
Nos últimos dois anos, o ecossistema de startups no Brasil passou por uma virada importante. O cenário de abundância de capital deu lugar a um ambiente mais seletivo, no qual eficiência e sustentabilidade financeira passaram a valer mais do que promessas de escala rápida. Neste contexto, negócios que insistem em modelos pouco aderentes que não conseguem entregar bons resultados (reais) tendem a ficar pelo caminho. Já aqueles que têm coragem e perspicácia de adaptar suas estratégias diante dos sinais do mercado ganham fôlego — e relevância.
É nesse ponto que a mudança de rota, adaptação ou, simplesmente, “pivotagem”, pode fazer toda a diferença na sobrevivência de uma startup. Pode ser um processo doloroso, mas, às vezes, também essencial. A taxa de mortalidade de startups no Brasil segue alta — cerca de 25% não passam do primeiro ano, segundo o IBGE. Grande parte delas encerra as atividades justamente por falta de aderência entre o produto e a dor real do usuário – o famoso product-market-fit (PMF).
Em um ambiente onde o capital ficou mais escasso e o investidor exige resultados mais tangíveis, alterar o curso não é sinal de fraqueza, muito pelo contrário – significa maturidade. Startups que identificam rapidamente o que não está funcionando, ajustam suas soluções e se reposicionam com agilidade têm mais chances de encontrar o PMF. Como ouvi de um professor de MBA de Stanford: durante o primeiro semestre do curso focamos em fazer os alunos aprenderem a desapegar da solução ou produto e focar no que é mais importante – o problema.
Às vezes, a solução encontrada (hipótese) tem crescimento, mas não é eficiente. A atenção – ou melhor, obsessão – ao problema é determinante para fazer ajustes que elevam em muito as chances de atingir o PMF mais rápido e eficientemente.
Nos últimos meses, temos visto o movimento de pivotagem se intensificar, especialmente entre as fintechs. Com a desaceleração dos aportes — que caíram 40% no Brasil em 2023, segundo a Sling Hub —, muitas empresas foram obrigadas a repensar suas soluções e foram buscar novos modelos de negócio ou fontes de receita mais realistas. O foco deixou de ser apenas ganhar mercado a qualquer custo. Crescer, sim — mas com eficiência.
Para uma revisão de estratégia de crescimento, mais do que a análise dos dados da empresa e do mercado, é preciso ter escuta ativa e, principalmente, humildade para reconhecer que a ideia inicial pode (e deve) ser aprimorada. Não é à toa que eventos como o South Summit e o G-Stic, voltados à inovação, vêm colocando o tema no centro dos debates. A “grande virada” deixou de ser exceção e passou a ser parte do ciclo natural de amadurecimento das empresas de tecnologia.
Empreender não é acertar de primeira. É corrigir com inteligência e velocidade, mantendo o foco no problema para chegar a um modelo de negócio que seja viável, tanto para o usuário quanto para a operação. Redirecionar o percurso pode ser doloroso no curto prazo, mas pode ser também o que garante que o negócio terá um futuro. Provavelmente, a resiliência seja a melhor qualidade de um empreendedor, importante não confundir com teimosia.
*Luiz Gustavo Neves é cofundador e CEO do GigU, anteriormente StopClub, um copiloto inteligente que aumenta a performance financeira e a segurança de motoristas e entregadores de aplicativo.
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