
Desde o seu lançamento, em 2010, o iPad rapidamente se firmou como uma das experiências mais agradáveis e intuitivas para o consumo de conteúdo digital. Sua leveza, aliada à fluidez do iOS — hoje —, proporcionou uma forma mais natural de ler, assistir, navegar e explorar informações em qualquer lugar.
Com o passar dos anos, porém, o iPad buscou ir além do papel de dispositivo passivo. A Apple passou a posicioná-lo como uma ferramenta versátil, capaz não apenas de entreter, mas também de permitir a criação e a produtividade, almejando ocupar o espaço do computador tradicional em diversos contextos profissionais e educacionais.
Essa jornada de evolução aconteceu de maneira gradual, mas determinada. A chegada do Apple Pencil, em 2015, abriu portas para designers, ilustradores, arquitetos e até educadores. O salto real, no entanto, se deu por duas iniciativas fundamentais:
- O lançamento de um novo sistema operacional, o iPadOS, com características adicionais ao iOS.
- A evolução dos teclados para o tablet.

Apesar dos avanços significativos ao longo dos anos, a promessa do iPad como único dispositivo de trabalho nunca se concretizou plenamente. Curiosamente, o teclado — que em determinado momento foi celebrado como o catalisador dessa transformação — acabou assumindo o papel de obstáculo.
Pesado, conceitualmente ultrapassado e com um preço que ultrapassa até os já altos padrões da Apple, o Magic Keyboard se tornou o maior símbolo das limitações da empresa em levar o iPad a um novo patamar de inovação. Para entender como chegamos até aqui, vale revisitar essa trajetória.
iPad: de “iPhone grande” a símbolo da era pós-PC
Quando Steve Jobs apresentou o iPad, uma multidão ovacionou o lançamento — e logo se consolidaram os fãs e haters.
Para os fãs, o iPad foi visto como uma das maiores inovações tecnológicas da década, chegando para revolucionar o mercado. Para os haters, não passava de um iPhone grande e desajeitado. Apesar de pertencer ao primeiro grupo, preciso admitir que, à primeira vista, o segundo grupo parecia estar mais certo.

No decorrer dos anos, o tablet foi se aprimorando e deixando de ser exclusivo para o consumo, passando a ser uma ferramenta para produção de conteúdo e uso profissional. O lançamento do iPad Pro marcou o início dessa nova era em busca de se tornar uma opção ao computador como equipamento principal da maioria das pessoas.
A ideia foi reforçada por Tim Cook, ao declarar de maneira ousada no lançamento do iPad de terceira geração (em 2012):
Acreditamos que o iPad é o símbolo da era pós-PC.
O CEO 1 afirmou ainda que o iPad estava reinventando a computação portátil e liderando essa revolução pós-PC, surpreendendo até mesmo a própria Apple com seu sucesso.
No lançamento de 2015, Cook voltou a provocar de maneira triunfante:
Acredito que, se você está pensando em comprar um PC, por que compraria um? Sério, por que compraria um? Sim, o iPad Pro é um substituto para um notebook ou desktop para muitas, muitas pessoas. Elas começarão a usá-lo e concluirão que não precisam mais usar nada além de seus telefones.
Com o iPadOS ganhando recursos como multitarefa real, suporte a mouse e gerenciamento avançado de arquivos, a criação textual e produtiva passou a fazer mais e mais sentido. Mas digitar longos textos na tela não é a melhor experiência. Foi aí que os teclados ganharam cada vez mais protagonismo.
Eu mesmo, como já comentei em posts anteriores, tentei me esforçar por algum tempo para usar apenas o iPad e deixar de lado o computador, utilizando apenas quando trabalhando em casa. Mas o esforço desprendido era tanto que acabei voltando a ter um MacBook como principal aparelho.
Parece que a Apple percebeu isso, pois já faz algum tempo que a ênfase na “era pós-PC” foi deixada de lado. Desde 2017, a Apple tem se afastado da narrativa de que o iPad substituirá completamente o PC, optando por posicioná-lo como parte de um ecossistema mais amplo de dispositivos que trabalham juntos para oferecer uma experiência de computação integrada e flexível.
