Por Eliana TAO – CRÔNICA
Não me chamo Janaína, ainda assim tenho alguns aspectos em comum com essa mulher, como “gestos, abraços, mãos, dedos, anéis e lábios, dentes e sorriso solto”, que mesmo com a correria da rotina “apesar de tudo ela tem sonhos”.
Eu tinha um sonho, que com o passar dos anos foi ficando distante, guardado cada vez mais no fundo da gaveta chamada QUEM SABE UM DIA: ir no show de um artista ou banda que eu curto muto.
Como na maioria das conquistas da minha vida tive que dar um empurrãozinho para acontecer, pois “nada pra nós veio de mão beijada”. Dia desses, trabalhando em um clube recreativo centenário tradicional de Curitiba soube que o local receberia um show fechado da Banda Biquini (que antigamente tinha Cavadão no nome).
Imediatamente fui pesquisar em quais das cinco sedes o evento ia acontecer e para a minha surpresa seria na que fica perto da minha casa, no salão que passou por uma reforma total e reinaugurado em março. Fui invadida por um sentimento de gratidão por ter nascido e crescido na mesma época dessa banda de rock nacional, vindo na memória todas as vezes que canções entoadas por Bruno Gouveia me distraíram quando eu era tomada pelo tédio nas repetidas e chatas sessões de fisioterapia desde a infância. Ou quando parava para escutar um resto ou música inteira que estava tocando na rádio entre uma braçada, pernada e respirada na natação praticada ao longo de três décadas. Sem esquecer das vezes que passei na frente da Ono Teatro Bar que recebeu Bruno e banda para mais uma apresentação em Foz do Iguaçu, em agosto de 2009, ocasião que não fui por temer não ter acessibilidade no local.
Depois de instantes de boas memórias tendo o repertório do Biquini como trilha sonora e de volta a realidade estava diante de um problema: o show era para um público seleto, exclusivo para associados do clube e, como se isso não fosse suficiente, por integrar o quadro de colaboradores (e razões de compliance) eu não poderia assistir.
O pedido
Mas como eu não sei o que significa desistir resolvi fazer uma tentativa, mesmo que pouco provável de se concretizar. Num domingo, do computador pessoal, fui buscar todas as redes sociais oficiais do Biquini, marcando também todos os integrantes com perfis pessoais, além de outros ligados à banda. Respirei fundo e comecei a escrever: “(…) a banda vai se apresentar no Clube que eu trabalho e eu não posso ver vocês porque é somente para associados e convidados, não é permitido para colaboradores. Me ajudem! Quero muito ir no show, tentar cantar umas músicas de vocês, tirar umas fotos e pegar um autógrafo. Me ajudem por favor!” pedi nos trechos finais da mensagem. Assinei com o nome completo e deixei um contato. Cliquei no ENTER com os dedos cruzados e o coração cheio de esperança.
Os dias foram passando e segui com minha rotina sempre com uma pontinha de decepção quando via ou ouvia alguma divulgação do show por nada ter acontecido, mas orgulhosa por feito pelo menos uma tentativa, onde literalmente abri meu coração.
Meu pai dizia gostar da quinta-feira, por ser seu dia de sorte. Pois passou a ser o meu também. Na noite de véspera do show chega uma mensagem no meu whatsapp. Alguém se identificando como produtor do Biquini: “chegou a mim uma demanda sua para ir ao show né isso???? Estou tentando uma resposta, mas não falaram nada até agora.” Reli as mensagens algumas vezes e tomada por um misto de surpresa/alegria e desconfiança em tempos de tantos golpes digitais disparei um “jura!”, como quem pedisse algum tipo de confirmação. Intermináveis minutos depois a resposta “JUROOOOO”. Nem sei como encerrei o dia e adormeci, mas fato é que precisava trabalhar no dia seguinte, quando ao cair da noite aconteceria o tão esperado show do Biquini no clube recreativo.
Minha aparente tranquilidade com as demandas do trabalho escondia uma angústia, bem como uma preocupação, pois as horas passavam e tudo permanecia incerto para logo mais. Eis que acontece uma reviravolta.
