
Durante palestra em Salvador, Ronald Cadar, ex-tenente do BOPE, compartilhou lições de guerra aplicáveis ao mercado financeiro. Com um discurso direto e sem fórmulas mágicas, ele desafiou o público a repensar como enfrentar o caos e tomar decisões.
“Quem me ensinou foi a guerra”, disse Ronald Cadar, ex-tenente do Batalhão de Choque da PM do Rio de Janeiro, durante palestra nesta segunda-feira (28) no escritório da BP SVN Investimentos, em Salvador. O encontro teve como tema resiliência e alta performance no contexto do mercado financeiro.
Conhecido por prender Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, e por negar propina de R$ 1 milhão em uma das maiores operações do BOPE, Cadar agora atua na proteção de autoridades e se tornou voz ativa nas redes, falando sobre mentalidade, risco e liderança.
‘Não existe fórmula mágica’
A palestra do especialista em segurança tática e liderança estratégica contou com um alerta direto. Segundo Cadar, alguns investidores e profissionais do mercado vivem à espera de um caminho fácil ou um atalho para o sucesso.
“A maioria fica esperando uma fórmula secreta, mas isso não vai acontecer. O que a trajetória do BOPE evidenciou é que não tem segredo”, disse.
Para ele, o que diferencia quem avança é a determinação, e não o conhecimento técnico isolado. “Não estou aqui para ensinar vocês a fazer o ofício de vocês. Meu objetivo é compartilhar o que meu professor me ensinou. E o meu professor foi a guerra”, afirmou.
Cadar falou sobre a ilusão da estabilidade e a necessidade de adaptação em ambientes de alta pressão. Em sua visão, quem sobrevive é quem sabe jogar com as cartas que tem, e não com as que gostaria de ter.
“Se você ficar acreditando na estabilidade, vai se iludir. Esteja pronto para o caos.”
Ele descreveu três perfis comuns diante do risco: o sonhador, que acredita num cenário ideal; o legalista, que depende de regras para se sentir seguro; e o adaptável, que joga o jogo real, com o que está disponível. “Você vai sofrer muito mais se insistir em jogar o jogo que queria”, alertou.
Mediana de Aristóteles
Inspirado na “mediana de Aristóteles”, o ex-BOPE defendeu que liderança não vem com o tempo de serviço, mas com a capacidade de agir com consistência e coragem.
O palestrante explicou que a “mediana de Aristóteles”, também conhecida como doutrina do meio-termo ou doutrina da mediania, é um conceito central da ética aristotélica. Aristóteles acreditava que a virtude está no equilíbrio, entre dois extremos — o excesso e a falta.
“Você pode estar começando hoje. Mas se faz com constância, faz com determinação”, disse.
Cadar ainda explicou que, em ambientes extremos, às vezes é preciso criar crises para provocar intencionalidade e movimento. “Muita gente só cria intensidade quando cria uma necessidade. Às vezes você precisa queimar a ponte pra não voltar”, disse.
Em outro momento, Cadar abordou a chamada dicotomia do controle, conceito estoico que aplica também em sua trajetória.
“Diante de toda crise, a gente só controla uma coisa nessa vida: a nossa reação.”
Ele destacou que, em contextos extremos — sejam eles confrontos armados ou crises econômicas —, o autocontrole emocional é o verdadeiro diferencial.
Cultura de um espaço mantém a união da equipe
Encerrando a palestra, Cadar falou sobre a importância da cultura do ambiente, seja em batalhões de elite ou equipes corporativas. Para ele, o que mantém uma equipe firme não é só o trabalho, mas os vínculos reais criados fora da rotina.
“Às vezes a gente trabalha 21 anos junto com a mesma pessoa, mas só vira amigo numa conversa tomando fora do trabalho, compartilhando as histórias particulares.”
Ele reforçou que, mais do que o motivo da guerra, o que importa é quem está do seu lado na trincheira. “A gente faz porque acredita que é o certo. O motivo da guerra não importa, a gente faz porque acredita.”
Ronald Cadar: o policial que disse não a R$ 1 milhão
Ronald Cadar não construiu sua autoridade apenas em discursos — suas ações em campo sustentam sua credibilidade. Em 2011, como tenente do Batalhão de Choque da PMRJ, liderou a operação que prendeu o traficante Nem da Rocinha, um dos criminosos mais procurados do país à época.
A prisão aconteceu durante uma blitz na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, quando os policiais interceptaram um Corolla preto que se passava por veículo diplomático. O nervosismo do motorista levantou suspeitas e, ao se recusarem a permitir a revista, os ocupantes ofereceram propina crescente aos agentes — começando por R$ 30 mil e chegando a R$ 1 milhão, segundo relato de Cadar.
“A proposta foi feita no caminho. A gente recusou. Fizemos o que era certo”, disse na época.
Dentro do porta-malas, estava Antônio Bonfim Lopes, o Nem, que tentava fugir da Rocinha com mais de R$ 100 mil em espécie e 50 mil euros. O carro foi escoltado por terra e ar até a sede da Polícia Federal. A firmeza moral diante da corrupção se tornou um marco na carreira de Cadar — e fortalece o peso de suas palavras ao falar de crise, caráter e liderança.
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