Por que a Apple falhou em tornar o iPad um sucessor dos computadores? A resposta pode estar em seus teclados.
Do Keyboard Dock ao Magic Keyboard
A primeira tentativa de um teclado prático e viável para iPad foi o Apple Keyboard Dock, em 2010. Embora limitado em mobilidade, sendo voltado para uso em mesa, ele oferecia uma experiência de digitação confortável, mas sem possibilidade de se usar também um mouse ou um trackpad.
Com o lançamento do iPad Pro, a Apple apresentou o Smart Keyboard: leve, dobrável e conectado via Smart Connector. Apesar da ausência de retroiluminação e trackpad, era uma solução prática para digitação em movimento.
Em 2018, o iPad Pro foi totalmente redesenhado e, com ele, veio uma nova versão de teclado: o Smart Keyboard Folio. Como uma evolução do modelo anterior, o novo teclado oferecia proteção frontal e traseira, além de dois ângulos de visualização. Ainda assim, carecia de retroiluminação e trackpad, limitando a sua funcionalidade para tarefas mais complexas.
Em 2019 chegou o iPadOS, e com ele uma nova perspectiva para o tablet. Com um sistema operacional mais fluido, o iPad também precisava de novos periféricos para explorar a sua evolução, e logo se percebeu que o Smart Keyboard Folio não era suficiente para essa nova fase, dando espaço para o surgimento do Magic Keyboard.
Como foi usar o iPad Pro com Magic Keyboard por alguns dias
Lançado em 2020, o novo acessório trouxe uma experiência de digitação aprimorada, com teclas retroiluminadas, trackpad integrado e um design flutuante que ajustava o ângulo de visualização. Esse teclado transformou o iPad em uma ferramenta muito mais próxima à de um laptop, exponenciando as suas possibilidades de uso. Embora com custo elevado, aumento significativo no peso total do dispositivo e acabamento questionável, o Magic Keyboard se tornou o símbolo de uma nova era para o tablet mais desejado do mundo.
As coisas começaram a parecer estranhas quando, em 2022, no lançamento do iPad de 10ª geração (tablet de entrada e com preço menor), foi apresentado o Magic Keyboard Folio. Dotado de um design modular com teclado destacável e suporte ajustável, esse acessório trouxe, pela primeira vez, uma fileira de teclas de função, incluindo esc, oferecendo maior controle ao usuário. O iPad mais barato passou a oferecer, como opção, um teclado mais completo e exclusivo, sem possibilidade de uso no iPad Pro.
Magic Keyboard para iPad Pro M4
Em 2024, a Apple fez a maior revolução desde 2018. A nova geração do iPad Pro chegou com um design ultrafino, tornando-se oficialmente o dispositivo mais fino já criado pela Apple, com inacreditáveis 5,1mm de espessura — essa conquista superou até mesmo o iPod nano de 7ª geração, que anteriormente detinha o título de produto mais fino da empresa.

O iPad Pro veio equipado com o poderoso M4, uma CPU 2 até 50% mais rápida e uma GPU 3 até 4 vezes mais potente que o chip M2, além da tela Tela Ultra Retina XDR, uma tela OLED 4 com brilho de até 1.000 nits e pico de 1.600 nits para conteúdo HD. Um produto inacreditavelmente poderoso, inacreditavelmente leve e fino.
Novos produtos exigem novos acessórios, e a Apple lançou um novo Magic Keyboard — anunciado como mais fino e leve, com teclas de função e um trackpad maior, aprimorando a experiência de uso.
Como devoto fiel do iPad, eu vinha bastante incomodado com meu Magic Keyboard — especialmente com o peso e o acabamento. Logo após o lançamento do iPad Pro (M4), encomendei o meu com o novo teclado que, embora nas imagens parecia muito semelhante, prometia um redesign para ser mais fino, mais leve e mais eficiente.