Quase engasguei com o almoço quando vi algo dizendo: “Deu certo! Quando chegar em Curitiba te aviso para ver como você irá pegar os convites.” Independente se só para mim ou mais um acompanhante a reação foi agradecer e muito! Perto das 18h30 mensagens perguntavam como era mais fácil eu pegar os convites: no hotel ou no clube. Voltei ao clube, peguei os convites, mas não encontrei essa pessoa da produção, por estarmos em portarias diferentes, conversando somente por telefone, quando me passou umas instruções.
Retornei para casa, sem acreditar no que estava acontecendo e convidei alguém para embarcar nessa aventura comigo. Do outro lado da tela, a pessoa topou, mesmo sem entender direito. Afinamos os detalhes de horário e local de encontro: expliquei que teria um “esquenta” com o DJ Ricardo Monteiro “ah tá! a gente tá mais animada para o show do Biquini né?” pergunta, meio desnorteada. Se ela estava desse jeito, imagina eu.
O início da aventura
O grande momento estava cada vez mais perto e tudo parecia a favor: o clima agradável, o trânsito tranquilo, fluindo, até o tempo, pois não teve o típico “chove chuva! Chove sem parar!” que em Curitiba vem nas horas mais inoportunas. Tive, porém, que superar alguns obstáculos como o waze desorientado, chegar na portaria errada e ainda ser “barrada” pelos atendentes por meu nome e de minha acompanhante não estar em nenhuma lista: nem de associados, nem de convidados, mas instantes depois fomos liberadas, pois como disse uma delas “são convidadas da produção! Nem existe pulseirinha VIP para elas! Tá tudo bem! Podem ir! Bom show para vocês!”

A jornalista Eliana Tao com o “tio de consideração” Reinaldo Baeta – Foto arquivo pessoal
Foi fácil chegar ao salão onde o show aconteceria, o mesmo não posso dizer de achar as nossas mesas que deveriam estar lado a lado, encontrando apenas uma, mas OK, ficamos juntas. Avisei ao contato da produção que já estava no local, acomodada junto a mesa 147, quando uma mensagem pergunta: “cadê tú?” Era Reinaldo Baeta, associado do clube e meu tio de consideração desde quando eu era garotinha.
Alguns minutos procurando o tio Baeta, sentamos com ele e outros amigos na mesa 90: aos poucos saía do fundão e me aproximava do palco. Mandei uma foto minha acompanhada para o contato da produção como quem diz “olha! Sou assim!”, junto com a informação de que tinha mudado de mesa, de onde eu tinha uma visão um pouco melhor do palco.
Bruno Gouveia e o Biquini subiram ao palco pontualmente às 23 horas, quando escolheram “Zé Ninguém” para ser a primeira música do show e antes da canção terminar eu estava “respirando fundo para ter coragem para ir mais perto do palco”, confidenciei para quem me acompanhava, afinal “agora é tarde para recuar. Eu não vou recuar!”
Anjos da guarda
Criou-se imediatamente um corredor seguro para que eu pudesse me deslocar usando a cadeira de rodas motorizada. Um cordão humano formado por “tanta gente interessante, sincera e elegante” associados do clube, desconhecidos, unidos pelo amor ao Biquini. Uns abriam caminho na frente, outros me protegiam pelos lados e quem convidei seguia atrás. A cada dificuldade vencida – quando fui carregada como um imperador chinês – os envolvidos me pediam um beijo, um abraço, um cumprimento com a mão para comemorar. Quem estava próximo era avisado da presença de uma pessoa com de deficiência física, originando uma bolha segura, inclusive o senhor a minha frente passou o show de duas horas, meio torto e semiagachado para não obstruir meu campo de visão: “vem mais para cá! Aqui você vai ver melhor! Tá feliz? Me dá um abraço! Aproveite!”, dizia o anjo da guarda anônimo.
O show
Na ocasião o grupo musical trouxe para Curitiba o novo show intitulado A vida começa aos 40 onde Biquini celebra as quadro décadas da banda com um set-list recheado de sucessos de diferentes épocas de sua trajetória. De onde eu estava, pertinho do palco, deu para cantar o finalzinho da primeira música, quando tive a impressão de Bruno Gouveia piscar para mim. “Não viaja! Só olhou na sua direção!”, pensei. Ainda assim, sei lá como, retribui a interação.
