A Polícia Civil de São Paulo abriu um inquérito para investigar o jornalista Luiz Vassallo, do portal Metrópoles, após a publicação, em março deste ano, de reportagens sobre o patrimônio milionário do delegado Fábio Pinheiro Lopes, conhecido como Fábio Caipira, ex-diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Em nota, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiou a abertura do inquérito, classificada como uma reação de um delegado incomodado com uma reportagem de interesse público. “Trata-se de uma tentativa evidente de intimidação e censura, que agride frontalmente a liberdade de imprensa e o direito da sociedade à informação”, diz o texto.
O inquérito foi instaurado pela Divisão de Crimes Cibernéticos, subordinada ao Deic. A notificação recebida por Vassallo não identificava o delegado responsável, tampouco informava se o jornalista seria ouvido como testemunha ou investigado.
Na última terça-feira, 3, Vassallo foi intimado a “prestar esclarecimentos” nesta quinta-feira, 5, na 2ª Divisão de Crimes Cibernéticos. O documento não especifica o motivo da investigação e apenas cita o número do inquérito, acrescentando que “o não comparecimento estará sujeito às penas previstas no artigo 330 do Código de Processo Penal” (desobediência a ordem legal).
“É muito comum que pessoas descontentes nos processem, inclusive no criminal. Mas essa é a primeira vez que me encontro nessa condição: um inquérito sobre crime contra a honra sendo apurado por uma divisão especializada em “Crimes cibernéticos” , que usualmente apura fatos bem maiores. Em inquérito, ao contrário da ação penal privada, delegados podem nos investigar. Podem, se quiserem, pedir até medidas cautelares. Ou, como foi feito, pedir um interrogatório seu sem você sequer saber que é investigado para daqui a dois dias”, destacou Vassallo em seu perfil no X. Ele foi procurado, mas não quis se manifestar além do que já havia publicado nas redes.
Segundo o Metrópoles, a apuração policial teve início após reportagens que revelaram que Fábio Caipira blindou cerca de R$ 10 milhões em patrimônio, incluindo fazendas, por meio de uma empresa de sociedade anônima, depois de ter sido citado em delação premiada por de Vinícius Gritzbach, o delator do Primeiro Comando da Capital (PCC) assassinado no Aeroporto de Guarulhos, em novembro de 2024. O inquérito sobre este caso foi arquivado.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que o inquérito contra o jornalista se refere à apuração de uma suposta prática de crime contra a honra, registrada e formalmente representada por Fábio Caipira na Divisão de Crimes Cibernéticos.
Até a publicação deste texto, o delegado não havia sido encontrado pela reportagem do Estadão para se manifestar. O espaço segue aberto.
“De acordo com a legislação vigente, uma vez comunicada a possível ocorrência de delito, cabe à autoridade policial adotar as providências legais cabíveis para a devida apuração dos fatos, observando o devido processo legal e os princípios que regem a investigação criminal”, diz o texto.
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