
A recente pesquisa Genial/Quaest, feita no último fim de semana, é recheada de recados das ruas aos políticos, e o mais emblemático deles é direcionado aos dois principais atores da cena nacional: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu antecessor Jair Messias Bolsonaro. Ambos capitalizam as atenções e dão mostras de não abdicarem de seu papel. Lula deve insistir no quarto mandato, colocando como exceção questões de saúde, embora chegue ao pleito aos 80 anos.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo estando, atualmente, inelegível por decisão da Justiça Eleitoral, aposta na reversão da sentença ou em uma eventual anistia forjada a partir do Congresso Nacional. Ele também se coloca como candidato a um novo mandato, certo de que estará habilitado em 2026, o que o leva a recusar a nomeação de qualquer outro nome.
As ruas, no entanto, têm uma outra leitura. Os pesquisadores perguntaram se Lula deve tentar um quarto mandato e se Bolsonaro deve ser o seu antagonista no próximo pleito. Para 62% dos entrevistados, Lula deve encerrar sua carreira no ano que vem, dando espaço para uma nova opção. Enquanto isso, 65% disseram que Bolsonaro deveria abrir mão da candidatura e apoiar um outro nome da direita.
O pano de fundo é o cansaço com a polarização que, desde 2016 (com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos), vem dividindo o país, com repercussões até mesmo nas famílias. Parentes foram apartados em nome de um viés ideológico que ganhou corpo em 2018, com a eleição de Bolsonaro e reafirmado quando Lula e Bolsonaro se enfrentaram em 2022.
Outro dado não da pesquisa, mas das especulações, passa pelos demais atores políticos, cujas pretensões ao comando do país dependem, de novo, de Lula e Bolsonaro. No campo da esquerda, por conta de Lula enfatizar que ele é o nome, o cenário é de orfandade, salvo alguns momentos em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é citado como eventual sucessor. Ele, no entanto, precisa, primeiro, convencer o campo petista, o que até agora não foi possível ante alguns momentos errantes de sua gestão.
Mas se faltam nomes na esquerda, a direita é pródiga em pré-candidatos menos tímidos do que seus concorrentes. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, já se lançou candidato, mesmo diante da resistência de Bolsonaro; o governador de Minas, Romeu Zema, deve fazer o mesmo em setembro. Ambos, porém, na mesma pesquisa da Genial/Quaest, estão no campo de um dígito na preferência dos eleitores.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é o nome mais citado, mas ele – de forma estratégica – não anuncia a pretensão, mas não desmente quando entra na lista dos cotados. Sua principal concorrência está não apenas no Bolsonaro Jair, mas também em Michele, a ex-primeira-dama, que ocupa a segunda posição em um empate mais do que técnico, com apenas um ponto percentual de diferença.
No velho jargão da política, há muita água para passar sob a ponte, mas o jogo já está sendo jogado. Embora as pesquisas apresentem seus recados, o eleitor ainda verá ações de um resistente Lula e de um insistente Bolsonaro em se manter em evidência.
Os muitos pré-candidatos da direita, certamente, estarão em campo, mas discretos para não queimar etapas. Os atores da esquerda esperam a palavra de Lula. Quanto mais ele atrasar sua decisão, maior será a incerteza, sobretudo se deixar para o final do jogo uma decisão definitiva. Se for candidato, já tem o atual mandato. Se não for, será um salve-se quem puder em busca de um consenso e com poucas opções.
O post Recados das ruas apareceu primeiro em Tribuna de Minas.