O aplicativo Meta AI tem se tornado um campo minado de privacidade digital. Desde seu lançamento em abril de 2025, a plataforma de inteligência artificial da Meta exibe conversas pessoais dos usuários em um feed público chamado “Discover”, revelando informações sensíveis que variam de problemas médicos a questões judiciais pendentes.
A funcionalidade permite que qualquer pessoa navegue pelas interações de outros usuários com o chatbot, criando uma espécie de rede social baseada em conversas com IA. O problema surge quando as pessoas compartilham detalhes íntimos sem perceber que suas mensagens se tornarão públicas.
Dados sensíveis expostos publicamente
As informações encontradas no feed público incluem conversas sobre assuntos altamente pessoais. Usuários têm compartilhado questões médicas detalhadas, incluindo problemas intestinais, erupções cutâneas e informações sobre cirurgias. Outros divulgam endereços residenciais, números de telefone e detalhes sobre processos judiciais em andamento.
Um exemplo particularmente preocupante envolve uma pessoa solicitando ajuda para redigir uma carta a um juiz sobre custódia de filhos, incluindo informações pessoais completas. Outro usuário, de 66 anos, perguntou sobre países onde “mulheres mais jovens gostam de homens brancos mais velhos”, fornecendo sua localização e planos de mudança.
A situação se torna ainda mais delicada com as gerações de imagens e gravações de áudio. O aplicativo permite conversas por voz, e algumas dessas gravações aparecem no feed público. Especialistas identificaram áudios que parecem ter sido ativados acidentalmente, capturando conversas particulares entre pessoas.
Como funciona o compartilhamento
Segundo Daniel Roberts, porta-voz da Meta, as conversas não são públicas por padrão. Os usuários precisam passar por um processo de múltiplas etapas para compartilhar suas interações, incluindo clicar em “Compartilhar” e depois em “Publicar”.
As pessoas realmente não entendem que nada do que você coloca em uma IA é confidencial. Nenhum de nós realmente sabe como todas essas informações estão sendo usadas. A única coisa que sabemos com certeza é que não está ficando apenas entre você e o aplicativo
Calli Schroeder, consultora sênior do Centro de Informações sobre Privacidade Eletrônica da Meta
A empresa enfatiza em comunicado oficial que “nada é compartilhado no seu feed a menos que você escolha publicar”. Entretanto, a realidade observada sugere que muitos usuários podem estar compartilhando sem intenção.
Usuários desconhecem exposição pública
Uma investigação conduzida pela jornalista Katie Notopoulos revelou o desconhecimento dos usuários sobre a natureza pública de suas conversas. Ela entrou em contato com mais de 20 pessoas cujas conversas apareceram no feed público, mas apenas uma respondeu, confirmando que não tinha intenção de tornar sua conversa pública.
O caso envolvia um pedido de conselhos para conserto de automóvel, demonstrando como até conversas aparentemente inofensivas podem ser expostas inadvertidamente. A situação se agrava quando se considera que os perfis reais do Instagram e Facebook dos usuários ficam vinculados às suas publicações na Meta AI.
Outros indícios do compartilhamento acidental incluem gravações de áudio onde pessoas aparecem conversando entre si, com a IA respondendo automaticamente. Isso sugere que o botão de gravação foi ativado sem que os usuários percebessem.
Impacto na privacidade digital
A especialista em segurança Rachel Tobac identificou no feed público informações sobre crimes cometidos, interesse em relacionamentos extraconjugais, fotos de crianças e planos de viagem particulares. Ela alerta que existe uma desconexão entre as expectativas dos usuários sobre como a ferramenta funciona e sua realidade operacional.
O problema se intensifica porque muitos usuários tratam a IA como um assistente pessoal e privado, similar a outras plataformas de chatbot que não possuem recursos sociais. A diferença fundamental da Meta AI está justamente nesta dimensão social inesperada.
Números de adoção ainda baixos
Dados da Appfigures, empresa de inteligência de aplicativos, mostram que a Meta AI foi baixada apenas 6,5 milhões de vezes desde seu lançamento em 29 de abril. O número pode parecer impressionante para aplicativos independentes, mas representa um resultado modesto considerando os bilhões de dólares investidos pela Meta em tecnologia de inteligência artificial.
O baixo engajamento pode estar relacionado às preocupações de privacidade que surgiram logo após o lançamento. Críticos apontaram potenciais problemas de privacidade desde o início, com alguns veículos classificando a plataforma como “um desastre de privacidade esperando para acontecer”.
Contexto no ecossistema Meta
A Meta AI faz parte da estratégia mais ampla de Mark Zuckerberg para inteligência artificial. O CEO anunciou recentemente que o assistente IA da Meta possui 1 bilhão de usuários em todas as plataformas da empresa.
Além disso, há agora a confirmação sobre a criação de um novo laboratório de IA liderado por Alexandr Wang, cofundador da Scale AI, dedicado à construção de superinteligência.
O contraste entre esses investimentos massivos e os problemas práticos do aplicativo independente levanta questões sobre a implementação da estratégia de IA da empresa. Enquanto a Meta busca posicionar sua tecnologia como o futuro da interação digital, a experiência real dos usuários tem sido marcada por confusão e exposição não intencional.
Reação da comunidade técnica
A situação tem gerado preocupação entre especialistas em privacidade e segurança digital. O problema não se limita apenas à exposição de informações pessoais, mas também à falta de transparência sobre como os dados são processados e utilizados pela plataforma.
Alguns usuários mais experientes têm começado a trollar o sistema, publicando intencionalmente conteúdo provocativo ou irrelevante, o que pode indicar uma perda de confiança na seriedade da plataforma. A tendência pode acelerar a deterioração da qualidade do conteúdo no feed público.
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O que vai acontecer agora?
A Meta ainda não respondeu às questões sobre quais medidas de proteção existem para evitar o compartilhamento de informações pessoais identificáveis na plataforma Meta AI. A empresa também não comentou sobre possíveis ajustes na interface para tornar mais clara a natureza pública do compartilhamento. Ou seja, até o momento vida que segue.
Mas o caso da Meta AI serve como exemplo dos desafios enfrentados pelas grandes empresas de tecnologia ao integrar recursos sociais em ferramentas de IA. A experiência demonstra como a falta de clareza sobre privacidade pode transformar uma ferramenta útil em uma fonte de exposição não intencional para seus usuários.
Fonte: TechCrunch, Business Insider e Wired
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