflacionárias”, afirmou o presidente do BC.

A questão da imigração também foi abordada como um fator potencial de inflação, já que tanto democratas quanto republicanos propõem medidas para restringir a entrada de imigrantes. 

Campos Neto mencionou que o mercado de trabalho nos EUA já está pressionado e que a imigração tem sido um alívio. 

“Estados Unidos tem uma mão de obra relativamente apertada e tem sido ajudado nesses últimos anos por uma imigração. Com as promessas de campanha focadas em restringir a imigração, a gente vê um processo onde as promessas são em geral inflacionárias.”

Com essa combinação de políticas fiscais e protecionistas, Campos Neto ressaltou que o impacto nas expectativas globais de inflação é significativo. Ele explicou que, apesar de os EUA terem iniciado o corte de juros antes de outras economias desenvolvidas, os efeitos dessas medidas são sentidos mundialmente.

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