Em duas horas de show não me preocupei em registrar com o smartphone, mas em viver aquele momento plenamente, gravando apenas um trecho de “Chove chuva” além de “Janaína” quando cantei empolgada. Também estava com as letras de “Tédio”, “Timidez”, “Carta aos Missionários”, “Múmias”, “Dani”, “Quando eu te encontrar”, “Vou te levar comigo” e outros hits fresquinhos na memória, me fazendo cantar do início ao fim.

Show do Biquini, que completa 40 anos de estrada em 2025 – Imagem: reprodução vídeo
Me emocionei nas músicas “Meu reino”, por remeter a meu pai já falecido, pois a letra lembra como ele via a casa que conquistou com tanto esforço e dedicação ao trabalho ao longo dos anos. Em momentos de “Impossível” e “Em algum lugar no tempo” cujos versos “ainda estamos juntos em algum lugar no tempo nós ainda estamos juntos. Pra sempre, pra sempre ficaremos juntos” foi entoado por mim em meio a lágrimas por me lembrar Sr. Tao, o chinês fã de boas músicas, blues principalmente.
Durante a canção “Quanto tempo demora um mês” cantei o trecho “se eu pudesse escolher outra forma de ser eu seria você” e apontei para o Bruno Gouveia (não sei se ele viu). E eu corpo não acompanhou, mas meu coração bateu no ritmo dos pulos dele e demais integrantes em “Vento ventania” que teve a letra ligeiramente alterada para a ocasião: “Vento, ventania, me leve pra qualquer lugar, me leve para qualquer canto do mundo Ásia, Europa, Curitiba”. ”Camila, Camila” (sucesso da Banda Nenhum de Nós) ficou sensacional na interpretação do Bruno, canção que também cantei a plenos pulmões.
Fiquei bem contente por ver que as pessoas escolhidas para subir ao palco foram todas do sexo feminino: a criança e a fã adulta que arriscou cantar com o microfone. Nunca senti inveja de ninguém em momento algum da vida, nem nessa situação, aliás estava tão feliz como “criança num parque de diversões”. Um momento especial do show foi quando de luzes acesas Bruno bateu um papo com o público onde relembrou outras passagens da banda pelo clube recreativo, inclusive quando não eram tão famosos, além outras de apresentações na capital paranaense. Aproveitei o momento “pesquisa” erguendo meu braço direito ao máximo quando ele quis saber quem estava assistindo ao show pela primeira vez. Quando Bruno recordou que o Biquini foi a primeira banda brasileira a ter um e-mail e um site oficial nos primórdios da internet sendo ele mesmo o responsável pelo conteúdo durante uma década, naquele momento entendi que a postagem com meu pedido chamou a atenção dele por ser um artista que há muito tempo criou um canal de comunicação com os fãs, estando atento às mensagens.
Vi Bruno sentar escondido no fundo do palco por um tempo para se hidratar e descansar um pouco quando a apresentação passou a ser liderada por Carlos Coelho, integrante do Biquini, mantendo a animação do público lá em cima. Gouveia voltou na reta final do show e quando ele começou a apresentar cada membro mandei mensagem para o contato da produção para que o restante do meu pedido fosse atendido.
Surpresas
O primeiro show que fui na vida chegou ao fim pontualmente às 01 da madrugada de sábado. De repente o vocal de uma das maiores bandas de rock dos anos 80 desce do palco, me abre um sorriso e vai apertar a minha mão. Como eu não podia beliscar Bruno Gouveia para confirmar se aquilo estava realmente acontecendo, o jeito foi segurar bem firme na mão dele e perguntar como poderia fazer para tirar uma foto e pegar um autógrafo. A resposta foi sussurrada no meu ouvido direito: “vamos fazer melhor: te esperamos no camarim! Te espero lá!”, reforçou Bruno, já saindo. Olhei para minha “escolta pessoal” e disse que íamos ao camarim. Questionada se eu sabia da localização: “não sei! Mas temos até três da madrugada para descobrir! Todo mundo viu que o Bruno desceu do palco e falou alguma coisa só para mim! Eu não saio daqui hoje sem minha foto e meu autógrafo!”