Após a aquisição, vivi alguns dias de ansiedade até conhecer pessoalmente as novas versões dos produtos. Quando cheguei na loja e peguei o novo iPad pela primeira vez, nem parecia real. Ele era ainda mais fino e leve do que eu havia imaginado! Fiquei imediatamente encantado, de verdade. Mas, logo em seguida, veio a decepção…
Quando vi o novo Magic Keyboard na loja, pensei que ele era o antigo, que ainda estava disponível para compra. Era muito difícil diferenciar os dois modelos, mesmo com as melhorias prometidas no lançamento. Mas ainda ficaria pior: ao manusear o novo teclado, ele se mostrou praticamente do mesmo peso que o anterior; o aumento do trackpad foi quase imperceptível; ele trouxe as mesmas falhas de design, mau acabamento e diferenças mínimas na composição das teclas; em sua “evolução”, ele ficou apenas 19 “insignificantes” gramas mais leve.
Que erro fatal! O aparelho mais fino da história da empresa, com um potencial imenso de adoção devido à praticidade/portabilidade, foi assassinado por um teclado ultrapassado e de design pobre. Se não bastasse tudo isso, o teclado continuou com um preço surreal (US$300 para o modelo de 11″ e US$350 para o 13″ — o preço de um iPad de entrada).
Na tabela a seguir, temos uma pequena comparação entre as opções de teclado para iPad já lançadas.
Teclado | Trackpad | Retroiluminação | Teclas de função | Peso (aprox.) |
---|---|---|---|---|
Apple Keyboard Dock | ![]() |
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510g |
Smart Keyboard | ![]() |
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230g |
Smart Keyboard Folio | ![]() |
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297g |
Magic Keyboard | ![]() |
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601g (11″) 710g (12,9″) |
Magic Keyboard Folio (2022) | ![]() |
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449g |
Magic Keyboard (2024) | ![]() |
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582g (11″) 660g (13″) |
Qual o sentido de se criar um iPad tão leve e fino, mas manter o seu principal acessório praticamente igual ao da versão anterior? Como justificar um teclado, no qual o design foi visivelmente ignorado em função da funcionalidade, continuar sendo um empecilho para a decolagem do iPad? São perguntas que não parecem ter uma resposta óbvia e aceitável.
Conclusão
O Magic Keyboard para iPads Pro (M4) é a evidência clara de uma Apple que se esqueceu do seu DNA inovador e da sua busca pelo design impecável. Um produto, como citado anteriormente, antiquado, mal acabado e desajeitado. Um acessório tão mal feito, ofuscando o melhor de todos os iPads.
Apesar de ainda atrair uma legião de usuários fiéis — como eu —, o iPad sofre de uma indecisão estratégica: não sabe se quer ser um tablet criativo, um híbrido portátil ou um substituto real de laptop. E, nesse impasse, os acessórios deveriam ser o fio condutor da evolução, não o entrave. O Magic Keyboard, especialmente na sua versão mais recente, simboliza essa falta de ousadia. A Apple, que um dia inspirou o mercado com a obsessão por design funcional e revolucionário, parece hoje confortável com o mínimo aceitável.
Se a empresa quiser que o iPad retome a sua posição de liderança visionária, precisa olhar com mais seriedade para quem o utiliza como ferramenta de trabalho. A inovação não está apenas no chip M4 ou na tela OLED, mas também na experiência completa de uso — e nisso, o teclado é parte central. Enquanto o iPad continuar preso a acessórios que pesam mais do que impulsionam, seguirá sendo uma promessa de futuro com os pés ancorados no passado.
iPads Pro
de Apple
Preço à vista: a partir de R$11.699,10
Preço parcelado: a partir de R$12.999,00 em até 12x
Tela: 11 ou 13 polegadas
Cor: prateado ou cinza-espacial
Capacidade: 256GB, 512GB, 1TB ou 2TB
Conectividade: Wi-Fi ou Wi-Fi + Cellular
Magic Keyboard para iPad Pro
de Apple
Preço à vista: a partir de R$2.969,10
Preço parcelado: a partir de R$3.299,00 em até 12x
Tamanhos: 11 ou 13 polegadas
Cores: branco ou preto
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