A JBS deu um passo decisivo em sua estratégia de internacionalização nesta sexta-feira, 13, quando suas ações começam a ser negociadas na Bolsa de Nova York (Nyse), após anos de preparação e superação de obstáculos. A dupla listagem, que mantém a negociação de BDRs na B3, representa não apenas uma mudança de estrutura societária, mas uma aposta da companhia em atrair investidores globais e reduzir a distância que avalia ter em relação a concorrentes internacionais, como a Tyson Foods.
O mercado já precificava a listagem nos Estados Unidos, mas agora o foco se volta para os próximos passos, segundo disse ao Broadcast Agro o analista de Agro, Alimentos e Bebidas da XP Investimentos Leonardo Alencar. “A listagem só termina de fato em dezembro de 2026, quando teremos clareza sobre o free float e a liquidez. Até lá, o preço da ação ainda reflete mais o fluxo desse processo do que os fundamentos da empresa”, afirmou.
Os fundamentos, porém, são um dos principais trunfos da JBS na conquista do mercado global. Com diversificação geográfica e de proteínas, a companhia reduziu a volatilidade de seus resultados – um ponto-chave para investidores. “A JBS é uma commodity com recorrência. Em 2024, teve desempenho excelente, e 2025 segue positivo, mesmo com margens potencialmente menores”, destacou Alencar.
O desafio agora é convencer o mercado americano de que merece múltiplos mais altos. Enquanto a JBS opera hoje a cerca de 4,5 vezes EV (valor de mercado)/Ebitda, a Tyson Foods negocia a 6x e a Hormel, focada em processados, a 12x. A expectativa da empresa é que, ao se aproximar dos investidores internacionais, ocorra uma reavaliação gradual do seu valor de mercado. Projeções do Bradesco BBI apontam para um potencial de valorização de 50% a 149% caso a JBS se aproxime dos múltiplos de suas pares globais.
Do lado da JBS, o discurso é de otimismo. “A listagem aumentará nossa visibilidade internacional e fortalecerá nossa posição como líder global”, afirmou o CEO, Gilberto Tomazoni, em teleconferência com analistas e investidores. O CFO, Guilherme Cavalcanti, destacou que a base de acionistas estrangeiros já saltou de 65% para 80%, e que o spread da dívida caiu em antecipação à mudança. O acionista controlador e conselheiro da JBS, Wesley Batista, foi além: “O múltiplo lá [nos EUA] é infinitamente superior. É transformacional estar no maior centro financeiro do mundo”, comentou à CNN Money.
Com a listagem consolidada, a JBS mira agora a inclusão no S&P 500 – o que exigirá ajustes como aumento do free float (fração de ações de uma empresa que estão disponíveis para negociação livre no mercado de ações). A empresa espera entrar no índice Russell em junho de 2026 e no S&P 500 em um momento posterior. A possibilidade de a JBS se tornar a primeira empresa brasileira a integrar o S&P 500 é tratada como um marco. “Nós vamos perseguir isso”, afirmou Batista. “Nós acreditamos que vamos estar lá e vamos celebrar muito.”
A empresa também sinaliza que a maior liquidez pode abrir portas para aquisições. “Crescer faz parte do nosso DNA”, disse Batista, citando alimentos industrializados (como pizzas e margarinas) como eventual foco de expansão da atuação da JBS. “Estando listados na Nyse acessando um volume de recursos detido pelos maiores fundos de investimento dos Estados Unidos, logicamente isso vai abrir condições para a JBS”, acrescentou.
Se já pensa nos próximos passos após a dupla listagem, a JBS completou caminho até a Nyse que não foi livre de controvérsias. A empresa enfrentou resistência de grupos ambientalistas, como o Greenpeace, e críticas de políticos americanos. A senadora democrata Elizabeth Warren questionou doações de US$ 5 milhões da subsidiária Pilgrim’s Pride a comitês ligados a Donald Trump, sugerindo possível influência na aprovação da listagem pela SEC, a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos. Consultorias de governança como ISS e Glass Lewis também recomendaram que acionistas votassem contra a reestruturação, embora o fundo Mason Capital tenha defendido a operação como “oportunidade multibilionária”.
Alencar lembra que o processo foi longo e marcado por incertezas. “A expectativa da empresa já existia há muito tempo, mas faltava o aval da SEC. Havia ainda a dúvida sobre a posição do BNDES, que no passado foi contra, mas acabou se abstendo na votação decisiva”, explicou o analista da XP.
Enquanto o mercado acompanha os primeiros pregões em Nova York, o desafio da JBS será equilibrar as promessas de valorização com a necessidade de provar que sua diversificação e governança estão à altura dos padrões globais. Como resume Alencar: “Ainda estamos no começo. O verdadeiro teste virá quando a poeira da listagem baixar, e os investidores passarem a olhar apenas para os fundamentos”.
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