Com ajuda superei os degraus, os cabos e com direcionamento cheguei ao camarim, não muito longe do palco. Ali estavam esperando por Bruno Gouveia, que calmamente atendia os fãs, posando carinhosamente para as fotos. Entrei na fila, como os demais, mas assim que Bruno me viu a pediu para a produção organizar e fazer os outros aguardarem. Eu disse que estava tudo bem esperar como todo mundo, pois todos eram fãs esperando por esse momento com o ídolo. “Não, não! Ela primeiro! Estamos esperando por ela! Pega o seu celular mesmo e tira foto dela comigo aqui mesmo! Depois pega o número dela para mandar as fotos”, pediu para um membro da produção: “que bom que você veio!”, comemorou Bruno, antes das fotos. Infelizmente nem todos os registros ficaram bons, pois eu estava literalmente com cara de boba, com tudo acontecendo diante dos meus olhos. Ainda bem algumas fotos ficaram bonitas e farão parte de uma composição de imagens feita por Luciano Sergel, meu “primo”, expert em fotografia e pós-produção na Fozcolor.
A essa altura faltava só um item da minha lista de pedidos, quando perguntei para o Bruno como faria para conseguir: “você vai para o nosso camarim! Quem está com você vem (junto)!” Logo ele foi se informar: “tem alguém que está aqui que vai para o nosso camarim. Como fazemos? Pela escada? Mas ela é cadeirante, deve ter outro jeito de levar ela lá em baixo! Ah pelo elevador! Alguém sabe onde fica? Não! Elas não vão andar sozinhas não! Alguém acompanha elas até lá embaixo!”. “Olha, tem elevador e alguém vai com vocês. Vou atender essas pessoas que estão aqui e vou te encontrar lá! Já chego lá!”, me explicou ao voltar.
Atravessei o salão de ponta a ponta até o elevador. Aproveitei e perguntei para a moça da produção se estava apresentável, bonita: “tá linda! O Bruno te notou! Ele te notou, gata! Tá linda!”, exclamou. A moça me deixou na porta do camarim: “é aqui! É só chegar!”
Inversão de papéis
Fui entrando lentamente no camarim, onde só estavam os integrantes da banda e a equipe da produção. O primeiro que encontrei foi o tecladista Miguel Flores, que me cumprimentou discretamente. Como “nunca me disseram como devo proceder” numa situação dessas continuei circulando enquanto lembrava do Dr. Roberto de Almeida, médico e grande amigo dos tempos que eu trabalhava na área da saúde em Foz do Iguaçu e como ele se surpreendeu com minha habilidade de conversar com pessoas desconhecidas como se fossem meus vizinhos, sem perder o ar de surpresa até hoje, quase 15 anos depois. Acontece Dr. Roberto que neste caso não é qualquer desconhecido: a pessoa em questão é Bruno Gouveia, vocalista de uma das maiores bandas do país. Quando ele passa bem na minha frente: “oi Bruno!”, exclamei!
“Mas antes que eu me esqueça, antes que tudo se acabe eu preciso, eu preciso, dizer a verdade”: Bruno Gouveia é um lord, mega simpático e atencioso: “vem pra cá! Que bom que deu certo!”, disse, com um sorriso. Fui para um cantinho sossegado do lado direito camarim, com Bruno pegando uma cadeira e sentando ao meu lado, bem pertinho.

Momento fã de Eliana Tao com Bruno Gouveia – Foto arquivo pessoal
Apesar de eu ser jornalista, nesse momento invertemos os papeis, sendo Bruno quem me fazia perguntas:
– Me diz uma coisa: como foi chegar até aqui (no camarim)? Foi tranquilo? Foi fácil? Cuidaram bem de você?
– Ah! Sim! Sobre isso só tenho a agradecer! Queixa nenhuma! Perfeito! Obrigada! Só precisei acelerar para chegar mais depressa até aqui. Eu caminho, mas devagar e em algumas situações ela (a cadeira de rodas motorizada) é mais adequada. A Ferrari está velhinha, gasta aqui e ali, mas aguentou correr hoje. É o apelido da minha cadeira por ter detalhes em vermelho e ela me ajudar a correr.
– Muito apropriado! (risos) Que bom!
– Lembro muito das suas postagens no Orkut sobre livros da Mafalda, do cartunista Quino. Eu estava começando a faculdade de jornalismo e lia todos os seus posts sobre a banda e sobre os livros.
– Eu gosto muito dele!
– Lembro de ler esses seus posts em voz alta para meu pai. Vim com ele no coração hoje.
– Ele não veio?
