Desrespeito revestido de afeto

Pitico Fernando Priamo

O Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa é celebrado neste domingo (15). Dia que foi instituído pela ONU – Organização das Nações Unidas – e pela Rede Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa. Se não existisse violência contra as pessoas idosas essa data não estaria presente no calendário mundial. Ou seja, a violência existe, sempre existiu, independente de classes sociais e de condições econômicas.

Ela manifesta-se de diferentes formas, e muitas das vezes, atinge as pessoas idosas, com estratégias sutis nas suas expressões e quase despercebidas de violências, como as que são produzidas por algumas pessoas da família e/ou por cuidadores, que podem parecer que estejam acompanhadas de carinhos e pretensas manifestações de afetos, mas, no fundo, desrespeitam as pessoas idosas, as diminuem como seres humanos, do que, verdadeiramente, as confortam na intimidade delas.

São derivações variadas de violências: gritos, negligências, chantagens, punições, ameaças e castigos distintos. Esse contexto não é muito raro de a gente reconhecer em alguns ambientes familiares com o domínio da repressão e o emprego da força por parte de algum cuidador familiar que é tido como referência no cuidado, por outras questões construídas na relação doméstica, mas que não tem a mínima habilidade, e muito menos seria a pessoa mais indicada para essa função. Mas cuidar de uma pessoa idosa em casa, dependendo do grau de dependência, não é tarefa que gera disponibilidade dos familiares. Todo mundo tem as suas responsabilidades. E cada um cuida, quando cuida, com a sua possibilidade existente.

É no círculo familiar que acontece os principais casos de violências. Estudos revelam que os agressores das pessoas idosas têm algum grau de parentesco entre si. São pessoas do grupo familiar que provocam vários abusos contra seus idosos. O que pode justificar as subnotificações desses crimes às autoridades especializadas na apuração e punição. Por exemplo. Como eu vou denunciar meu neto às autoridades policiais?

A violência contra as pessoas idosas é um problema real, que infelizmente, vem aumentando ultimamente, e traz profundas repercussões psicológicas, físicas, médicas jurídicas e éticas à sociedade e ao país, e ainda permanecem ocultas e com pouco enfrentamento por parte de nossas instituições públicas e dirigentes políticos. O enfrentamento da violência contra as pessoas idosas envolve a mudança de comportamento de toda a sociedade na eliminação do nosso preconceito em relação a todos nós que envelhecemos. A violência contra as pessoas idosas não está apenas nas feridas e luxações no corpo, mas também nas miudezas imperceptíveis do nosso relacionamento no convívio social do nosso dia a dia em nossa cidade.

Nas calçadas esburacadas. No degrau elevado de alguns ônibus, para entrar e sair, no transporte coletivo. Na velocidade própria de um atleta, que não temos e nem somos, para atravessar a rua, em 12 segundos, indicados pelo semáforo, próximo à Igreja da Glória. Nos caixas eletrônicos das agências bancárias que tem uma velocidade maior do que o nosso tempo para dominar as operações financeiras. E as violências invisíveis, aquelas que nosso olhar não alcança? A invisibilidade da falta do que ter para comer; de não ter dinheiro para comprar o remédio; de dormir nas ruas; de mesmo morando em casa não tem o amor dos filhos.

A violência contra as pessoas idosas deveria nos envergonhar. Como admitimos essa realidade? Que futuro teremos com esse presente violento? É o maior problema de saúde pública da atualidade, e o que mais cresce. Como mudar essa realidade? Promovendo diariamente uma educação para o nosso envelhecimento com eventos e campanhas educativas, debates, simpósios, seminários, conferências sobre como é envelhecer na cidade.

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