A Rota da Celulose, composta por rodovias federais e estaduais de Mato Grosso do Sul, foi arrematada nesta quarta-feira, 8, pelo consórcio K&G, composto pela Kinfra e Galapagos Capital. Após tentativa frustrada no fim do ano passado, quando não houve interessados, o certame reformulado atraiu um número de participantes que é considerado alto para o setor. O consórcio K&G desbancou outras três concorrentes, incluindo nomes relevantes do setor financeiro.
O leilão se tornou um dos mais disputados nos últimos anos. A Rota da Celulose igualou a marca da Rota dos Cristais (BR-040/GO/MG), concedida em setembro de 2024, que também contou com quatro participantes. Com isso, ambas registraram o maior número de concorrentes desde 2018, quando os trechos gaúchos das BRs 116 e 392 foram disputados por cinco empresas.
O consórcio K&G terá que desembolsar R$ 10,1 bilhões no projeto, sendo R$ 6,9 bilhões em investimentos diretos e R$ 3,2 bilhões para despesas operacionais ao longo de 30 anos de contrato. O trecho contempla extensões das rodovias estaduais MS-040, MS-338 e MS-395 e das federais BR-262 e BR-267, compondo a Rota da Celulose, que ganhou esse nome por ser formado por rodovias importantes para a cadeia produtiva da celulose no Mato Grosso do Sul.
Esse é o terceiro leilão rodoviário federal bem-sucedido em 2025, que tem uma carteira total de 15 projetos. Em abril foi leiloada a Rota Agro Norte, trecho da BR-364/RO, que contou com proposta única e consagrou o consórcio 4UM/Opportunity como a gestora do ativo. Na semana passada, o trecho da BR-040/495, que liga Rio de Janeiro e Minas Gerais, foi disputado por três grupos, sendo arrematado por consórcio formado pela Construcap e as espanholas Copasa e OHLA.
Atratividade
Para a advogada Aline Klein, especialista em infraestrutura e concessões públicas do escritório Vernalha Pereira, o resultado do leilão confirma o êxito das alterações do edital que, se antes afastou interessados a ponto de ficar deserto, dessa vez atraiu participantes relevantes do mercado de concessões. A advogada considera que os descontos ofertados pelos participantes foram “moderados”, o que, em sua avaliação, “revela uma proximidade das projeções feitas pelos diversos licitantes”.
O edital foi ajustado com um modelo econômico-financeiro que reduz os investimentos obrigatórios nos primeiros quatro anos de concessão, atendendo a demandas do setor privado. Além disso, houve aumento na projeção de receita para os 20 anos de operação. Como resultado, o lucro potencial da concessão, medido pelo Ebitda ajustado, cresceu 10,4% (R$ 1,5 bilhão), enquanto as despesas totais (capex e opex) subiram 8,4% (R$ 798 milhões).
Players financeiros
Todos os grupos que participaram do leilão de nesta quinta tinham ligação com o setor financeiro. Além da ganhadora Galápagos, XP, BTG Pactual e Kinea também marcaram presença. Enquanto os dois primeiros concorreram por meio de fundos de investimento, a gestora Kinea se uniu novamente à Way Brasil. No ano passado, a parceria Way Kinea, nomeada de Rotas do Brasil, arrematou a concessão da Rota do Zebu (BR-262/MG).
A advogada Ana Luiza Moerbeck, especialista em direito da regulação no Bocater Advogados, considera que a forte presença de fundos de investimentos no leilão, acompanhada de propostas similares, demonstra o fôlego dos players financeiros na competição. “A vencedora no leilão, K-Infra, ofereceu 9% de desconto. Em segundo lugar ficou a XP, que ofertou 8% de desconto”, explica sobre a proximidade das ofertas.
Na mesma linha, o advogado Diego Fonseca Silva, do Rolim Goulart Cardoso Advogados, diz que a presença de grandes grupos financeiros reforça a percepção de que o mercado de concessões está em rota de profissionalização. “Isso se deu em virtude da robustez da modelagem econômico-financeira, tendo a concessão sido cuidadosamente desenhada para manter equilíbrio entre a viabilidade técnica, a previsibilidade regulatória e a atratividade financeira”, aponta sobre o leilão desta quarta-feira.
Cronograma
O pipeline de projetos de concessão do Ministério dos Transportes para este ano representará, caso sejam bem-sucedidos (tenham interessados), investimentos da ordem de R$ 161 bilhões para melhoria das estradas brasileiras. Com três projetos já arrematados, há a chance de obter sucesso com outros 11, já que a tentativa de leilão da ponte São Borja-São Tomé, que liga Brasil e Argentina, não teve interessados.
O próximo leilão previsto é o de relicitação da MSVia (BR-163/MS), agendado para o dia 22 deste mês. Será o primeiro leilão no modelo de relicitação de projetos que, mesmo ainda com prazo de exploração, foram repactuados com aval do Tribunal de Contas da União (TCU). No modelo, a CCR, atual concessionária da MSVia, deverá disputar com eventuais interessados em assumir o contrato reformulado.
Um mês depois, em 26 de junho, nos mesmos moldes de relicitação, será leiloada a Eco101 (BR 101/ES/BA), atualmente gerida pela EcoRodovias. Em ambos os casos (MSVia e Eco101), elas serão definidas como ganhadoras de forma automática caso nenhum concorrente se apresente. Em agosto, destaque para o Túnel Santos Guarujá, maior obra do Novo PAC, parceria entre os governos federal e o de São Paulo.
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