– Não pôde vir, infelizmente! Meu pai é falecido há quase seis anos.
– Sinto muito!
– De tanto eu ler seus posts meu pai foi associando seu nome à banda Biquini Cavadão. Lembro dele descendo correndo as escadas do sobrado que a gente morava na outra cidade para me avisar que estava passando um clipe ou um show de vocês na TV. Meu pai queria saber como era a Mafalda e quando eu terminava a descrição ele dizia que tinha uma em casa, com cara chinesa e usando óculos. É que que naquela época eu tinha visual e temperamento parecido. Meu pai sempre incentivou eu ter ídolos que compartilhassem conteúdo interessante, que agregasse de alguma forma. Vim com meu pai no coração hoje. Ele gostava de outro estilo de música e infelizmente, não teve a oportunidade de ir ao show de uma banda grande, famosa, foi só de bandas locais, mas hoje de algum modo ele está aqui.
– Entendi. Achei que fosse o da foto (tio Baeta).
– Não, mas praticamente! Ele é meu tio de consideração, melhor amigo de meu pai e me conhece desde quando eu era criança.
– Ele está lá fora? Não quis entrar?
– O tio tem idade e é cardíaco, fez um monte de exames ano passado. Melhor cuidar… Mas ele está bem! Rodeado de amigos lá fora, nem faz ideia que estou aqui.
– Você quer um autógrafo né? Eu tenho caneta, mas não tenho papel, deixa eu procurar um papel!
– Não precisa! Eu tenho tudo aqui oh! Na minha bolsa cheia de brilho e strass usada só em ocasiões especiais, pois hoje é dia de show e pede brilho! Meu visual também foi pensado para hoje: vermelho com brilho oh! Para os chineses vermelho simboliza festa, marca momentos alegres então eu não poderia escolher outra cor! Além disso gosto de vermelho! (tirei um caderninho cor de rosa da bolsa) Sabe como abre ela? Tem um botão aqui: só apertar que abre.
– Dá para notar que você gosta de vermelho! (risos) Eu também gosto de vermelho! É uma cor muito bonita, que fica muito bonita com as luzes, no palco! (risos). Posso escrever com a minha caneta? Ela é mais marcante! Ou quer que seja com a sua?
– Você que manda! Do jeito que você quiser para mim está ótimo!
(abriu o caderninho em uma página aleatória) – Como é o seu nome? (a ideia dele era ir escrevendo enquanto eu dizia meu nome)

Autógrafo de Bruno Gouveia para Eliana Tao
– Eliana. Na verdade, meu nome é composto: Eliana – como da apresentadora de TV – Louise (L-O-U-I-S-E), igual da Madonna, TAO (T-A-O, sem acento). Bruno Gouveia foi escrevendo cada nome meu, Louise no ritmo que eu soletrava, mas travou totalmente no meu sobrenome, escrevendo pausadamente: então não é errado dizer que eu sou A Tao! (risos de ambos), finalizei, enquanto ele seguiu com a mensagem do autógrafo.
– Seu sobrenome é?
– Chinês.
– Hum! Sobrenome chinês, mas nomes brasileiros, em português! (risos) Você fala chinês?
– Falo sim! Só não fui alfabetizada. Falo bem até: recebi 4 comitivas de médicos chineses quando trabalhava no hospital em outra cidade. (Bruno surpreso)
– Quantos anos você tem?
– A banda tem 40 anos, eu sou um pouquinho mais velha: tenho 43 anos: cresci ouvindo, inclusive quando eu ficava entediada na fisioterapia eram as músicas do Biquini que tocavam na rádio que me distraía.
– 43 anos! Você está muito bem! Está bem (jovem)! (não conseguia esconder a surpresa com relação a minha idade. Normal, pois muitos me dão no máximo 25 anos)
(me mostrou a mensagem do autógrafo, tiramos mais uma foto) – E ela quem é? (a pessoa que me acompanhava)
(disse o nome e qual a minha relação com ela) – ela é o oposto de mim: tímida e bastante reservada… hoje está na função de segurança. Segurança gata que eu arrumei né? (risos) Eu gosto (da música) Timidez, mas não me define.
