
Camila Mindelli atua no mercado financeiro há 26 anos. Formada em Direito, nunca exerceu a profissão. “Me apaixonei muito cedo pelo mercado financeiro e não consegui mais sair disso”, disse.
Porém, mesmo mantendo a OAB em dia, a vida como advogada ficou apenas no papel. Aos 42 anos, é sócia-fundadora da The Hill Capital, empresa que nasceu em meio à pandemia e a um processo pessoal intenso: a maternidade de gêmeos prematuros.
Antes disso, Camila construiu uma carreira sólida em grandes bancos. Sendo assim, começou a trabalhar aos 14 anos, já com registro em carteira. “Sempre trabalhei. A vida inteira”, contou.
Sendo assim, o foco na carreira era tamanho que, por muito tempo, a ideia de ser mãe não fazia parte dos seus planos. “A maternidade não era algo latente em mim”.
Foi aos 35 anos que essa perspectiva começou a mudar. Com um namorado mais novo — hoje seu marido — que não pensava em ter filhos, ela decidiu congelar óvulos. “Falei: ou é agora, ou nunca mais”.
Ao tirar o chip anticoncepcional, descobriu que já estava grávida. A notícia, inesperada, não foi bem recebida pelo companheiro. “Ele ficou desesperado. Disse que precisava pensar”. Sete semanas depois, Camila sofreu um aborto espontâneo.
Maternidade: perdas, tentativas e uma oração inusitada
“No mês seguinte, sem querer, engravidei de novo”. A segunda gravidez também terminou com um aborto de sete semanas. Dessa forma, nesse momento, vieram os questionamentos: “Será que eu perdi meu momento? Que me dediquei demais ao trabalho e deixei isso passar?”.
Mesmo diante das perdas, ela mantinha o desejo pela maternidade. “Sempre amei gêmeos. Nas minhas orações, eu dizia: sou mãe de gêmeos”. Ela destacou que não havia histórico na família, não fazia fertilização e ainda assim seguia com essa convicção.
A terceira gravidez veio pouco tempo depois. Dessa forma, ao fazer o primeiro exame, ouviu a frase: “Vamos procurar o segundo”. E ali estavam dois batimentos cardíacos. Gêmeos.
Com 22 semanas, um exame revelou que o colo do útero estava afinando. “Seu corpo está se preparando para o parto”, explicou o médico. Ela foi orientada a evitar qualquer estresse. Mas, trabalhando em um grande banco, Camila sabia que essa recomendação era difícil de cumprir.
Ainda assim, seguiu em frente. Atendeu clientes, fez reuniões e apenas ao sentir pequenas cólicas decidiu ir ao hospital. Já estava com seis centímetros de dilatação.
Com a instalação de um pessário, foi mantida em repouso absoluto no hospital e depois em casa. Mesmo assim, entrou em trabalho de parto novamente com 26 semanas.
“Tentei segurar com remédios fortíssimos. Completei 26 semanas. No primeiro dia da 26ª semana, tive que ir ao banheiro. Escutei um bluft. O pessário caiu. Era o dia do nascimento”.
Os bebês nasceram com menos de 800 gramas. “Saíram em um saquinho preto, parecendo lixo, dentro da incubadora”.
Fé, rotinas na UTI e o poder da presença
Camila ficou 133 dias com os filhos na UTI. “Passei metade do meu dia com as mãos nas incubadoras, orando”. Ela se dirigia aos bebês como se pudessem ouvir: “Vocês nasceram antes porque quiseram. Agora é com vocês. Têm que lutar pela vida”.
Com quatro meses e meio, Arthur recebeu alta com diagnóstico de cardiopatia e indicação cirúrgica. Com dois quilos, os bebês ainda tinham dificuldades para mamar. Camila precisava decidir: voltar ao trabalho ou continuar presente.
Dessa forma, ela precisou solicitar uma licença não remunerada. “Eles mamavam e faziam apneia. Eu não podia deixá-los com babá”. Conseguiu estender a licença em três meses, somados às férias. Quando retornou, percebeu que a vida não seria como antes.
O nascimento da The Hill Capital
Dois meses depois, a pandemia começou. Mas, o banco acabou autorizando o home office. Camila levou os filhos para o litoral. “Respiravam ar puro. Foi a melhor decisão”. Nesse período, um colega de trabalho propôs um projeto: abrir um novo escritório.
“A reunião ia ser um café. Começou às nove da manhã, terminou à uma da manhã do dia seguinte. Escolhemos o nome, fizemos até o grito de guerra. E então nasceu a The Hill Capital”. Camila viu ali a chance de unir trabalho e presença materna. “Queria estar próxima deles. Eles precisavam de mim”.
Hoje, Camila divide sua rotina entre o atendimento a clientes, a expansão do escritório e a gestão do jurídico. “Trabalho muito, mas organizo minha agenda. Faço questão de participar da vida dos meus filhos”.
Além disso, ela destaca: “Quando estou com eles, estou com eles. Portanto, quando estou trabalhando, estou trabalhando. Tento separar para dar conta de tudo”.
Sobre o aprendizado com a maternidade, diz: “Respeitar meu momento, me respeitar como mulher. A maternidade me trouxe paciência, fé e um novo significado para o trabalho”.
“Ser mãe é padecer no paraíso”, diz o ditado popular. Para Camila, o paraíso não é livre de dores, mas é repleto de significado. “Trabalho para proporcionar momentos com eles. Trabalhar não é só bater meta. É poder estar junto”.
Em suma, ela encerra com uma reflexão: “A empresa é como um filho. Se eu me dedicar, se eu estiver presente, ela também cresce. Mas preciso lembrar sempre: não sou super-heroína. Sou humana. E isso basta”.
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