Crítica | Justiça 2 – Aguardada Continuação de Série de Sucesso Eleva o Debate Através da Tensão Social

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Por mais que a ficção se esforce, é a realidade que consegue promover as histórias mais inimagináveis possíveis. É que enquanto o processo criativo acontece, é preciso pensar na coerência dos personagens, na lógica dos eventos, na precisão em que os eventos ocorrem, ou, do contrário, o espectador não irá acreditar. A vida real, ao contrário, é imprevisível, e é justamente esta imprevisibilidade – pro bem ou pro mal – que a torna a principal fonte de inspiração para as criações artísticas, como a sérieJustiça 2’, a aguardada sequência de ‘Justiça’, de 2016, e que chegou recentemente à plataforma da Globoplay.

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Assim como na primeira versão, aqui são quatro histórias, quatro protagonistas diferentes. Conhecemos Balthazar (Juan Paiva), um jovem batalhador, que trabalha como entregador de um restaurante no Distrito Federal e que, diante do iminente fechamento do restaurante e o agravamento da doença de sua avó, se vê obrigado a buscar outras formas de se sustentar… até que é acusado de ter assaltado o restaurante e, portanto, é preso. Em outro núcleo, Carolina (Alice Wegmann), uma jovem que fora violentada pelo tio Jayme (Murilo Benício) e que retorna agora para cuidar da saúde da mãe (Julia Lemmertz), mas que diante das novas investidas do tio, decide denunciá-lo à polícia. Conhecemos também Geíza (Belize Pombal), mãe solo, trabalhadora, moradora de Ceilândia, que tenta dar todo o suporte para a filha prestar o ENEM até o dia que um filhinho de papai, Renato (Filipe Bragança), decide se mudar para um local em frente ao seu apartamento e passa literalmente 24 horas com o som alto ligado; diante do estresse crescente, ela busca se defender, mas acaba matando o rapaz e é presa. Por fim, a morte do pai de Jordana (Paolla Oliveira) a faz conhecer Diuzinho (Alexandre Rodrigues), filho extraconjugal do pai. Desesperada com a possibilidade de dividir a herança, Jordana decide matar o rapaz e despachar o corpo, só que no caminho Milena (Nanda Costa) acaba roubando o carro e, por isso, é incriminada pelo assassinato.

Justiça 2’ tem uma estrutura interessante. Os primeiros quatro episódios iniciais apresentam os personagens e as histórias por trás deles; ao final de cada um, o espectador começa a ter um panorama de como essas histórias vão se entrelaçar no presente-futuro do enredo, pois todos os eventos acontecem numa mesma noite em Brasília. Criada e escrita por Manuela Dias, que foi responsável pela primeira temporada também, nesta segunda parte o desenvolvimento dos personagens e das tramas andam em dois movimentos paralelos: ao mesmo tempo em que os núcleos individuais se desdobram, as tramas se embolam dentro do enredo maior, mostrando, num aspecto macro, que quem é de má índole acaba invariavelmente andando com quem é de má índole, cedo ou tarde.

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O que mais impressiona aqui é que embora dividido em 28 episódios, que variam entre 40 minutos e uma hora de duração, o roteiro consegue manter um clima de tensão constante e intenso, fazendo com que o espectador não tenha outra opção se não a de continuar assistindo. Em especial, o primeiro episódio, centrado em Balthazar, consegue manter um clima de “vai dar ruim” tão constante, que é agoniante. Poucas ficções conseguem atingir esse nível de entrega e conexão, o que demonstra a competência do elenco e também da criadora, em medir certinho como entregar a história ao público.

Justiça 2’ não é uma série fácil, pois mostra um lado de Brasil latente e difícil de olhar. Mas é o Brasil do dia a dia, que pergunta: justiça pra quem?

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