– Dá para ver que ela é bem tímida! Sim! Bonita ela! Realmente não te define, notei que você é bem falante! (risos)
– Sim! Minha mãe conta que comecei a falar com dez meses e com dois anos já era intérprete dela. Se meu pai estivesse aqui ia aproveitar que você tossiu e falar dos benefícios do própolis. Como ele não está, eu falo para manter a tradição.
– Não é tosse, é faringite. Será que ajuda? Não sei se você viu que eu cantei o show inteiro tossindo, ainda bem que não desafinei…
– Para faringite eu não sei, mas para vocês que viajam muito e enfrentam mudança de temperatura e clima de uma cidade para outra pelo menos ajuda a aumentar a imunidade. Não se preocupe: você pode cantar do jeito que for que a gente não se importa! É bom de qualquer jeito! (risos)
– Você usa (própolis)?
– Sim! Nas duas versões: líquida e em spray também. Todos os dias.
– Não sei se vou melhorar a tempo, ainda temos mais quatro shows depois do de hoje. Acho que vou ter que cantar assim mesmo (tossindo). Terminou a faculdade?
– Sim! Não foi fácil, mas terminei. E estudei um pouquinho mais depois…
– Legal! Você trabalha aqui (no clube) né?
– Sim! Inclusive uso a cadeira de rodas motorizada no trabalho, para me deslocar mais rápido e em segurança. Dizem que vão instalar radares para me frear (risos). Ainda não tem acessibilidade total, mas onde tem corro para todo lado! (risos de ambos)
– Lancha com a gente! Só tem nós aqui. Olha lá naquela mesa quanta coisa gostosa tem! (eu pensando que o Bruno pode ter sido chinês em alguma outra encarnação por gostar de usar trajes com a cor vermelha, enquanto eu devo ter sido mineira, pois sempre vou direto no pão de queijo)
– Daqui a pouco eu vou indo, já está tarde e se eu conheço minha mãe deve estar acordada até agora em casa.
– Ela está não quis vir hoje?
– Ela é chinesa, não ia entender nada.
– Ah sim! Você mora onde?
– Moro aqui perto. Foi bem tranquilo vir hoje.
– Vocês vão embora como?
– De Uber! Se tiver carro a essa hora…
– Pede o carro e fica aqui! Vocês não vão ficar lá fora sozinhas não: está tarde e frio lá fora, é perigoso. Fica aqui até o carro chegar! Pediu? Chega em quanto tempo? Ah 10 minutos!
– Não quero sair desse abraço nunca mais!
Me despedi em voz alta do resto da banda e da equipe, sendo respondida em coro e com acenos:
– Agradeço por tudo o que fizeram por mim hoje! Estou tão feliz que não sei se vou conseguir dormir!
– Aí deita na cama e puff! (Bruno cai pro meu lado)
– É bem assim mesmo! (Risos de ambos)
A despedida

Eliana Tao com Bruno Gouveia no camarim – Foto arquivo pessoal
O carro por aplicativo se aproximava. “É hora de dizer adeus” (quando minha vontade era pedir “só mais um minuto com você”) mas não era possível. A pedido de Bruno Gouveia deixei o camarim acompanhada daquele membro da produção que fez contato comigo, reforçando que era para providenciar um lugar confortável para eu ficar mais minha acompanhante.
– Que bom que deu certo! Obrigado por ter vindo!
– Ei mas quem tem que agradecer sou eu! Muito obrigada por tudo!
Bruno olhava eu me afastar lentamente e conversando com membro da produção. Na última vez que nossos olhares se encontraram trocamos um “boa noite!” como despedida.
A caminho de casa estava imensamente feliz por tudo o que tinha vivido e já pensava em repetir sempre que a banda se apresentar no clube recreativo na sede do Bairro Água Verde no futuro, contando com uma mãozinha deles novamente, tendo inclusive o novo caderno de recordações.
Já em casa aviso o tio Baeta que estava preocupado com meu sumiço e estava a minha procura. Comuniquei também o contato da produção, agradecendo por todo carinho e atenção recebidos, quando descubro estar em dois stories da banda. Chegava ao fim meu conto de fadas musical repleto de surpresas e momentos impossíveis de esquecer. Vou me deitar com um conselho cantado por Bruno Gouveia: “amanhã é outro dia!”.
Eliana Tao é jornalista com raízes em Foz do Iguaçu e nas Três Fronteiras. Atualmente reside em Curitiba.
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